quinta-feira, 19 de setembro de 2013

Manchetes do Edu


A cinco minutos da meia-noite ( MEIO AMBIENTE)
Já não se passa mais um dia sem que notícias muito impactantes das áreas de clima e energia venham soprepor-se às fortes preocupações de quem já acompanha o panorama do mundo, as ameaças crescentes, os dramas em tantas partes, inclusive entre nós.    Washington Novaes, Jornalista -  O POPULAR GO 19.09

Mesmo nesse quadro, ainda surpreendem notícias como a de que o governo brasileiro vai financiar, ele mesmo, através de bancos oficiais, recursos para as novas etapas da usina nuclear Angra 3, depois que um consórcio de bancos europeus recusou-se a conceder o financiamento pedido, porque não lhe foram apresentados os planos de segurança e garantia no empreendimento, que havia exigido. Além dos riscos inerentes aos projetos nucleares, inclusive da falta de destinação para o lixo altamente perigoso, Angra situa-se em área do litoral sul fluminense, onde já está acontecendo a elevação do nível do mar, como admitiu o respeitado professor Carlos Nobre, secretário de Políticas e Programas de Pesquisa e Desenvolvimento, do Ministério de Ciência, Tecnologia e Inovação, em entrevista no programa Roda Viva, da TV Cultura. Nobre disse que o projeto de expansão em Angra “deveria ser revisto”.

A notícia do financiamento também chega no momento em que o governo japonês decide assumir, diretamente, o controle do combate às radiações na acidentada usina de Fukushima, mais de dois anos após o tsunami. O governo japonês afasta a empresa concessionária da usina que não consegue evitar que a radiação ali possa matar em quatro horas uma pessoa, pois está mais de 100 vezes acima do que já fora registrado antes. Fukushima já levou também o governo japonês a rever, com altos custos, sua matriz de energia, e a implantar um “muro de gelo”, congelando o mar ao redor dos reatores nucleares.

Nessa hora, em que vários países (como Alemanha, Suécia, Itália e outros) adotam cautela ou restrições à energia nuclear nos planos nacionais, nós seguimos intrepidamente essa senda, até planejando mais quatro usinas no Nordeste. Ignorando, como diz o prof. Ildo Sauer, diretor do Instituto de Energia e Ambiente da Universidade de São Paulo, “tratar-se (a energia nuclear) de um dos maiores fiascos tecnológicos da história da humanidade” (revista Estudos Avançados, nº 27, de 2013). E ignorando – o que já foi comentado várias vezes neste espaço – as possibilidades únicas de um país como o Brasil, que pode ter uma matriz energética absolutamente limpa, renovável e segura, com hidreletricidade, energias eólica, solar, de biomassas, de marés, geotérmicas.

Deixamos de lado também as questões relacionadas com o clima, as influências que nele têm as emissões de poluentes no processo energético e as consequências que o País sofrerá nas próximas décadas, segundo estudo de 345 cientistas para o Painel Brasileiro de Mudanças Climáticas. Há poucos dias eles informaram que a temperatura no nosso Semiárido poderá subir entre 3,e 4,5 graus até o fim do século, com redução de chuvas entre 40 e 50%; na Amazônia, que já perdeu a cobertura florestal em 725 mil quilômetros quadrados, a temperatura poderá elevar-se em até 6 graus Celsius. A vazão de rios poderá diminuir e os prejuízos para a agropecuária poderão ser de até R$ 7 bilhões a partir de 2020 (jornal Valor, 10/9).

Serão os temores apenas “fantasias de ambientalistas”, preocupações de “profetas do apocalipse”? Há poucos dias, numa discussão em que países industrializados analisavam formatos para “salvar” as ilhas do Pacífico Sul – ameaçadas pela elevação do nível do oceano, consequência da maior temperatura gerada pelas emissões de poluentes –, o próprio secretário de Estado norte-americano, John Kerry, confirmou publicamente a situação dramática (as Ilhas Maldivas, por exemplo, planejam implantar ilhas artificiais e transferir para elas suas populações); também disse que o quadro climático é “extremamente grave” – comentando ainda as previsões da Agência Internacional de Energia, sobre aumento das temperaturas nas próximas décadas.

Nada disso impede, entretanto, que os Estados Unidos estejam implantando oleoduto para transportar petróleo do Ártico, onde o degelo que está acontecendo poderá significar – também é a AIE que diz – custos de US$ 60 trilhões nos próximos tempos. Ou que a China já esteja implantando a primeira rota de navegação atravessando o próprio Ártico, para reduzir o tempo de viagem até a Europa.

“Estamos a cinco minutos da meia-noite”, diz o secretário-geral da Convenção do Clima, Rajendra Pashauri. Quem ouve? Talvez console saber-se nos bastidores que o Brasil vai mudar de posição na próxima reunião da Convenção, em dezembro. E propor compromissos obrigatórios de redução das emissões para todos os países, proporcionalmente a sua contribuição histórica e atual para o aumento da concentração de gases poluentes na atmosfera. É um retorno à posição brasileira em 1997, abandonada depois. Mas é um avanço bem-vindo.

Nesta hora de tantas aflições no campo da energia, dos materiais radioativos e do clima, convém não nos esquecermos também de mais um aniversário do acidente com o césio em Goiânia. Ainda na presença de tantas vítimas sofrendo ao nosso lado.

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Mudanças também precisam ocorrer "da porta para dentro"
Por Betania Tanure é doutora e professora da PUC Minas e consultora da BTA
O que você acha de um presidente afirmar que, no seu time, uma boa parte das pessoas está apenas parcialmente comprometida com os desafios? E se ele disser ainda que são poucos os que têm as competências necessárias para entregar resultados diferenciados? VALOR ECONÔMICO 19.09


Não é difícil medir o que isso significa para as empresas, em especial no atual cenário macroeconômico brasileiro, de muita incerteza, baixo nível de crescimento e uma taxa de impostos que se situa entre as mais altas do mundo.

Esse é o Brasil de boa parte das nossas grandes empresas. Em relação às decisões macroeconômicas elas têm pouco a fazer individualmente, porém muito a fazer no coletivo, nas associações e nas federações. E podem ter muito a mudar também "da porta para dentro".

Devo dizer que achei terríveis os resultados revelados por uma pesquisa que fizemos no 13º Fórum de Presidentes, promovido em agosto pela Associação Brasileira de Recursos Humanos (ABRH). Para os 114 CEOs entrevistados, que comandam cerca de 30% do PIB brasileiro, 41% dos executivos de sua equipe estão apenas parcialmente comprometidos com os desafios e somente 37% apresentam as competências necessárias para entregar no presente resultados que sustentem a construção do futuro.

Para esses presidentes, a primeira pergunta é: como você faz o seu "dever de casa"? Se o seu time tem problemas, não tenha dúvida de que esses problemas, ou boa parte deles, começam em você. Dificuldade de ser meritocrático? Autoritarismo? Ego avantajado? Falta de tempo para trazer as pessoas para o jogo? Falta de acreditar genuinamente que elas fazem a diferença? Talvez a herança do seu antecessor seja ruim - mas o que você fez a partir daí?

Analise em que medida seus executivos entregam resultados excepcionais. Aqueles que satisfazem as necessidades imediatas provavelmente não são demitidos, mas, se o estratégico não vem junto, ainda assim eles são promovidos? Avalie se você está promovendo os que entregam a qualquer custo, sem semear o longo prazo, ou os que, com visão de futuro, também desenvolvem estratégias e pessoas. Sei que são raros os executivos nesse segundo grupo. Nossas pesquisas indicam que apenas 8% combinam com equilíbrio resultados de curto prazo, construção do futuro e pessoas.

Para alguns falta a mobilização, o significado, a causa. Reflita se você sabe com clareza qual a causa que o move e que move cada pessoa do seu time. Invista tempo nisso. Para outros, que já se sentem mobilizados, falta saber se têm as competências adequadas. Elas não se desenvolvem em um passe de mágica ou pela simples vontade pessoal. Vontade não é tudo. É preciso estruturar um caminho, uma jornada de aprendizagem entrelaçada com o negócio, coisa tão rara no meio empresarial - e também no mundo acadêmico.

No Brasil são raríssimos os processos de desenvolvimento com resultado real na dinâmica do negócio. Não por acaso, em momentos de incerteza como o atual, muitas iniciativas de desenvolvimento são canceladas ou postergadas. Algumas porque, apesar de "lindas", estão distantes do mundo real - são úteis para o currículo do indivíduo, mas têm pouco efeito na vida empresarial. Outras porque não se acredita que são as pessoas que viram o jogo e que garantem, ou não, resultados diferenciados. Claro que um terceiro grupo de empresas corta iniciativas porque já está morrendo, mas esse, felizmente, não é o caso da maioria.

A que grupo sua empresa pertence? Analise isso com honestidade e, se preciso, aja para mudar essas estatísticas. Caso contrário, sua empresa poderá ser uma das que fatalmente são levadas ao fracasso. Mude o jogo, com o compromisso do seu time. Tenha a humildade e a sabedoria de criar condições para aumentar as competências individuais e organizacionais de sua empresa. Mãos à obra!

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José Paulo Cavalcanti Filho: Toga no chão  -  Tendências / Debates  FOLHA SP 18.09
Adaucto Lucio Cardoso apoiou o golpe militar, foi fundador da Arena e, em 1966, era presidente da Câmara dos Deputados. Mas não se curvava, diferentemente da grande maioria dos homens daquele tempo. E de hoje, também. Mesmo aqueles a quem nos referimos como vossas excelências. LJOSÉ PAULO CAVALCANTI FILHO, 65, advogado no Recife, é membro da Comissão Nacional da Verdade

Quando o general Castelo Branco cassou o mandato de alguns deputados, reagiu altivamente. E declarou considerar sem efeito as cassações. Por pouco tempo. Que, no fim daquele mesmo dia (20 de outubro de 1966), o Exército ocupou o Congresso Nacional.

Na reabertura dos trabalhos (em 22 de novembro), Adaucto disse não aceitar a humilhação de ver o Parlamento fechado. Uma resposta rara dada por quem apoiava o governo. Nenhum dos outros presidentes, do Senado ou da Câmara, neste e nos dois outros momentos em que o Congresso foi fechado (em 13 de dezembro de 1968 e 1º de abril de 1977), sequer protestou.

Renunciou à presidência. Mas acabou indicado para o Supremo Tribunal Federal.

Adaucto honrou a casa. Respeitava as leis. Mas sabia ouvir, também, a voz das ruas.

Tanto que concedeu habeas corpus ao líder estudantil Vladimir Palmeira e a Darcy Ribeiro, então preso. Para desgosto dos ocupantes do Palácio do Planalto, que cobravam subserviência. E a recebiam de (quase) todos. Até de juízes. Estamos falando de tempos idos, claro.

Carvall         

Segue a vida e, em 1971, o general Médici editou o decreto-lei nº 1.077 --que estabelecia a censura prévia de jornais, revistas e livros. Em aberta violação à Constituição de 1969, que não admitia qualquer censura. Deve ter rido, ao assinar. O general gostava de rir, senhor meu. Eram negros anos.

Naquele tempo, apenas o procurador-geral da República podia questionar a constitucionalidade das normas jurídicas. O MDB, então único partido de oposição, pediu que impugnasse o decreto-lei. E o procurador-geral, subserviente, teve o desplante de declarar que não via qualquer violação à Constituição. Nada a estranhar que haja sempre homens assim, dispostos a pagar, com decisões e votos, suas nomeações aos cargos.

O MDB entrou com reclamação diretamente no Supremo. Adaucto pôs em julgamento. Mas fez, antes, discurso afirmativo, indicando que os brasileiros esperavam um gesto do Supremo. Discurso de quem, ao contrário de alguns pares seus, tinha coragem cívica.

Ao fim da votação, apenas ele votou contra a censura. Os demais ministros exercitaram a vilania se refugiando em tecnicalidades. De onde menos se espera, daí é que não vem nada mesmo, ensinava Millôr.

Adaucto declarou que seus pares envergonhavam a casa. Que não se sentia mais à vontade para conviver com eles. E jogou sua toga na curul (assim se chama a cadeira dos ministros), segundo uns; ou no chão do plenário, segundo outros. Após o que foi embora. Saiu do Supremo para entrar na história, dá vontade de repetir a frase de Getúlio. Evandro Lins e Silva, mestre querido, disse que "sua atitude foi única, continua única e provavelmente nunca se repetirá". Será?

P.S. Hoje, não estarão em julgamento os embargos infringentes. Hoje, quem será julgado é o Supremo.

JOSÉ PAULO CAVALCANTI FILHO, 65, advogado no Recife, é membro da Comissão Nacional da Verdade






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