quarta-feira, 2 de dezembro de 2009


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Grandes empreendedores

Cientes das dificuldades financeiras, grupos mesclam aulas, apresentações e projetos sociais para manter o teatro de portas abertas

Marina Severino



Financeiramente estáveis na Europa, onde os teatros de bolso são reconhecidos pelo governo como centros de pesquisa e, por isso, subsidiados, o formato é recente no Brasil e não possui políticas públicas asseguradas. Em Brasília, eles começam a ser vistos pela nova geração como uma forma de vivência cênica. Aberta no início deste ano em uma comercial da W4 Norte, a Escola Teatral Confins-Artísticos (Etca) garante a manutenção do espaço próprio com aulas de teatro e o aluguel do local, composto por salas de aula, lanchonete, estúdio para gravação musical e um pequeno teatro de 30 lugares, com iluminação e sistema de som. “Começamos a trabalhar na Universidade de Brasília (UnB),em 2002, e vimos que seria vantajoso ter sede para dar continuidade aos projetos autorais”, conta o proprietário, Gustavo Rainecken.

A programação do teatro de bolso ainda é tímida, com apresentações dos alunos a cada três meses e algumas montagens desenvolvidas pela equipe espalhadas ao longo do ano. “Apesar da boa recepção, ainda não existe uma tradição consolidada entre o público. É insustentável deixar uma temporada em cartaz por muito tempo”, afirma Rainecken. Para atrair audiência, os espetáculos da companhia têm abordagem diferenciada — são apresentados em encontros com música e degustação.

Conquistar público também representa um desafio para o diretor Cláudio Chinaski, que abriu o Espaço Cultural Mosaico em 2008. “Costumo brincar que Brasília tem 500 pessoas interessadas em teatro. O restante da população não busca esse tipo de entretenimento, apenas quando há divulgação pesada. Apesar disso, a casa enche em função do público que acompanha o nosso trabalho.” Além da administração, Cláudio atua como produtor cultural e convida grupos de outras cidades a se apresentarem no local, como o paulistano Club Noir, que está em cartaz hoje com a peça Comunicação a uma academia.

Cursos
Apesar das dificuldades, alguns grupos mais antigos provam que manter teatro de bolso e escola é uma realidade possível e rentável. A Companhia da Ilusão, instalada há 15 anos na 510 Sul, mantém um curso de formação com duração de dois anos que atende a 14 turmas por semestre, todas agendadas com montagens de comédia, tragédia grega, teatro do absurdo e drama realista. Uma área específica da companhia se responsabiliza pela produção e pesquisa para novos espetáculos.

No Mapati, os 20 anos de teatro de bolso mostram uma trajetória de adaptações — antes, o lugar fazia parte da residência da proprietária, Tereza Padilha, até a transferência, em 1995, para a 707 Norte. “É muito difícil manter um espaço pequeno porque tudo custa caro. Há demanda com limpeza de cortina, segurança, ventilação. Quando a coisa apertava, fazíamos festas para levantar fundos”, lembra Tereza, que ampliou a atuação do Mapati para abrigar colônia de férias e projetos sociais, mas continua as aulas de teatro, com 10 turmas.

Criado em 2005 como uma extensão do Cena Contemporânea, o Espaço Cena é um caso à parte entre os teatros do bolso. Sem cursos na programação, parte dos recursos de escritório é mantida pelo projeto permanente do festival junto ao Fundo de Apoio à Cultura (FAC). O orçamento se complementa com o aluguel do espaço, a R$ 180 por apresentação. “Dessa forma, podemos manter o Cena aberto ao público durante todo o ano para pesquisas em nosso material de arquivo, ciclos de leitura e exibição em vídeo de espetáculos de todo o mundo”, detalha o idealizador do projeto, Guilherme Reis.

Ouça entrevista com Guilherme Reis e Tereza Padilha


Onde assistir



Caleidoscópio

(CLSW 102 Bl. C, Galeria; 3344-0444)
A partir de 30 de outubro, Estação Felicidade, direção de Túlio Guimarães. Não recomendado para menores de 14 anos.

Companhia da Ilusão

(SCRS 510, Bl. C, Entrada 18; 3242-3544)
Espetáculos a partir de 17 de novembro.

Espaço Cena

(205 Norte, Bl. C, Lj. 25; 3349-3937)
Hoje, às 20h, Preso entre ferragens, direção de João Antônio. Ingressos: R$ 20 e R$ 10 (meia). Não recomendado para menores de 14 anos.

Espaço Cultural Mosaico

(714/715 Norte, Bl. D, Lj. 16; 3032-1330)
Hoje, às 20h, Comunicação a uma academia, adaptação de texto de Franz Kafka com direção de Roberto Alvim. Entrada franca. Não recomendado para menores de 14 anos.

Escola Teatral Confins-Artísticos

(SCLRN 711, Bl. C, Lj. 5; 3274-8160)
Programação aberta.

Mapati

(707 Norte, Bloco K, Lj. 5; 3347-3920)
Espetáculos a partir de 20 novembro.

Invenção Brasileira

(Mercado Sul de Taguatinga, QSB 13, Bl. B; 3352-5054)
Programação aberta.

Espaço Cultural Bagagem

(Setor Central do Gama, Qd 40, Lt. 16; 3556-6605)
Dias 30 e 31, às 20h, El titiriteiro de Banfield, com o bonequeiro argentino Sergio Mercurio. Entrada franca e classificação indicativa livre.

CrB 25/10
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Instituto mapeia a literatura do Brasil no exterior

Milton Hatoum, Rubem Fonseca e Chico Buarque estão entre os autores mais lembrados hoje por estudiosos de literatura brasileira no exterior, à frente de nomes como Euclydes da Cunha (1866-1909) e Manuel Bandeira (1886-1968).
Esse é um dos resultados iniciais de um mapeamento sobre como a produção literária do Brasil é recebida em outros países. Os primeiros números, aos quais a Folha teve acesso, serão divulgados hoje, na abertura do "2º Conexões Itaú Cultural: Encontro Internacional de Literatura Brasileira", no Rio.
Machado de Assis ainda é o autor mais citado pelos estrangeiros, mas a pesquisa mostra um aumento no interesse pela literatura produzida a partir dos anos 80. Quase 70% dos entrevistados têm interesse na produção contemporânea; só 5% disseram não ter (o restante não informou).
A falta de empenho do governo na criação de uma entidade para divulgar a literatura brasileira -algo como o Instituto Goethe, da Alemanha, e o Cervantes, da Espanha- está entre os principais problemas identificados. A maioria dos tradutores, por exemplo, nem sabia que poderia pedir apoio à Fundação Biblioteca Nacional.
O "Conexões" segue até quarta, com participação de pesquisadores e escritores como Hatoum, Moacyr Scliar e Luiz Ruffato (grátis; www.conexoesitaucultural.org.br).
FSP  30/11


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Os astros do expediente

Ir ao cinema e ler livros vão além do entretenimento. Segundo especialistas em carreira, profissionais que consomem cultura trabalham melhor e são mais criativos. Logo, cobiçados pelas empresas




“Nunca me perguntes o assunto de um poema. Um poema sempre fala de outras coisas”, diz Mário Quintana em seu livro Da preguiça como método de trabalho. E são exatamente essas outras coisas, minúcias que transcendem o cotidiano, que especialistas em carreira recomendam a profissionais interessados em tornar o ambiente de trabalho mais agradável e, consequentemente, mais produtivo. “A formação cultural é suplemento da formação técnica. Ela vai ser a responsável pela compreensão diferenciada da realidade, o que é muito valorizado nas empresas”, analisa Priscila Azevedo, coordenadora do Departamento de Carreiras da Veris Faculdade/ IBMEC Educacional.

Conhecer outras realidades, sentir culturas diferentes e fugir da visão do dia a dia ajudam o profissional a aumentar o seu rendimento e a livrar-se do esgotamento de ideias, comum no mundo empresarial. “Nas empresas, tudo é muito corrido, assim, quem tem uma bagagem cultural e consegue fazer a conexão com o que trabalha sai na frente”, aposta Márcia Garcia, diretora do Grupo Labor.

Foi o que percebeu o chefe e os colegas de trabalho de Samya Mileine, 23 anos. A bancária sempre gostou de ir a peças teatrais, tanto que um dia se inscreveu em uma oficina de teatro oferecida pelo Sindicato dos Bancários do Distrito Federal. Hoje, ela e outros bancários montaram uma companhia. “O teatro melhorou meu trabalho, isso repercutiu de tal maneira que vários colegas já me perguntaram quando será a próxima oficina para eles também participarem”, conta a brasiliense.

O consumo de cultura e arte geralmente é feito em seus momentos de lazer. Por isso, mesmo que a cultura seja importante na carreira, as escolhas pessoais por entretenimento não podem ser baseadas somente no pensamento da empresa, mas sim nas preferências pessoais. Até porque dificilmente alguém absorve o que não gosta no seu tempo vago.

“Ninguém diz: você precisa saber isso ou aquilo para fazer o diferencial. É toda uma bagagem que você vai adquirindo com o tempo”, comenta Fábio Saad, gerente de mercado financeiro da recrutadora Robert Half. “Além disso, o funcionário nunca sabe em que situação vai ter que usar seus conhecimentos. Não dá para prever. Por isso, é preciso estar sempre aberto a todas as manifestações culturais. Pode ser que surja um cliente de outro país e é bom você conhecer a cultura dele, por exemplo”, complementa Carmen Cavalcanti, diretora da Rhaiz Soluções em Recursos Humanos.

Sempre
bem-vindo
Assim, o profissional não precisa ter vergonha de suas preferências, seja porque elas não são as mais sofisticadas, como frequentar uma exposição ou ir a um cinema alternativo, seja porque não são o que está na moda. Uma hora ou outra, ele pode usar um conhecimento que nunca imaginou que pudesse ser necessário. “Quando falamos em cultura, abrangemos várias coisas. Toda hora, você demonstra cultura, então, o que é chamado cultura inútil também é bem-vindo”, acredita Fábio Saad, gerente de mercado financeiro da recrutadora Robert Half.

Dessa forma, o gosto pela arte, pela música e pela literatura pode gerar afinidades tanto com colegas de trabalho quanto com clientes, o que aumenta a rede de relacionamentos e melhora o trabalho em equipe. “A cultura é muito rotulada, o profissional tem que saber que a empresa e o recrutador não estão avaliando o tipo de cultura, mas se ele se interessa por alguma coisa extra”, analisa Carmen Cavalcanti, diretora da Rhaiz Soluções em Recursos Humanos. Já a diretora Márcia Garcia adota uma postura mais ponderada. “O profissional tem que levar para a empresa o que realmente for necessário para o crescimento em seu trabalho.”

Apesar de as empresas desejarem que seus funcionários cheguem com uma boa formação cultural, é preciso também que elas invistam nesse processo. Essa é a opinião da coordenadora do Programa de Arte e Cultura da Universidade Católica de Brasília, Renata Sthepanes. Segundo ela, as organizações também devem dar a sua colaboração para o ócio criativo dos funcionários. “O empresário pode promover um coral ou uma feira de talentos, isso vai melhorar a imagem da empresa e aumentar os rendimentos”, analisa a coordenadora que já organizou grupos de coral em duas empresas em São Paulo. “A resposta sempre é positiva”, garante.
CrB 25/10
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Sociólogo diz que invisibilidade da ralé é problema grave do Brasil moderno



A desigualdade social talvez seja o tema mais recorrente nas conferências, seminários e debates do 33º Encontro Anual da Associação de Pós-Graduação e Pesquisa em Ciências Sociais (Anpocs), que ocorre em Caxambu (MG).
O assunto, que se desdobra nas diferenças de classe, gênero, cor e idade, é, para alguns cientistas sociais, o principal problema a ser pesquisado na sociedade brasileira.
Essa é a opinião do sociólogo Jessé Souza, professor da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), que está lançando, no evento, o livro A ralé brasileira (Editora UFMG), que organizou com artigos seus e de outros autores. “A ralé é a grande questão esquecida. O Brasil não tem 500 problemas, mas um grande problema, que é essa desigualdade abissal do qual decorre mais de mil problemas”, afirmou.
De acordo com levantamento estatístico contido no livro, um terço dos brasileiros vivem sob condições precárias e excluídos sócio-culturalmente.
Para Jessé, o problema da ralé é “a questão mais importante no Brasil moderno” e está associado a outros problemas como a segurança pública, o trabalho informal, o racismo e o preconceito regional. Apesar da importância social que tem,  “a desigualdade não é nem percebida enquanto tal. Nós a naturalizamos”, na avaliação do sociólogo. Ele, no entanto, acredita que esse pensamento não é algo racional, mas tem uma função mais eficiente justamente por ser “pré-reflexivo”.
“As ideias estão dentro da cabeça para justificar nosso comportamento”, assinala. “Queremos que matem a ralé, mas ninguém vai dizer 'eu odeio pobre, eles têm mais é que morrer'. O comportamento efetivo, a ação do brasileiro, porém, vai ser de bater palma”, disse referindo-se ao episódio  em que um policial militar matou um homem que fazia uma mulher refém, em Vila Isabel, Rio de Janeiro, há cerca de um mês.
Segundo Jessé, a imagem do PM dando um tiro certeiro no homem - repetida várias vezes na televisão - dá margem a críticas à mídia brasileira que, para ele, “é conservadora” e pautada pelo interesse econômico. Na sua avaliação, a mídia reproduz um comportamento predominante no país, “mesquinho, medíocre, avesso ao debate”.
O professor critica os seus pares, inclusive autores da sociologia clássica brasileira, como Gilberto Freyre, Sérgio Buarque de Hollanda, Raimundo Faoro, Fernando Henrique Cardoso, além do antropólogo Roberto Da Matta, que, na sua opinião, ajudaram a construir e perpetuar o mito da "brasilidade", com conceitos sofisticados”. Para ele, a criação do mito foi extremamente eficiente, “está em todas as células dos brasileiros. Ela é uma verdadeira cegueira [por meio da qual] nós possamos nos perceber e nos autocriticar”.
“A nossa ciência se construiu em continuidade e não em crítica. A ciência social foi montada para uma sociedade que é autoindulgente [tolerante com seus erros], que não é autocrítica”, opina. Em sua avaliação, “o debate científico, assim como o debate público e do censo comum, é pobre e fragmentário e não capta a totalidade. É exatamente isso do que o dinheiro precisa”.
Além do mito da brasilidade e da baixa autocrítica, a sociedade também se caracteriza pela ausência de transformações políticas e revoluções sociais, segundo Jessé Souza. “O Brasil é uma sociedade que se modernizou apenas economicamente. Não houve processo de aprendizagem coletiva por meio da luta”, diz o professor ao lembrar o processo que ocorreu na Revolução Francesa, no século 18, quando a ralé teve voz ativa, diferentemente da população brasileira excluída.
De acordo com ele, o livro também mostra como, em vez da luta, a ralé brasileira compartilha do consenso que legitima a desigualdade e a exclui. A importância do livro, na visão dele, é a possibilidade de reflexão. “Não existe crescimento de sociedade sem autocrítica”, acredita Jessé. JdeBras 27/10 

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