quinta-feira, 12 de setembro de 2013
Manchetes do Edu
O futuro e a
população, por Washington Novaes é jornalista - O POPULAR GO 12.09
A notícia de que a população brasileira em dezembro do ano
passado superou 200 milhões de pessoas, segundo o IBGE (O Estado de S. Paulo,
30/8,) e chegou a 201,3 milhões em julho último, sugere que precisaremos estar
atentos a algumas realidades problemáticas nas próximas décadas.
Primeiro,
porque a população continuará a crescer (228,35 milhões) até 2042 – o que
significa necessidade de mais postos de trabalho e geração de renda. Embora a
taxa de fecundidade, de 1,87 filho por mulher em idade fértil, continue no ano
que vem abaixo da taxa de reposição (dois filhos por mulher nessa idade) e
chegue a 1,5 filho por mulher em 2034, chegaremos a 2060 com duas crianças e/ou
aposentados para três trabalhadores entre 15 e 64 anos, numa população que terá
baixado para 218,17 milhões. Goiás, dizem essas estatísticas, vai ver sua
população acrescida em 20% até 2030, com 7,71 milhões, embora já haja até
municípios com população decrescente. Hoje, o Estado tem 6,43 milhões de
pessoas. Todo esse quadro advirá no País em meio a taxas de mortalidade
infantil decrescentes, até 7,12 por mil nascidos vivos (hoje, 15), expectativas
de vida crescentes, que em 2060 chegarão a 81,2 anos por pessoa, em média, com
5 milhões acima de 90 anos.
Apesar
de todos os avanços, o Brasil está em 91º lugar no ranking do Índice de
Desenvolvimento Humano, da ONU, que mede também o crescimento da economia,
expectativa de vida, saneamento, educação – estamos no mesmo nível da Bulgária.
E o envelhecimento médio da população, embora desejável, significará também
maior déficit na Previdência Social, que em 2012 já chegou a R$ 42,3 bilhões –
ainda que os aposentados pelo INSS paguem altos preços: os aumentos de sua
aposentadoria são sempre calculados em porcentagem inferior à do salário
mínimo; por esse caminhos, recebem um número cada vez menor de salários mínimos
(só servidores públicos recebem aposentadoria equivalente à dos salários que
teriam na ativa).
Num
caso que o autor destas linhas conhece de perto, o contribuinte pagou para o
INSS, durante mais de 20 anos na ativa, uma porcentagem sobre 20 salários
mínimos – o limite da aposentadoria na época. Quando este, por um passe de
mágica, baixou para 10 salários mínimos (que passou a ser o limite da
aposentadoria), ninguém devolveu os pagamentos a mais; e como a aposentadoria,
na concessão, é calculada sobre a média dos últimos 36 salários, em tempos de
inflação de até 80% ao mês a aposentadoria inicial foi estipulada em seis
salários mínimos e meio; com a correção inferior à do salário mínimo, essa
aposentadoria está hoje em três salários mínimos e vai continuar caindo.
No
cenário geral também não faltam preocupações. Segundo a ONU, a população global
até 2050 passará dos 7,2 bilhões atuais para 9,6 bilhões – onde buscar água,
alimentos, recursos materiais (o consumo atual já está em 7 toneladas anuais
por habitante)? Os países considerados “desenvolvidos” chegarão a 1,3 bilhão de
pessoas, pouco mais de 20%n do total. Hoje, com menos de 20%, consomem quase
80% dos recursos planetários e têm a mesma proporção na renda. A Europa
diminuirá sua população em 14%. Já em 2028 a Índia deverá superar a população
da China e atingir 1,45 bilhão de pessoas – e ambas terão 400 milhões de idosos
cada. A Nigéria terá mais habitantes que os Estados Unidos. A expectativa média
de vida na Europa chegará a 89 anos.
Que
farão os países hoje ditos “em desenvolvimento” ou então os “subdesenvolvidos”?
Os 49 países menos desenvolvidos devem dobrar para 1,8 bilhão em 2050 sua
população de 900 milhões (Rádio ONU, 4/6). Como alimentá-las e prover tudo de
que precisam, se a distribuição da renda e da produção no mundo não se alterar
até lá? O analista internacional Vitor Gomes Pinto escreveu neste jornal há
poucas semanas (27/7) que a China, que até puniu pessoas que tiveram mais de um
filho, agora pode inverter sua política, pois seu crescimento econômico já está
ameaçado pelo “declínio acelerado na oferta de mão de obra”. Em 2015 já
permitiria dois filhos por casal.
Tudo
conflui sempre para uma mesma equação: haverá solução para os macroproblemas
globais sem mudanças profundas no quadro de produção e da renda no planeta?
Como levar a lógica da sobrevivência a sobrepor-se à lógica financeira –
qualquer que seja a ideologia ou visão de mundo que se tenha? Vai-se continuar
com 257 pessoas – que têm mais de US$ 1 bilhão cada – tendo ativos superiores
aos de mais de 40 países mais pobres, onde vivem 600 milhões de pessoas,
segundo o Pnud/ONU?
Goste-se
ou não, queira-se ou não, é essa a equação que está diante de todos nós,
viventes. Diante do que se fizer, poder-se-á ter mais paz ou mais conflitos.
PS –
Na última hora antes da reunião da última quinta-feira do Conselho Nacional do
Meio Ambiente, este órgão e o Ministério do Meio Ambiente decidiram adiar uma
resolução – que vinham apoiando, como comentado aqui na semana passada – que
permitiria “o uso, em fertilizantes, de poluentes industriais como metais
pesados e outros metais contaminantes ou micronutrientes que podem prejudicar o
solo, assim como consumidores de alimentos ali gerados”. Ainda bem.
>>>
A força dos negros no
empreendedorismo, por LUIZ BARRETTO, Presidente do Sebrae Nacional - CORREIO
BSB 12.09
O Brasil registra, na última década, a evolução de
indicadores socioeconômicos que embasa a construção de uma sociedade mais
desenvolvida e mais justa. Nesse processo, o empreendedorismo tem sido
protagonista.
Mais do que uma oportunidade de evoluir na
vida, como ocorre em tantas economias mais desenvolvidas, aqui no país ele
também é um fenômeno de inclusão social. Agora temos mais elementos para
apostar no potencial de transformação do empreendedorismo. Os negros, grupo
historicamente discriminado, aumentaram a participação em atividades
empreendedoras e comandam quase a metade do total de empresas no Brasil.
A
informação é de um estudo inédito do Serviço Brasileiro de Apoio à Micro e
Pequena Empresa (Sebrae), que buscou detectar as principais características dos
donos de negócio no Brasil, de acordo com a raça declarada por eles mesmos à
Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad), do IBGE. O trabalho revelou
que, entre 2001 e 2011, o número de empreendedores negros passou de 43% para
49%. A participação relativa dos brancos caiu de 56% para 50%. A categoria
“Outros”, que inclui aqueles que se autodenominam amarelos ou indígenas, por
exemplo, permaneceu na faixa de 1%.
A
participação crescente dos negros no empreendedorismo acompanha a evolução
desse grupo na população brasileira e é apoiada pelo crescimento geral da
renda. No contexto do crescimento da classe média, que viabilizou a ascensão
social de mais de 40 milhões de pessoas na última década, grupos historicamente
mais pobres são destaque. Oitenta por cento dos novos membros da classe média
são negros. A renda desse grupo, bem como a dos nordestinos, cresceu o dobro da
média da classe C nos últimos 10 anos, segundo o instituto Data Popular. Esses
dados mostram que a classe média cresce com redução da desigualdade.
É
possível verificar um círculo virtuoso: o processo de inclusão social fortalece
o empreendedorismo, que, por sua vez, viabiliza maior inclusão social. Exemplo
disso é a relação entre microempreendedores individuais — categoria que tem
faturamento bruto anual de até R$ 60 mil, ou R$ 5 mil por mês — e beneficiários
do Bolsa Família, programa voltado para famílias em situação de pobreza e de
extrema pobreza. Atualmente, cerca de 10% de microempreendedores individuais
são beneficiários desse programa. Esse percentual tem evoluído gradativamente,
demonstrando que esse grupo busca meios para gerar renda e não depender,
exclusiva e indefinidamente, do governo.
Por
reconhecer o potencial empreendedor dos beneficiários do Bolsa Família, o
Sebrae tem atuado intensamente para capacitar microempreendedores individuais
em todo o país. É de importância estratégica qualificar esse público, o que
repercute positivamente não apenas nas famílias dessas pessoas, mas também nas
economias local e nacional.
Os
avanços merecem ser celebrados, mas há muitas estatísticas que precisam ser
modificadas. Em geral, os negros ingressam mais cedo no mercado de trabalho e
entre eles há uma proporção elevada de indivíduos que atuam em atividades mais
simples, de menor valor agregado ou maior precariedade. No grupo dos brancos,
verifica-se maior proporção de empreendedores que atuam em atividades mais
especializadas e de maior valor agregado. Que fatores impactam decisivamente
nessa diferenciação? O grau de escolaridade e a capacitação empreendedora estão
entre os principais.
Não é
possível dissociar o êxito no empreendedorismo do nível de capacitação do
empresário. A atividade empreendedora deixou de ser um caminho emergencial para
quem não tinha alternativa de renda e cada vez mais é buscada devido à
identificação de uma oportunidade no mercado. Abrir uma empresa, porém, é
apenas o primeiro passo. Para que o negócio tenha chances de consolidação e de
longevidade, o empreendedor precisa ter iniciativa de se capacitar de forma
contínua. Caso contrário, sua empresa não terá condições de enfrentar a
concorrência, numerosa e bem preparada.
No
Sebrae, buscamos oferecer cursos variados, com linguagem e didática segmentados
para cada tipo de empreendimento: microempreendedores individuais,
microempresas e pequenas empresas. Temos a convicção de que a melhoria da
gestão proporciona uma série de impactos positivos. A empresa ganha mais
competitividade e amplia o potencial de faturamento e os empresários passam a
ter mais qualidade de vida. A elevação no patamar de renda de um grupo aumenta
a capacidade de consumo, movimenta a economia local e beneficia o contexto
socioeconômico nacional.
A
redução das disparidades sociais no país está relacionada a avanços na
educação, o que inclui valorização da capacitação empreendedora. A diminuição
da desigualdade racial entre os donos de negócio no Brasil é uma evolução
bem-vinda, mas todos sabemos que ainda há muito a ser feito para tornar nossa
sociedade mais justa. Essa construção deve incluir o fortalecimento do
empreendedorismo no país, alternativa de acesso cada vez mais democrático e
atraente para todos os brasileiros.
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