sexta-feira, 30 de agosto de 2013

MANCHETES DO EDU

Diplomata inteligente se refugia na literatura. CORREIO BSB 30.08


O Correio Braziliense, edição de 27 de agosto, foi duro e verdadeiro em sua manchete: “Crise joga Itamaraty no inferno”. O jornal da capital da República aborda com mais propriedade e mostra os fatos que estão na mídia do mundo inteiro.

— O senador Roger Pinto Molina, depois de 450 dias asilado na Embaixada do Brasil, em La Paz, encontrou a liberdade pelas mãos do diplomata Eduardo Saboia, que, numa viagem dramática de 22 horas, rodou 1.600km e chegou ao Brasil quase sem gasolina.

— Antes, o embaixador brasileiro na Bolívia, Marcel Biato, havia sido afastado do posto em La Paz por exigência do presidente Evo Morales.

— A presidente Dilma Ro usseff decidiu demitir o ministro das Relações Exteriores, Antônio Patriota, por perceber que ele não estava indignado o suficiente com o episódio...

— A jornalista Miriam Leitão faz um comentário ácido: A presidente Dilma bateu boca com um diplomata “e, pior, ao negar o que ele disse, acabou confirmando...”.

— O embaixador boliviano no Brasil, Jerjes Talavera, lavou as mãos e disse que a demissão do chanceler Antônio Patriota é um “problema interno do Estado brasileiro”.

— Os atos de força de Evo Morales contra o Brasil são constantes: ele mandou revistar o avião do ministro Celso Amorim e invadiu, de surpresa, as refinarias da Petrobras com tropas do exército boliviano.

Não sei por que o governo brasileiro é tão cordato com Evo Morales, com as Farc, com Cuba e tão parceiro das sangrentas e corruptas ditaduras africanas. Sim, já perdoou as dívidas do Congo, do Sudão, da Guiné Equatorial e do Gabão. Agora o governo quer a aprovação da liquidação das dívidas de Zâmbia, Tanzânia, Costa do Marfim e República Democrática do Congo. O perdão da dívida desses países soma mais ou menos R$ 1,8 bilhão.

A população desses países é pobre. Mas os ditadores são biliardários. Por exemplo: Teodorin, filho mais velho e possível sucessor do ditador Oblang (Guiné Equatorial), gastou num só leilão de arte na Christie’s, em Paris, o dobro da sua dívida com o Brasil. E comprou uma mansão em Malibu, na Califórnia, de 48,5 mil metros quadrados, ou seja, 15% do tamanho de Ipanema, no Rio.

É bom ficar claro: o governo federal perdoa a dívida, mas é cada um dos 201.032.714 brasileiros que paga a conta. No rateio, são R$ 8,95 por pessoa.

Eu fiz esta abertura toda para voltar no tempo. Li uma entrevista que Clarice Lispector fez para o jornal Última Hora com a escultora e embaixatriz Maria Martins, mulher do diplomata Carlos Martins.

Maria Martins, mineira de Campanha, no sul de Minas, é uma das artistas mais premiadas na Bienal de São Paulo. Era amiga de artistas como Picasso, Mondrian e do pintor e escultor franco-estadunidense Marcel Duchamp. Suas esculturas, que estão espalhadas pelos principais museus do mundo, têm uma característica muito forte, por apresentar formas orgânicas, contorcidas e sensuais. São inspiradas em culturas arcaicas e nas lendas amazônicas. Ela foi destaque na Corcoran Gallery of Art, em Washington, e o Museu de Arte Moderna de Nova York, o MoMa, tem obras sua.

Tendo acompanhado o marido embaixador em vários países e convivido com reis, rainhas e artistas de primeira grandeza, Maria Martins, ao dar essa longa entrevista para Clarice Lispector, foi direto ao ponto, logo na primeira pergunta, justamente sobre a importância atual da diplomacia.

— Outrora, a vida diplomática era uma beleza. O embaixador representava seu gover no. A responsabilidade era total. Hoje, a diplomacia é uma droga. O diplomata não passa de um caixeiro-viajante para vender café, meia de náilon etc.

E mais: “Quando o embaixador tem uma vitória política, se por acaso acontece, é do governo. Quando tem um fracasso, é dele, diplomata”.

Mais interessante, ainda, é que Maria Martins termina sua resposta com uma pergunta para a entrevistadora, que também era mulher de diplomata:

— E você, Clarice, qual é a sua experiência de vida diplomática, você que é uma mulher inteligente?

— Não sou inteligente, sou sensível, Maria. E, respondendo à sua pergunta: eu me refugiei em escrever.

Clarice Lispector volta ao tema: “E como você conservou sua espontaneidade, mesmo depois de uma longa carreira de mulher de diplomata, o que é raríssimo?”.

Maria Martins não pestanejou: “Eu respondo como você: porque eu me refugiei na arte”.
A pergunta que deixo é simples. Dada a facilidade de encontros pessoais e de comunicação on-line entre presidentes, chefes de Estado e chanceleres, que papel têm hoje os diplomatas? Será que os diplomatas inteligentes têm mesmo que se refugiarem na literatura e na arte?



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Educação, uma área cheia de crises Distrito Federal sofreu com indecisões na implementação de ciclos e semestralidade, além do ensino integral. Creches prometidas também não foram construídas. São sérios problemas deixados por antecessores que novo secretário terá que resolver CORREIO BSB 30.08



Nomeado em meio a rumores de acordo político para a campanha de 2014, o arquiteto Marcelo Aguiar, até ontem filiado ao PDT, assume uma das pastas mais importantes do governo do Distrito Federal. Trata-se de um setor que enfrenta crises desde o início da atual administração e é apontado até por aliados do governador Agnelo Queiroz (PT) como uma área que não deslanchou. Entre os principais entraves, está a política pedagógica de ciclos para o ensino fundamental e de semestralidade para o médio. A implementação da educação integral também é uma das pendências. Ainda entra na lista a melhoria do diálogo com as entidades representativas.

Marcelo Aguiar assume o cargo no lugar de Denilson Bento da Costa, que passa a exercer a função de assessor especial de Conteúdo e Informação, da Governadoria do DF. Denilson sofreu forte desgaste após anunciar, no início do ano, a mudança pedagógica em 291 escolas, sem a devida discussão com a sociedade. O governador chegou a intervir, mas a avaliação é de que um recuo causaria um prejuízo aos mais de 148 mil estudantes afetados. A decisão foi parar na Justiça, por intermédio do Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT), e continua a somar multa diária de R$ 1 mil por descumprimento.

O imbróglio afetou ainda a relação do governo com as entidades representativas. “Esperamos um compromisso moral do novo secretário em abrir a discussão com a categoria para que o projeto seja legitimado ou não”, afirmou o diretor do Sindicato dos Professores (Sinpro), Washington Dourado. A crítica do dirigente é de que a proposta ocorreu sem planejamento e sem o diálogo com todos os setores interessados.

A educação integral nas escolas públicas também é alvo de críticas. Embor a o GDF tenha anunciado, em maio, a adoção do sistema em 272 das 654 unidades escolares, a reclamação de profissionais do setor é de que falta estrutura para atender os estudantes por 7 horas diárias na maioria das instituições e por 10 horas em, pelo menos, 23 escolas. “Não houve ampliação de espaço para atender a demanda. Uma política como essa precisa de sala de recursos, local para descanso, atividades lúdicas e alimentação adequada. Não conheço unidades que tenham essas condições”, completou o diretor do Sinpro.

Velocidade
Com a previsão de construir 111 creches até 2014 e entregar 50 instituições nos próximos quatro meses, o secretário deve correr contra o tempo. Atualmente, apenas 15 estão prontas e em pleno funcionamento. A indicação de Aguiar é justificada como uma reação a um dos pontos mais atacados da gestão de Denilson, a morosidade. “Ele me escolheu pela experiência que tenho na área e e m gestão. Vou trabalhar 24 horas por dia para tentar resolver a maior quantidade de problemas possíveis na área”, assegurou Marcelo Aguiar. Ele ressaltou ainda algumas prioridades da nova gestão e disse que começa a trabalhar hoje, embora a posse seja só na semana que vem (veja Três perguntas para).

Para a Associação de Pais e Alunos do Distrito Federal (Aspa-DF), a chegada de Aguiar também representa uma esperança na solução de problemas deixados pela gestão anterior. Denilson não teria conseguido construir um canal de interlocução com o setor, de forma mais aberta. Segundo o presidente da Aspa, Luis Claudio Megiorin, isso foi um dos motivos dos desgastes. “Havia reclamações dos professores, dizendo que não eram ouvidos. Esperamos que surja um equilíbrio, sem ignorar que existem pais organizados, profissionais da educação, para construir uma política de Estado e não meramente de governo”, observou.

Em 32 meses da administ ração de Agnelo, Aguiar é o terceiro secretário de Educação. Antes de Denilson, a professora Regina Vinhaes, da Universidade de Brasília (UnB), exerceu a função por nove meses. A nomeação de Regina foi o motivo do rompimento entre o governador e o senador Cristovam Buarque (PDT-DF), aliado de campanha que esperava ser consultado sobre a indicação. A secretária nunca conseguiu comprovar autoridade na pasta e sofreu boicotes de petistas. Caiu, mas os problemas políticos persistiram com Denilson, representante do Sinpro e da corrente petista CNB, que tem como principal expoente o presidente regional do partido, deputado Roberto Policarpo.

O novo secretário de Educação já enfrentou momentos conturbados. No governo de José Roberto Arruda, assumiu o cargo de secretário extraordinário de Educação Integral pouco antes da crise de 2009, que derrubou todo o primeiro escalão da administração. Considerado um discípulo de Cristovam, Aguiar foi conv idado pelo governador de transição da época, Rogério Rosso (hoje no PSD), para assumir a Educação. Aceitou, mas pediu licença quando Rosso declarou apoio à então candidata Weslian Roriz (PSC). O último cargo que exerceu foi o de secretário executivo do Ministério do Trabalho. Ele ingressou no posto em meio a uma outra crise política, quando o órgão teve um chefe interino por mais de seis meses, depois da queda do então titular da pasta e presidente nacional do PDT, Carlos Lupi.

Menos reprovação

No início do ano, o governo anunciou o Currículo em Movimento da Educação Básica. Ele extingue o ensino seriado até o 5º ano para o ensino fundamental. Os alunos instalados nesse modelo são avaliados com frequência, mas sem reprovação. Somente no último ano do ciclo é que estão sujeitos à retenção. No ensino médio, a organização é realizada por semestr es. Nos primeiros seis meses do ano, o aluno aprenderia exatas e no outro, humanas, por exemplo.

Três perguntas para


Como secretário, o senhor terá 1 ano e 4 meses para resolver uma série de problemas. Vai definir alguma prioridade?
Ninguém resolve tudo, todos os problemas, em um período como esse. Vou trabalhar 24 horas por dia para poder resolver o máximo de questões possíveis. O nosso objetivo maior é melhorar a qualidade da educação. A educação integral é um dos fatores que podem contribuir para isso. Essa será uma das nossas bandeiras. Outra prioridade é concluir a construção das creches. Pretendemos inaugurar 50 estabelecimentos desse porte até o fim do ano e 111 até 2014.

Como pretende melhorar a educação integral?
Essa é uma bandeira pessoal, do meu partido. Embora minha indicação não seja pelo PDT, não vou deixar de defender o que acredito. Vamos encontrar uma forma de acelerar o atendimento de educação integral até o ano que vem. Uma ideia é escolher uma cidade para implantar esse modelo com exclusividade. Podemos retomar o projeto Educação Ideal, iniciado em 2003 pelo Ministério da Educação. Ele estabelece parâmetros mínimos de equipamentos para a edificação de cada escola. Toda instituição deve ter, por exemplo, biblioteca. Faremos um diálogo social, envolvendo todos os atores da cidade escolhida, para iniciar o procedimento.

Como vai abordar a implementação dos ciclos e da semestralidade?
Vou estabelecer um diálogo com o Ministério Público e o judiciário, com o Sinpro, com as escola s e as regionais de ensino. Faremos uma discussão ampla sobre esse assunto com toda a sociedade. Para este ano, defendo que não sejam feitas mudanças para que não haja prejuízo para os alunos. Até onde sei, não há uma rejeição ao sistema, mas, sim, à forma como ele foi implantado. Por isso, vou tentar uma solução ouvindo todos os interessados nessas mudanças, abrindo a discussão, ouvindo as categorias.






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