quarta-feira, 30 de dezembro de 2009


A falta que faz a educação

Índices de escolaridade brasileiro são iguais aos dos EUA nos anos 1960. Analfabetismo atinge um de cada 10 adultos.

O cenário de estabilidade econômica e crescimento dos últimos 15 anos fez o Brasil se destacar entre os países emergentes e passar a acreditar no sonho de ser o país do futuro. Os bons ventos estão anunciados e dependem de debates e investimentos em áreas básicas como educação, saúde e infraestrutura para que as ideias e os desejos se tornem reais nas próximas duas décadas. Os atuais números da educação brasileira, por exemplo, são comparáveis aos que os Estados Unidos contabilizavam entre as décadas de 1950 e 1960.

A taxa de analfabetismo atinge um em cada 10 brasileiros adultos — pessoas com 25 anos ou mais — e a média de escolaridade desse grupo é de 6,9 anos de estudo, de acordo com dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad), do IBGE. Nos Estados Unidos de hoje, 0,3% da população adulta é analfabeta e um terço completou 12 anos de estudos. “O Brasil trabalha com escolaridade mínima de oito anos, mas a esfera competitiva mundial não aceita menos que 10 ou 12 anos”, explica Célio Cunha, especialista em educação da Unesco no Brasil e professor da Faculdade de Educação da Universidade de Brasília (UnB).

Impasse
A fragilidade da formação reflete diretamente nos índices de desemprego e é nesse ponto que o país pode enfrentar um impasse para o crescimento econômico. “Encontrar profissionais qualificados será muito mais difícil do que ter tecnologia ou infraestrutura para crescer”, avalia Sérgio Sgobbi, diretor da Associação Brasileira das Empresas de Software e Serviços para Exportação (Brasscom). “A economia não vai chegar a parar. O que vai acontecer é perdermos contratos e negócios e não conseguirmos crescer”, acrescentou.

O gargalo da escassez de mão de obra dá os primeiros sinais em certos setores da economia. A construção civil precisa de 160 mil trabalhadores e a indústria de tecnologia da informação, de 80 a 100 mil. O presidente da Associação Brasileira da Indústria de Materiais de Construção (Abramat), Melvyn Fox, aponta a falta de formação profissional como um dos pontos de carência na construção civil. “Houve um período de estagnação na construção civil que afugentou profissionais. Muitos dos que ficaram ou são informais ou estão defasados.”

Desemprego
Atualmente, o volume de pessoas fora do mercado está mais ligado à qualificação. O desemprego atinge 7,4% da população economicamente ativa e só 19,4% dos jovens com idade entre 15 e 24 anos estão ocupados. Levantamentos confirmam o que milhares de brasileiros já sabem: o baixo nível de escolaridade e de qualificação leva a poucas opções de emprego e remuneração menor. No universo de 92,3 milhões de trabalhadores, 29,1% têm rendimentos inferiores a um salário mínimo e 31%, entre um e dois salários mínimos.

As mudanças são lentas, as grades de aula não refletem os problemas práticos do cotidiano. O ensino tem que deixar de ser tão burocrático”
Célio Cunha, especialista em educação da Unesco e professor da UnB

Sobrevivência depende de capacitação

“Quem não está preocupado com a capacitação está com os dias contados.” Assim resume a empresária e chef Mara Alcamin o que pensa o setor privado sobre os gargalos da educação no país e a necessidade de investimentos no setor. “Estamos mais preocupados com capital humano do que com matéria prima”, complementa Melvyn Fox, da Abramat. A preocupação é atual, mas os resultados dos investimentos em educação só aparecem em médio e longo prazo. “As mudanças são lentas, as grades de aula não refletem os problemas práticos do cotidiano. O ensino tem que deixar de ser tão burocrático”, afirma o professor Célio Cunha, da Faculdade de Educação da Universidade de Brasília (UnB).

Como o mercado não vai esperar cinco, 10 ou até 15 anos por profissionais qualificados, os empresários passaram a agir por conta própria ou aliados a programas do governo que pretendem encurtar essa espera. “A área de TI (Tecnologia da Informação) tem um histórico de formação de mão de obra. Temos capacidade de formação que não é preenchida”, comenta Sgobbi, diretor da Associação Brasileira das Empresas de Software e Serviços para Exportação (Brasscom).

Cursos
Na construção civil, a qualificação é aliada da formalização. “Esperamos que o trabalhador encare a possibilidade de fazer carreira na construção civil e não ver só como um emprego passageiro”, explica Fox. Cerca de 6 milhões de trabalhadores estão empregados nesse setor, mas só um terço tem carteira assinada. A estratégia para reverter o quadro é promover cursos e certificações. “Estamos formatando as habilidades necessárias para cada posto de pintor, pedreiro e levar os cursos aos canteiros de obras.” A expectativa é de que os primeiros beneficiados recebam os diplomas no segundo semestre de 2010.
Nos restaurantes comandados por Mara Alcamin, o treinamento dos funcionários passou a ser essencial. “Cerca de metade dos meus 250 funcionários tem só o nível fundamental. Isso não quer dizer que são desqualificados, mas que precisam de atualizações, aprimoramento”, conta a chef, que criou um espaço e uma agenda de programas de qualificação.“Criamos um plano de carreira, incentivamos cursos extras que vão de idiomas a gerência em negócios, tanto no Brasil como no exterior.”

Troca
Responsáveis pelo departamento organizacional, Aline Costa e Hérica Araújo, avaliam os primeiros resultados. “Temos pilares que unem os conhecimentos acadêmicos com os práticos motivando a troca de conhecimentos e a reciclagem constante de informações”, relata Hérica, gerente do Departamento de Pessoal. “Nesse pouco tempo, conseguimos reduzir o percentual de demissões e aumentar a produtividade”, acrescenta Aline, que cuida do Departamento de Recursos Humanos. A iniciativa custará R$ 20 mil em investimentos. “Vale a pena, porque incentivo a qualidade de vida e o bom ambiente de trabalho. Lá na frente, isso será revertido em menor número de acidente de trabalho e de demissões”, diz Mara.   Correioweb.com.br 29/12


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Denúncia de crime sexual em alta no DF

Levantamento mostra que Brasília lidera, em termos proporcionais, casos de acusação contra agressores. Em todo o país, o serviço criado pelo governo já fez mais de 2 milhões de atendimentos

A cada dia, pelo menos 80 casos de crianças vítimas de violência sexual no país chegam ao Disque Denúncia — 100 (DD-100), sendo que a maioria das vítimas é do sexo feminino. Os números de 2009 são semelhantes aos do ano passado, mas a média cresceu desde 2003, quando o serviço foi criado pela Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da República (SEDH). E Brasília lidera o ranking nacional de denúncias em termos proporcionais, com 2.707 ocorrências desde 2003 e 110,2 casos para cada 100 mil habitantes. São Paulo, por exemplo, que apresenta os índices mais altos de atendimento — 14.643 — mal chega a 36 casos para cada 100 mil habitantes.

Nos seis anos de existência, o DD-100 fez cerca de dois milhões de atendimentos, sendo que 112 mil eram denúncias de violência contra crianças e adolescentes. A média diária era de apenas 12 casos, mas entre 2007 e 2009 o número de ligações por dia ficou entre 70 e 80. Houve ainda uma diminuição no total de denúncias, que eram 32,6 mil em 2008 e ficaram em 27 mil de janeiro a novembro deste ano. Para os técnicos da área, a oscilação é normal. Em 2007, por exemplo, havia menos sete mil registros em relação ao ano seguinte. O DD-100 revela, ainda, que o abuso sexual continua sendo a principal violência praticada contra os menores, seguido da exploração.

O Nordeste é hoje a região de onde chegam a maioria dos casos. A causa principal é a proximidade com o litoral, o que favorece a exploração sexual. Todos os estados nordestinos registraram 38,5 mil denúncias, seguidos do Sudeste, com 35,6 mil; do Sul, com 14,3 mil; do Norte, com 11,1 mil, e do Centro-Oeste, com 11 mil.

A violência sexual aparece como maioria, com 80% dos casos, contra 56% de negligência e 55% de violência física e psicológica. Muitas vezes, há situações em que os três crimes são praticados contra uma ou várias crianças ao mesmo tempo. Os dados relacionados apenas a crimes sexuais apontam que a exploração de meninas é a principal causa das denúncias. Do total registrado no DD-100, 83% são relacionados a esse tipo de infração, que é seguido pelo tráfico de crianças e adolescentes, pelo abuso sexual e pela pornografia.

Os meninos são vítimas, principalmente, da violência física e psicológica, seguida pela negligência, um problema que a cada ano vem se acentuando. Em Rondônia, por exemplo, os abrigos na capital, Porto Velho, tiveram um grande crescimento de menores acolhidos. “São crianças que tiveram seus vínculos familiares rompidos por situações de violência, pobreza ou mesmo abandono”, explica a secretária de Ação Social de Porto Velho, Benedita do Nascimento Pereira. “Isso porque tentamos manter sempre o abrigo como última instância, pois achamos que a criança e adolescente tem que ficar no âmbito da família”.

Rondônia também é um exemplo do crescimento, não apenas das denúncias de violência sexual contra criança e adolescente, mas também de atendimentos. Em 2005, houve pouco mais de 100 casos suspeitos ou confirmados de abusos, enquanto em 2008 já foram 300 registros. Este ano, já eram 54 o total de crimes sexuais contra menores. “Há uma situação de risco muito grande aqui (em Porto Velho)”, diz o juiz da Infância e Juventude, Dalmo Antônio de Castro Bezerra.

“Chegamos a encontrar boates subterrâneas com menores”, diz o juiz. O estabelecimento, que funcionava em um supermercado tinha fotos na internet com crianças e adolescentes em posições eróticas e ingerindo bebida alcoólica.

É só ligar
O Serviço Disque Denúncia 100 funciona diariamente das 8h às 22h, inclusive nos fins de semana e feriados. As denúncias são sigilosas e podem ser feitas de todo o Brasil por meio de ligação gratuita para o número 100. Do exterior, por meio do número telefônico pago (61) 3212-8400 ou pelo endereço eletrônico: disquedenuncia@sedh.gov.br.

O retorno das denúncias é feito pela área de monitoramento: monitoramento100@sedh.gov.br.


Por região

O Nordeste figura como a região onde chegaram mais denúncias pelo Disque 100, desde 2003, seguido do Sudeste. O Centro-Oeste teve os menores índices, como mostra o ranking:

Região Denúncias
Nordeste 38.529
Sudeste 35.679
Sul 14.399
Norte 11.181
Centro-Oeste 11.060

Tipos de violência %
Abuso sexual 58,29
Exploração sexual 38,83
Pornografia 1,58
Tráfico de crianças 0,67

Denúncias por ano
2003 4.494
2004 3.774
2005 5.138
2006 13.830
2007 24.942
2008 32.589
2009 27.159

Total 111.926


Por estado

São Paulo aparece como o estado que mais recebe denúncias de abuso e exploração sexual de crianças e adolescentes, enquanto o Amapá é o que menos recebeu nos últimos anos. O ranking nacional é o seguinte:

Estados Total de denúncias
São Paulo 14.643
Bahia 11.055
Rio de Janeiro 9.692
Minas Gerais 8.900
Rio Grande do Sul 6.738
Ceará 6.462
Pernambuco 6.162
Maranhão 5.944
Pará 5.839
Paraná 4.750
Goiás 4.096
Santa Catarina 2.911
Distrito Federal 2.707
Amazonas 2.591
Espírito Santo 2.444
Rio Grande do Norte 2.360
Mato Grosso do Sul 2.185
Paraíba 2.079
Mato Grosso 2.072
Piauí 1.822
Alagoas 1.815
Rondônia 1.085
Tocantins 863
Sergipe 830
Acre 440
Roraima 182
Amapá 181 .


Perigo que vem da web

Desde o ano passado, além do Disque Denúncia 100, a Secretaria Especial dos Diteitos Humanos criou uma outra ferramenta para monitorar os crimes sexuais contra crianças e adolescentes: a internet. Em parceria com a Petrobras, a SEDH e o Ministério da Justiça também passaram a fazer o rastreamento de pornografia infantil, que resultou em duas grandes operações da Polícia Federal em 2009. O trabalho também ganhou apoio da Safernet, organização não governamental voltada ao combate da pornografia na web.

Além criar um hotside federal voltado contra a pedofilia, que ajuda a rastrear sites envolvendo a pornografia infantil, a Safernet uniu-se à PF na montagem de um sistema para receber denúncias online no site da corporação (www.dfp.gov.br). No primeiro dia de funcionamento do sistema, foram 53 denúncias. Somente em seis meses deste ano, a Polícia Federal já recebeu mais de 500 acessos. Da atuação conjunta entre o poder público e a Ong também foram estabelecidos procedimentos para navegação segura na net, principalmente as áreas voltadas para menores.

Para facilitar as investigações, a Polícia Federal criou, dentro de seu departamento de Direitos Humanos, o Grupo Especial de Combate aos Crimes de Ódio e à Pornografia Infantil na Internet (Gecop), o que agilizou a solução dos crimes. Em 10 anos, por exemplo, a PF havia instaurado 978 inquéritos, enquanto que, somente em 2009, foram abertas 406 investigações. (EL). Fonte: Correioweb.com.br 28/12


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2009-2010: perspectivas e prospectivas
O ano de 2009 iniciou-se com grande incerteza em relação ao desempenho da atividade econômica no Brasil, em razão das graves consequências previstas com a crise financeira mundial, considerada a mais profunda no período pós-Crise de 1929.  As previsões para o final do ano eram muito sombrias: descontrole inflacionário e crescimento negativo do PIB, afetando emprego e renda.
Nesse sentido, as políticas públicas, notadamente, as políticas macroeconômicas (monetária e fiscal) se destacaram com a redução da taxa básica de juros e incentivo ao crédito, e redução do superávit primário, por meio da combinação entre isenção tributária (IPI e IR) e elevação dos gastos públicos, basicamente a transferência de renda por meio dos programas sociais, como a Bolsa-Família. Contribuiu também para mudança do sentimento dos negócios, a maciça e contínua entrada de capitais estrangeiros, o que está provocando uma forte valorização cambial da moeda doméstica.
Os resultados dessa política anticíclica obtiveram sucesso na mitigação dos prejuízos do emprego e renda, que passaram a ser paradigma nas discussões internacionais, mostrando que a experiência brasileira deve ser adotada até pelos países desenvolvidos como saída para essa grave crise internacional.
Nos fóruns mundiais, a política econômica do Brasil tem sido vista como sucesso de políticas públicas para minimizar os desequilíbrios econômico-financeiros, bem como o sistema de regulação do sistema financeiro.

Com isso, a política externa do Brasil tem conseguido bons resultados no sentido de aumentar a influência dos países emergentes nos organismos multilaterais como FMI, Banco Mundial, entre outros, além de ter conseguido liderar a América Latina e as mudanças estruturais no G-20, grupo que reúne os sete países mais desenvolvidos e os países emergentes.
As principais previsões de 2009 no início do ano eram: IPCA, 5,0%; PIB, - 0,1%; taxa Selic: 12,0%; taxa de câmbio: R$2,25/US$; resultado da conta-corrente do balanço de pagamentos: -US$ 25 bilhões, e; dívida líquida do setor público/PIB: 37,0%. Com todos os resultados de política econômica, hoje, as estimativas são: IPCA, 4,45%; PIB: 0,2%; taxa Selic: 8,75%; taxa de câmbio: R$ 1,70 /US$; resultado da conta-corrente do balanço de pagamentos: - US$ 17,52 bilhões, e; dívida líquida do setor público/PIB: 44,05%.
Essas mudanças de política econômica provocaram que o Comitê de Política Monetária do Banco Central mantivesse constante a taxa básica de juros (taxa Selic), desde agosto de 2009, pois tem como argumento principal alguns sinais de reativação da atividade econômica, o que poderia comprometer as metas de inflação para 2009 e 2010, principalmente, por esse ser um ano pré-eleitoral.
Os analistas esperam que a reativação da atividade econômica no Brasil com os resultados das políticas públicas anticíclicas, bem como pela recuperação da economia mundial, permitam que as previsões para 2010 sejam mais otimistas. Com isso, as principais previsões de 2010 são: IPCA, 4,45% ; PIB, 5,0%; taxa Selic: 10,5%; taxa de câmbio: R$ 1,75/US$; resultado da conta-corrente do balanço de pagamentos: -US$ 36 bilhões; dívida líquido do setor público/PIB: 42,35%.
Entretanto, alguns desafios deverão ser enfrentados no ano que vem, como por exemplo, a redução dos spreads bancários; a continuidade nos avanços sociais sem que prejudique a manutenção de adequada política fiscal, evitando comprometer o controle inflacionário e o equilíbrio das contas externas; e a política cambial que não prejudique o setor exportador, com a valorização cambial, principalmente, por ser ano pré-eleitoral, sujeito a diferentes pressões do vários setores da sociedade. E, ademais, o maior desafio para o governo será a implementação e consolidação do Projeto Pré-Sal, que possibilite um salto qualitativo social e tecnológico para a sociedade brasileira.
UnB.br29/12

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Música - Pesquisa desvenda a malandragem dos chorões de Brasília
Tese de doutorado defendida no Departamento de Música caracterizou o choro a partir dos relatos de músicos da capital.
A informalidade é umas das características mais valorizadas no choro. Essa é uma das conclusões da dissertação O Choro dos Chorões de Brasília, defendida no Departamento de Música da Universidade de Brasília. O pesquisador Ivaldo Gadelha Filho identificou e analisou conhecimentos e percepções  acerca da prática musical do choro a partir do relato de 15 músicos que tocam na capital.
A pesquisa avaliou o modo de aprendizagem, os contextos e os critérios de performance e a relação entre a manutenção das tradições e a inserção de inovações. Ivaldo explica que o mais difícil foi estruturar a pesquisa separando cada um desses aspectos. “Quando um chorão falava sobre os critérios do que considera ser uma boa performance, falava também sobre inserção de inovações e da própria vida. Isso revela forte coesão entre a música e tudo que está fora dela”, explica Ivaldo.
Assim, o modo de aprendizagem mais valorizado é o informal. O pesquisador destaca o papel das escolas de música, onde se encontra o necessário para aprender o choro. Mas ressalta a importância de o aprendiz conseguir observar outros chorões e tentar imitar em casa. “Quando o aprendizado se restringe à partitura, parte desse aprendizado se perde. É fundamental o olho no olho com os mestres. O aluno exercita o visual, e não o auditivo”, explica.
Foram estudados dois contextos de performance: o palco do Clube do Choro e a roda de choro do restaurante Tartaruga Lanches, na 714/715 Norte. A principal diferença é que, no palco, há preocupação maior pela precisão técnica e, na roda de choro, pela imprevisibilidade. “Os dois espaços tem a sua importância”, aponta Ivaldo. O palco é o espaço de valorização do choro e funciona como vitrine para a sociedade e para o Estado. Tem importância política, já que o choro precisa de incentivos estatais para sobreviver.
A roda de choro, por outro lado, é o local onde a música se renova. É onde os chorões se encontram para tocar com os companheiros, para conversar e manter o repertório vivo. “A roda transforma qualquer mesa de boteco em um lugar sagrado, onde músicos experientes e novatos reverenciam a música”, conta. É também onde os músicos se desafiam para ver quem toca melhor, mas sempre com clima alegre e descontraído.
CHORÕES – Mas, afinal, o que é um chorão? “O chorão é o músico que frequenta as rodas, que ouve muito, que vive o choro com compromisso”, explica o pesquisador. Não simplesmente quem toca o choro, quem lê partitura. Ivaldo perguntou aos músicos o que seria um bom chorão e encontrou as mais diversas respostas.
“Alguns diziam que era aquele que conseguia tirar uma nota doce do bandolim, ou que conseguia tocar um choro aveludado, o que revela subjetividade na avaliação”, diz. Mesmo assim, o pesquisador descobriu a partir das respostas dadas que o bom chorão é quem consegue equilibrar virtuosismo técnico e expressividade. “Não adianta o cara tocar muito e não tocar meia dúzias de pessoas”, poetiza.
O orientador da dissertação de Ivaldo, professor Ricardo Dourado, explica que choro de Brasília carrega características de todas as partes do Brasil. Em outras capitais, o estilo musical revela mais características locais. “O Clube do Choro também uma grande importância, porque é o único palco dedicado somente ao choro no Brasil e traz músicos de todas as partes do mundo”, destaca. Dourado lembra que a pesquisa de Ivaldo gera conhecimento e referência acadêmica sobre a identidade cultural brasileira. “A música reflete os valores e a cultura de um povo e, ao mesmo tempo, o influencia e define”, completa.
UnB 29/12

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