segunda-feira, 25 de março de 2013
Funarte reconhece "necessidade de mudança" em edital para negros. FOLHA SP 24.03
A Funarte (Fundação Nacional das Artes),
instituição ligada ao Ministério da Cultura, emitiu nota neste sábado (23)
assinada por seu presidente, Antonio Grassi, reconhecendo "necessidades de
mudança" no "Prêmio Funarte de Arte Negra", edital destinado ao
incentivo da produção de artistas negros.
A nota foi enviada após publicação de reportagem na
edição deste sábado da Folha, revelando que um projeto com direção do dançarino
Irineu Nogueira, que se autodeclara negro, fora negado por ser representado
pela Cooperativa Paulista de Dança, cujo presidente, Sandro Borelli, se
autodeclara branco.
O texto do edital diz que, no caso de
representações por pessoas jurídicas, só estão aptas a participar do prêmio
"instituições privadas cujo representante legal se autodeclare
negro".
"A Funarte reconhece a necessidade de mudanças
e estará recebendo projetos representados por cooperativas e que atendam aos
requisitos do regulamento", diz a nota.
"Como se trata de uma experiência inédita, as
próximas edições iriam aperfeiçoar e corrigir esses detalhes", prossegue
Grassi.
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CHIQUINHO DA UNB »
Aventuras do livreiro solitário. CORREIO BSB 25.03.13
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Há mais de 30 anos, Chiquinho abastece alunos e
professores da UnB com a sabedoria e o conhecimento dos livros. Mas até agora
não conseguiu comprar uma casa. Mora de aluguel em Sobradinho, cercado de obras
e de mais de 500 autógrafos importantes
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Chico e Cláudia, casados há 22 anos, dois filhos e
uma fartura de livros guardados em casa: na sala, na sala de jantar, na
varanda, na área de serviço
O acervo tem obras da área de humanas publicadas
nos últimos 30 anos. Na memória do livreiro, Darcy, Mandela, Saramago, Cora
Coralina
Foi o jornal que conduziu o piauiense Francisco
Joaquim de Carvalho para a leitura densa e prolongada dos livros. O jovem
Chiquinho saía pelas quadras de Sobradinho oferecendo seu produto, folhas de
papel transmitindo as notícias do mundo. Rapidamente, o jornaleiro aprimorou a
velha técnica de gritar as manchetes aos ventos. Aproximava-se dos possíveis
clientes e avisava-os de que na edição daquele dia havia assuntos de seu
interresse. “Se o cara da farmácia gostava de futebol, eu dizia que tinha
notícia do Pelé, por exemplo. Se o da padaria gostava de religião, eu contava
que o jornal estava cheio de matérias sobre o papa. Se o outro se interessava
por violência, eu mostrava a página de polícia.”
Logo, a técnica mambembe se mostrou extremamente
bem-sucedida. Chiquinho ganhou uma bicicleta por ter sido o jornaleiro que mais
vendeu exemplares num só mês, 500. O número era razoável para a modesta
publicação, o Diário de Brasília, já extinto. Pouco tempo depois, foi trabalhar
com dona Chica, dona da banca de revistas da Universidade de Brasília. O
adolescente de 15 anos chegava à UnB às 6h, punha cem exemplares de jornal na
cabeça e ia para a entrada norte do Minhocão esperar pelos alunos, professores
e funcionários da universidade. Vendia o Correio Braziliense, a Folha de S.
Paulo, o Jornal do Brasil, o Estadão e os periculosos O Pasquim, Coojornal,
Opinião e Movimento, tabloides que enfrentavam o regime militar.
Eram anos de chumbo, mas o garoto vindo de Picos
para Brasília aos 8 anos nem se dava conta da gravidade do momento. “Se o
pessoal da ditadura me prendesse, eu não ia nem saber por que estava sendo
preso.” Viriam mais perigos pela frente. Depois de quatro anos na banca da dona
Chica, Chiquinho foi trabalhar na memorável Livraria Galilei, no Conic, ponto
de encontro de intelectuais de esquerda. No dia do lançamento do livro de um
anistiado político, a livraria recebeu um telefonema avisando que havia duas
bananas de dinamite. A polícia foi chamada, e os explosivos, localizados.
Àquela altura, Chiquinho já estava fisgado pelas
letrinhas impressas. Mas foi o contato intenso com o então editor da revista
Víbora, Nelson Abrantes, que deu contornos definitivos ao destino do futuro
livreiro. “Ele falava tanto de livros, o dia inteiro, que eu tinha pesadelos à
noite.” Quando saiu da livraria de Abrantes, Chiquinho já estava preparado para
ser um livreiro. Teve a ideia de voltar ao colo da UnB. Comprou um pequeno
estoque de livros, bateu à porta do Centro Acadêmico de Economia e pediu para
guardar na sala do CA seu modestíssimo acervo. Durante o dia, saía vendendo as
obras de mão em mão e pegando encomenda de novos títulos. Até que mudou a
gestão do centro acadêmico e o livreiro ambulante perdeu o lugar.
O desabrigo durou pouco. Algum tempo depois, Chico
conseguiu o quiosque onde está até hoje. São 34 anos de militante convivência
com alunos e professores. Muitas livrarias do Plano Piloto abriram e fecharam,
e a Livraria do Chico continua a resistir à concorrência desigual das grandes
redes. “O que me segura no mercado é estar dentro da UnB, mas é também a
solidez da clientela que está comigo há mais de 30 anos e a prestatividade que
dedico a eles.”
O livreiro
solitário é um dos melhores profissionais do ramo em Brasília, senão o melhor. Portador
de um diploma de segundo grau, Chiquinho cumpre um roteiro de leituras que o
mantém antenado com as novidades do mercado editorial sem precisar ler os
livros. No sábado, ele rastreia os cadernos de Cultura dos principais jornais
do país, que compra do próprio bolso. Também acompanha revistas semanais, que
ele não compra, folheia na banca de um amigo.
Se não sobra dinheiro para aquisições culturais,
também ainda não foi possível comprar a casa própria. Chiquinho mora de aluguel
em Sobradinho, cidade de onde nunca saiu desde que chegou a Brasília, em 1968,
com a mãe, os tios e sete irmãos , vindos de pau-de-arara. “É o amor que me
mantém na profissão, não é o lado econômico.” A casa da QI 1 guarda a história
do livreiro, obras que restaram de mais de três décadas de lançamentos no
mercado editoral brasileiro. No meio delas, muitas vezes perdidos, estão os
livros autografados, esse sim o grande tesouro do livreiro.
Chiquinho não deixa por menos: “Depois de José
Mindlin (o mais célebre bibliófilo brasileiro, morto há três anos), eu sou o
que mais tem autógrafos no Brasil”. É exagero, por certo, mas não deixa de ser
verdade para esse quixotesco vendedor de livros. Da lista de dedicatórias
guardadas na casa de Sobradinho constam assinaturas de José Saramago, Edgar
Morin, Jean Baudrillard, Anthony Giddens, Cora Coralina, Tariq Ali, Slavoj
Zizek, Caetano Veloso, Milton Santos, Paulo Bertran, Glauco Mattoso. Teve livro
publicado e pisou na UnB, Chiquinho corre atrás do autógrafo, com a sede de um
perdido no deserto. “Vi o David Byrne em Paraty. Fiquei bem na frente dele, com
a maior vontade de comprar o livro dele (Diários de bicicleta), mas não tinha
dinheiro. Foi igual estar diante de uma torneira, com sede, e não poder beber
água.” Às vezes, não é necessário um livro para se sentir saciado: ter estado
com Darcy Ribeiro e com Nelson Mandela, por exemplo, está na lista do que de
melhor já lhe aconteceu na vida de livreiro. “Não tem preço”, repete.
Cada dedicatória é uma aventura, um causo que
Chiquinho tem para contar. Quando Samarago foi receber o título de doutor
honoris causa na UnB, em 1997, o livreiro montou sua banquinha na entrada do
auditório. Nisso, reconheceu o editor da Companhia das Letras, Luiz Schwarcz, a
quem nunca tinha visto pessoalmente. “Luiz, ô, Luiz…, vem cá. Acho uma
sacanagem histórica o que estão fazendo comigo. Estou aqui há mais de 20 anos e
vem a editora e monta uma banca oferecendo os livros com desconto.” O poderoso
editor pegou o livreiro pela mão e saiu cortando caminho até onde estava o
Prêmio Camões de Literatura. Apresentou Chiquinho a Saramago e à sua mulher,
Pilar del Rio: “Este é o melhor livreiro de Brasília.” Pronto. Tudo resolvido.
Um dos mais recentes autógrafos da coleção de Chico
é do filósofo esloveno Slavoj Zizek, que esteve na UnB dia 12 último para uma
conferência. Como de hábito, o livreiro montou sua banquinha nas proximidades
do evento. “Os meninos vinham me perguntar se eu tinha o livro, antes de ir
procurar na banca que a editora tinha montado. Essa fidelidade não tem preço.”
Mas não é Zizek, o filósofo pop, quem faz a cabeça do livreiro. “Gosto do
Heráclito e do Kierkegaard”, dos quais leu fragmentos.
Chico é assim: faz banquete com um ovo. Conhece os
bastidores do mercado editorial brasileiro, sabe a história dos principais
editores do país e cita José Olympio quando tenta projetar seu futuro de
livreiro. “Ele foi, editorialmente, o homem mais importante do Brasil, era
amigo de ministros e presidentes da República. A partir dos anos 1980, começou
a enfrentar dificuldades e não conseguiu deixar um sucessor.” Chiquinho quer
trabalhar até quando a velhice deixar. “E vou tentar ver se a Bruna (a filha
mais velha, 20 anos), dá uma continuidade.” Na casa superlotada de livros da QI
1, só um dos moradores é apaixonado pelos livros. A filha, estudante de Serviço
Social, começa a se interessar pela leitura acadêmica; o filho de 12 anos,
Lucas, ainda não descobriu o gosto pelas histórias mágicas contidas nas
casinhas de papel, e a mulher, Cláudia, não disfarça: “Detesto ler”.
O livreiro sorri, sorriso conformado. “Acho que vai
ter um apagão cultural no Brasil por causa da internet. Ela é uma realidade
fragmentada. A modernidade é uma falsa realidade. Não sei nada de internet. Não
tenho computador nem celular.. Antes, os meninos iam pra rua brincar. Hoje cada
um fica no seu quarto com um computador”.
Chiquinho também não tem carro. Carrega seus livros
nos precários ônibus que o conduzem à UnB. Para o livreiro, pouco importa. Está
cercado de livros, em casa (na sala, na sala de jantar, na varanda, na área de
serviço, todos esses cômodos guardam os
tesouros de Chiquinho). Ao todo, estima, são 5 mil exemplares, somando
os da livraria e os de casa. E perto de 300 clientes, entre os habituais e os
intermitentes. “São pessoas que, se eu estiver no desespero e ligar oferecendo
livros, eles vêm comprar. Esse reconhecimento não tem preço.”
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Escritora brasiliense é selecionada para expor obras na Feira de Bolonha. A feira italiana é tida como uma das maiores exposições de literatura
infantil no mundo. Com a indicação, Nurit Bensusan abre caminho para a
literatura brasiliense. Correiio Bsb 25.03
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"Estar lá é super importante", comemora a
bióloga Nurit Bensusan
Os livros Labirintos – Parques nacionais e Quanto
dura um rinoceronte?, da bióloga Nurit Bensusan, foram selecionados pela
Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil (FNLIJ) para representar Brasília
durante a 50ª edição da Feira de Bolonha, uma das mais tradicionais feiras de
livros infantis do mundo.
A FNLIJ selecionou 181 obras de autores brasileiros
para integrar o catálogo que será exposto entre 25 e 28 de março na Itália. Para
Nurit, a oportunidade não representa apenas o reconhecimento do trabalho.
“Estar lá é super importante. Ter meus livros dentro do conjunto escolhido pelo
Brasil é muito legal, mas a ideia é que ali aconteçam outras oportunidades,
como a tradução da obra para outras línguas”, explica.
Leia mais notícias em Diversão & Arte
Para a autora, um dos fatores importantes na
exposição é que, apesar de serem escritos em linguagem infantil, os livros
escolhidos retratam um viés pouco explorado na literatura para crianças. “O
interessante é que os dois livros escolhidos não são de ficção. A ideia desses
livros passa pela popularização da ciência”, destaca.
Além das exposições de obras literárias voltadas ao
público infantil, a feira conta com reuniões, debates e palestras, entre outras
atividades. Com a indicação, Nurit abre caminho para a literatura infantil
brasiliense em uma temática que tem figurado de forma cada vez mais importante
no gênero literário: a sustentabilidade e o meio-ambiente.
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Eça e a política
Mário Teles de Oliveira, um dos intelectuais da
Câmara dos Deputados, muito amigo do ex-deputado Gilberto Freire, rememorou, no
Voz Ativa, boletim dos funcionários daquela Casa, o pensamento de Eça de
Queiroz sobre a política portuguesa. Correiio
Bsb 25.03
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Não poderia ser mais oportuno repetir ideias e
situações portuguesas, no Brasil de hoje, como o nosso mensalão, o escândalo
mais espetacular da história política brasileira. Correiio Bsb 25.03
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A revista Veja, em edição recente, falou de
políticos brasileiros que, há poucos anos, ficaram miliardários com a política,
mas hoje, no governo da presidente Dilma, eles não são incomodados, por
curiosidade alguma, nem precisam esclarecer o milagre de como conseguiram ficar
mais ricos do que aquele deputado baiano ganhador, várias vezes, na Loteria
Esportiva.
De Eça, nos Maias, os políticos eram considerados
tão sujos nas roubalheiras, que ninguém na sociedade portuguesa se atrevia a
ficar perto de um deles. Os crimes cometidos exalavam cheiro insuportável, o
que acontece hoje no Brasil. Mário Teles termina: “Sábio e indignado, Eça! O
que dirias tu, passado um século dos Maias, se brasileiro fosses e vivesses em
Brasília?” O que diria o brasiliense, cada vez mais indignado, com os fatos
ocorridos na atual legislatura?
De minha parte, morador em Brasília há mais de 50
anos, recomendaria, cordialmente, à presidente Dilma Rousseff para livrar-se
dos maus aliados que maculam o seu governo, envergonham o povo brasileiro e
pilham o Tesouro Nacional.
Ao menos assim, seriam justificados os esforços que
a presidente faz para a reeleição. Não se trata de conselho. Da parte do
jornalista, que não elogia, mas critica o que lhe parece errado. À presidente,
tudo pode parecer certo. Mas quase todos os governantes derrubados de seus
postos no Brasil não saíram por ser perfeitos. Fala-se, nas hostes mais
extremadas do PT, segundo Veja, na candidatura de Lula à Presidência da
República, em 2014. É a forma de mostrar, aos que eles dizem ser direitistas,
como se governa um país. Será? Foi com Lula que aconteceu o mensalão.
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Água viva!
Exposição com 23 artistas no Museu Nacional da
República alerta para a proteção dos recursos hídricos n o mundo. CORREIO BSB
25.03
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Regina Vater
colheu a chuva para criar a escultura
Garrafas com água poluída de José de Quadros
O amazonense Barroncas trouxe água do Norte
Canela-de-ema e água cristalina na imagem poética
de Glênio Lima
As águas do Guaíba lembram o sul na obra de Maria
Tomaselli
A presença constante e natural da água no cotidiano
não ajuda a perceber este elemento vital como algo extraordinário, e a
perspectiva de que, em 2025, cerca de metade da população mundial sofra com a
falta desse líquido sempre parece algo muito distante. O artista Bené Fonteles
não gosta muito dessa postura um tanto alheia à natureza finita dos recursos
hídricos. A arte pode até não mudar o cenário, mas ajuda a chamar a atenção e é
exatamente esse o propósito de Fonteles com Encontro das águas II. Em cartaz no
Museu Nacional da República, a obra consiste em uma estrutura de PVC na qual
estão penduradas esculturas de 23 artistas de todo o Brasil que usaram a água
de maneira simbólica, poética ou literal para falar de um problema mundial.
Encontro das águas II é o ponto de partida para uma série de
eventos programados para este ano pela Agência Nacional de Águas (ANA) e pela
Rede Internacional de Estudos e Ações Transdisciplinares da Água (Reata), incluindo
a exposição Água e cooperação no século 21, ainda sem data de abertura. Ao
idealizar a escultura, Fonteles deu inteira liberdade aos artistas para criarem
as obras. A única condição era que, de alguma forma, elas contivessem o
elemento temático.
Alguns, como a gaúcha Maria Tomaselli, levaram um
tempo até cair a ficha de que seria necessária a presença física da própria
H2O. Outros, como os goianos Glênio Lima e Elyeser Szturm, cujos trabalhos têm
profunda ligação com o meio ambiente, não tiveram dúvida em aproveitar a
oportunidade para evocar o bioma local. “Nossa ideia era criar um fato que
divulgasse a questão”, explica Fonteles. “Nossa escultura é uma forma de chamar
a atenção para essa realidade.”
Dificuldade
A torre de quatro metros de altura idealizada para
o Museu Nacional da República funciona como um grande cabide, um suporte para
um encontro das águas de todo o Brasil.
E como o país anda a estreitar relações com a
Índia, o encontro é também com águas do Ganges. Do Lago Paranoá, André
Santangelo trouxe a água que molha as camisas penduradas na escultura. A
paisagem do lago aparece com certa frequência no trabalho do artista. “Tenho
essa percepção da importância da água no meio de tudo. O trabalho é uma
metáfora, uso mais o lado poético do que o lado político. Me incomoda em Brasília
a dificuldade de acesso ao lago”, diz.
A poesia e a melancolia estão no trabalho de
Elyeser Szturm, que guardou um frasco de água do Rio Tocantins colhida antes do
local ser invadido pela Represa Serra da Mesa. Já Glênio Lima quis buscar a
pureza das nascentes do cerrado e juntou dezenas de tubos de ensaio preenchidos
com água cristalina do Córrego Dois Irmãos, na Chapada Imperial. Luiz Gallina
também fez do bioma local um motivo. No quintal da própria chácara, ele
encontrou a água do Riacho Taboquinha e um pedaço de uma sucupira para criar a
escultura. “É uma batalha antiga nossa. De um lado, você tem os ecologistas,
querendo preservar. Do outro, os fazendeiros, querendo destruir. O que nós,
artistas, podemos fazer é colocar o tema em pauta. É um trabalho de
formiguinha”, explica Gallina, integrante do movimento Artistas pela natureza.
Chuva
Do Amazonas veio o trabalho de Eliberto Barroncas.
Ele viajou ao ponto de encontro entre os rios Negro e Solimões e trouxe de lá a
água usada no trabalho, um símbolo da diversidade do país. O problema da
poluição guiou o paulista José de Quadros pelas águas contaminadas dos rios
Pardo, Ipiranga e Tamanduateí. Isolado em garrafas pet, o líquido contrasta com
desenhos do livro História verídica, de Hans Staden, riscados no plástico das
vasilhas. A natureza exuberante que encantou o alemão virou sujeira na versão
do paulista. Regina Vater, do Rio de Janeiro, recorreu à ciência para refletir
sobre um possível (e triste) futuro: se já choveu em Marte e não chove mais, o
que poderá acontecer com as chuvas terrestres?
Durante o processo de criação das obras, cada
artista dividiu suas experiências com o público e amigos nas redes sociais. “E
isso está gerando uma discussão. Eles colocaram o que observaram pelos locais
pelos quais passaram”, explica Fonteles. “É importante refletir sobre o
encontro das águas no Brasil e essa exposição chama a atenção para isso, mas
não espero nada mais do que mexer um pouco com a concsiência das pessoas.”
Encontro das águas II
Exposição com curadoria de Bené Fonteles. Visitação
até 28 de abril,de terça a domingo, das 9h às 18h30, no Museu Nacional da
República (Setor Cultural Sul, Lote 2)
18%
Da água doce renovável do planeta circula pelo
Brasil
» Depoimentos dos artistas
André Santangelo
No caso específico desta obra continuo a utilizar a
“água” a partir do seu estado físico e essencial, levando esse elemento para o
plano simbólico. O encantamento com o Lago, com o navegar, com a sua história,
o cuidado e o acesso a ele, são questões que primeiramente motivam a sua
recorrente abordagem.
José de Quadros
Meu trabalho é feito com as águas poluídas dos rios
Pardo, Ipiranga e Tamanduateí em São Paulo. Os desenhos sobre as garrafas de
pet são baseados no livro Historia verídica de Hans Staden. São meus “poemas”
flutuando nas garrafas do rios.
Glênio Lima
Pedi licença ao rio e levei em uma garrafinha uma
pequena mostra do precioso líquido. Com a matéria prima em mãos, preenchi
pequenos tubos de ensaio com a água e pendurei em uma canela-de-Ema queimada e
morta, encontrada bem próximo a Brasília. Creio que o contraponto da ideia
entre a vida e a morte traduz a minha ideia provocativa de uma reflexão em
torno do conceito de permanência.
Maria Tomaselli
Levei um tempo até que caiu a ficha: que era para
mandar água mesmo, e não algo feito com água. Catei água de um arroio afluente
do rio da minha cidade, o rio Guaíba, de Porto Alegre. Esse gesto fez toda a
diferença: a presença física da água, ela mesma, não ela servindo para alguma
coisa. A estrutura proposta por Bené passa isso. A água na nossa frente, a água
sendo carregada, mandada, empacotada, despejada, exposta. A água pedindo
socorro.
Revitalização
Coordenador do movimento Artistas pela natureza,
Bené Fonteles realiza o projeto pela segunda vez. A primeira edição de Encontro
das águas aconteceu em João Pessoa (PB), em 1998. O movimento foi criado em
1987 por um grupo de artistas comprometidos com valores ambientais e dispostos
a fazer da arte um veículo para falar das mazelas do planeta. Desde então, o
movimento conseguiu, graças a ações de militância, façanhas como a reabertura
do Parque Nacional da Chapada dos Guimarães, a suspensão da caça às baleias na
Paraíba e a organização de uma campanha de revitalização do rio São Francisco.
Artista plástico, compositor e escritor, Fonteles sempre esteve muito ligado em
ecologia e muitos de seus trabalhos têm profunda relação com a história social
do homem e sua relação com a natureza. Paraense de Bragança, ele é também autor
de livros sobre artistas brasileiros como Giluminosos — a poética do ser, sobre
Gilberto Gil, e O artista da luz, sobre Rubem Valentim.
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