terça-feira, 20 de agosto de 2013
Manchetes de Brasilia
Ruy castro FOLHA SP 19.08 ( VALE A PENA LER)
Crianças brincando
RIO DE JANEIRO - Uma psicóloga da PM-SP defende que
crianças de oito anos podem manusear armas de fogo, "desde que
acompanhadas pelos pais". É normal, diz ela, que o filho de um policial
tenha curiosidade sobre o instrumento de trabalho de seu pai, "assim como
o filho do médico tem sobre o estetoscópio". A recente tragédia em São
Paulo, envolvendo o menino Marcelo Pesseghini, 13, suspeito de matar seus pais
(ambos, policiais militares), a avó e a tia-avó, e que se matou em seguida,
tudo a tiros, não abalou sua convicção.
Vejamos. É normal que o filho de oito anos de um
piloto de aviação tenha curiosidade sobre o instrumento de trabalho do pai -o
avião. Isso autoriza o piloto a pôr o filho na cadeira do copiloto e
"acompanhá-lo" enquanto ele pousa o aparelho levando 300 passageiros?
O filho de um madeireiro, apenas por ser quem é, estará autorizado a brincar
com uma motosserra? E o filho de um proctologista estará apto a manipular o
instrumento de trabalho de seu pai?
O que dizer do filho de um funcionário de
laboratório de análises encarregado de certos exames? E o filho de um carteiro,
vai brincar com minha correspondência? E o de um bombeiro, vai brincar com
fogo? E o de um motorista de ambulância? E os de quem trabalha com material
tóxico, explosivo ou radiativo -como satisfazer sua curiosidade por aquelas
coisas de que os pais falam com tanta naturalidade ao jantar?
A professora Maria de Lourdes Trassi, da Faculdade
de Psicologia da PUC-SP, rebate o argumento da psicóloga da PM, dizendo:
"O cirurgião pode até dar o estetoscópio ou a luva [para o filho brincar].
Mas não vai lhe apresentar o bisturi".
Também acho. E há muitas coisas com que o filho de
um PM pode brincar -gás de mostarda, bombas de gás lacrimogêneo, balas de
borracha-, sem ter de apelar
para armas de fogo.
Ruy Castro, escritor e jornalista FOLHA SP 19.08
.>>
PONTO A PONTO/ MONARCO »
Na cadência do bamba
Líder da Velha Guarda da Portela completa 80 anos
com um acervo de sambas antológicos e muitas histórias para contar
CORREIO BSB 20.08
PRIMEIRO ENCONTRO
Eu era garoto quando ouvia o nome do Cartola no
rádio. Herivelto Martins tinha um samba que citava o nome dele… Anos depois,
fui conhecê-lo. O destino o levou para a Portela. Ele e Carlos Cachaça foram na
quadra da escola e eu fiquei perto, só olhando para ele. Tempos dois, fui no
ZiCartola (bar de Cartola e de dona Zica na Rua da Carioca), mas fiquei só na
porta, porque não tinha dinheiro. Todo mundo ia lá, Jair da Portela, Paulinho
da Viola, Zé Keti. Cartola chegou perguntando quem era Monarco e me apresentei.
Ele me chamou para entrar no bar e, no camarim, eu o vi ensaiando a música
Acontece. Não consigo esquecer aquele dia. Foi nosso primeiro encontro e dali
passamos a ter mais intimidade.
O AMIGO CARTOLA
Adorava ficar perto do Cartola ouvindo as histórias
dele. Sempre perguntava como ele compunha determinadas músicas. E ele me
explicava. Uma vez, eu, Geraldo Babão, Xangô (da Mangueira) e outros
compositores participamos de um concurso que escolheria um samba para o
cartunista Lan. Tive a sorte de ver minha composição vencedora, e todos nós,
inclusive o Cartola, participamos da gravação. Cartola me convidou para almoçar
e ficamos horas conversando. Lembro de perguntar sobre a música O mundo é um
moinho. Eu achava que era para alguma mulher que tinha machucado o coraçãozinho
dele. Mas não. Ele tinha feito para uma filha adotiva, a Creuza, que foi ganhar
vida fácil. Aí, Cartola passou ser meu amigo…
Carlos Cachaça
Eu ia para a casa do Carlos Cachaça e ficava lá
horas, ouvindo histórias. Ele me contava sobre as vezes que Noel Rosa chegava bêbado
na casa do Cartola, e a Deolinda cuidava do Noel… Ou da época que o samba era
perseguido pela polícia e o Cartola chegou a ter uma roupa rasgada por um
delegado. Gostava de conversar com ele. Fiz até uma música para o Carlos: “O
samba, nunca foi de arruaça/Quem sabe é Carlos Cachaça”. Homenagem ainda em
vida!
samba com Zé Keti
Colhi muitas coisas boas da amizade com Zé Keti.
Criamos até um samba juntos, Tarde demais. Fiz a primeira parte e ele colocou a
segunda. Viajávamos juntos no trem e ouvia os sambas novos que ele fazia.
Durante um tempo, ele ficou mal, pois não estava gravando, só trabalhando na
Gráfica Mauá. Mas, depois, cantou com Jamelão e Nara Leão; estourou com Máscara
negra, A voz do morro e Diz que eu fui por aí. Tudo o que Zé Keti fez nas
décadas de 1950 e 1960 deu certo. Teve um momento brilhante na música
brasileira. Ele é outro compositor injustiçado, de quem ninguém fala e se
lembra. Isso acontece porque os ídolos são esquecidos rapidamente no Brasil.
Geraldo Pereira
Geraldo é outro grande compositor de quem pouco se
fala. Ele era um mulato falante, que gostava de tomar umas e outras. Quando
bebia, ficava meio bravo. Em Escurinho, ele cantava “O escurinho era um escuro
direitinho/Agora está com mania de brigão”. A letra foi feita para um rapaz que
entrou num assunto sem ser chamado, numa conversa de bar. Mas a música podia
ser para ele mesmo, porque era muito brigão. Tanto, que dizem que o fim dele
foi durante uma briga com Madame Satã. Geraldo morreu novo, com 37 anos. No
auge da carreira dele.
O POETA Noel Rosa
Foi outro que morreu novo, em 1937, com 26 anos. Eu
era criança, mas me lembro perfeitamente da minha irmã Iolanda falando dele.
Não existiu outro como ele. As obras que ele compôs são lindíssimas. Imagina se
ele tivesse vivido mais 10 anos…
Nelson Cavaquinho
Nelson gostava dos botecos mais imundos. Tinham
vários na Praça Tiradentes (centro do Rio de Janeiro). As mulheres pediam para
ele cantar e com aquela voz rouca e o violão debaixo do braço, cantarolava “Se
eu for pensar muito na vida / Morro cedo, amor”. Convivemos muito juntos. Ele
foi até o padrinho do meu segundo casamento. Nelson era muito generoso e
religioso. Sempre dava esmola e só almoçava com um copo de água em cima da
mesa.
Paulo da Portela
Não fui aluno do Paulo diretamente, porque já tinha
ido embora da Portela. Expulsaram Heitor dos Prazeres e Cartola de um desfile
e, como Paulo era muito amigo deles, se aborreceu com aquilo e se afastou. Mas
foi ele quem lutou por todas as escolas. Ele visitava autoridades, com o
prefeito Pedro Ernesto, e pedia subvenção para as escolas. Paulo da Portela
também civilizou o sambista. Ele dizia “pra que levar a navalha no bolso se a
gente vai comer e beber entre amigos?” e “já nos olham torto e vocês ainda vão
andar maltrapilhos?”
Lembro de perguntar sobre a música O mundo é um
moinho. Eu achava que era para alguma mulher. Mas não. Cartola tinha feito para
uma filha adotiva, a Creuza, que foi ganhar vida fácil”
“Nelson Cavaquinho era uma pessoa muito generosa e
religiosa. Ele sempre dava esmola e só almoçava com um copo de água em cima da
mesa”
>>>
Poder que humilha será poder contestado
Agência Brasil 20/08 / Todas as manifestações surgiram de algum
fato banal ou aparentemente ordinário mal interpretado pela imprensa e,
principalmente, por governos
.
Tão logo as manifestações populares ocuparam as
ruas de várias capitais, em junho, o nome de Manuel Castells passou a ser
lembrado por muitos que tentam compreender os novos movimentos sociais. Nenhuma
surpresa. Diretor do Instituto Interdisciplinar de Internet na Universidade
Aberta da Catalunha, o sociólogo espanhol é um dos acadêmicos mais citados no
mundo. Surpreendente mesmo é a sociologia, depois de passar décadas sob a pecha
de uma ciência em decomposição, ver universidades fecharem seus departamentos
ou reduzirem orçamentos para pesquisa na área e até levar Anthony Giddens a
sair em sua defesa, testemunhar um sociólogo chegar ao século XXI como o grande
intérprete dos novos tempos. Pois é isso que é Castells. Seu "Redes de
Indignação e Esperança" torna-se indispensável para quem está nas ruas ou
para quem quer, ou precisa, entendê-las em toda sua complexidade. No entanto,
antes de abrir o livro, é preciso explicar porque o autor alcançou tal estatura.
No Brasil, Castells é muito citado e pouco lido
além das fronteiras da universidade. São convenientes algumas informações sobre
a construção de seu pensamento a respeito do capitalismo pós-internet. A
empreitada começou na década de 1970. Nessa fase, com uma coloração marxista -
que iria empalidecer no futuro, mas, de forma alguma, seria abandonada na
essência -, iniciou sua reputação acadêmica com estudos sobre urbanismo. Seu
livro "A Questão Urbana" (Ed. Paz e Terra) até hoje é referência no
tema da especulação imobiliária e o conluio desta com os poderes municipais.
Mas é com a trilogia "A Era da Informação" (Ed. Paz e Terra) formada
pelo famoso "A Sociedade em Rede" seguido de "O Poder da
Identidade" e "Fim de Milênio", publicados aqui em 1999, que
Castells ganha maior amplitude como formulador de teses e conceitos que hoje o
fazem referencial.
O que Castells antecipou do que o planeta vê hoje
nas ruas? Simplesmente, tudo. Uma releitura atenta da trilogia à luz dos
movimentos Primavera Árabe, Comboio da Liberdade, Occupy Wall Street, Los
Indignados ou Passe Livre e Mídia Ninja constata a justiça feita por Anthony
Giddens quando o comparou ao Max Weber de "Economia e Sociedade".
O "contrapoder" sempre existiu, mas agora
é exercido pelos movimentos sociais municiados pela força da comunicação
Com base em uma metodologia historicista, Castells
analisa a passagem do capitalismo industrial para um processo definido por ele
como informacionalismo. Enquanto no capitalismo industrial as fontes de energia
determinavam o ritmo de "modernização", no capitalismo informacional
a produtividade acha-se na tecnologia de geração de conhecimento, de
processamento da informação e de comunicação em símbolos.
O leitor deve, a esta altura, estar inclinado a
trancar Castells atrás dos portões da universidade. Aos poucos, porém,
perceberá quanto suas categorias explicam a prática. O capitalismo
informacional cria, segundo ele, um "tempo intemporal", um
"espaço de fluxos", uma nova divisão do trabalho, com consequências
cruéis para quem vive (ou pretende ainda viver) de salário, um enfraquecimento
do Estado, elimina a família patriarcal e alimenta o crime globalizado.
Feminismo, ambientalismo, envelhecimento populacional, sexualidade, religião
são temas visitados por Castells, como se em 1996, quando escreveu, já quisesse
interpretar a imensa variedade de bandeiras dos manifestantes materializados
pelas redes sociais.
"A repentina aceleração do tempo histórico,
aliada à abstração do poder em uma rede de computadores, vem desintegrando os
mecanismos atuais de controle social e de representação política", alertou
Castells há 17 anos. A releitura da trilogia, hoje, espanta pela precisão com
que o sociólogo antecipa os tempos atuais. Quando a novidade na comunicação
mediada por computadores era o e-mail, ele previa a conversa on-line, que ainda
estava em "pesquisas incipientes", e a chamou de "um telefone
que escreve". A tudo isso definiu como "a virtualidade real" ou,
também em suas palavras, "a sociedade interativa", que deixaria o
espaço cibernético a partir da "grande fusão: a multimídia como ambiente
simbólico". Ao contrário de outros pesquisadores da época, ele considerou
o vídeo "on demand" e os games como os grandes protagonistas desse
novo sistema. São eles, escreveu, "que darão forma de maneira considerável
aos usos, percepções e, em última analise, às consequências sociais da
multimídia".
Em 1.644 páginas, Castells errou em apenas uma
linha - literalmente. Sua hipótese era que "devagar, mas com toda certeza,
as práticas comerciais com cartão de crédito e números de contas bancárias
desenvolverão redes separadas, enquanto a internet se expandirá como uma ágora
eletrônica global". Nada comprometedor para quem oferece, em exposição
histórica de tamanho fôlego, um diagnóstico do capitalismo constituído a partir
da década de 1980 com a junção das redes com a crença de que uma economia
desregulamentada e com total liberdade para o capital resultaria em geração de
riqueza, igualdade e desenvolvimento econômico.
Ao descrever o "cassino global" do
"funcionamento em tempo real" do mercado financeiro, Castells retorna
à sua base marxista e filia-se ao economista francês François Chesnais,
expoente da tese da financeirização da economia. É aí que Castells encontra
explicações para sustentar parte do conceito do seu capitalismo informacional e
para explicar como os desdobramentos dessa lógica serviram de combustível para
a crise de 2007/2008 e moldaram a indignação das ruas. Em resumo: a sociedade
em rede hipertrofiou o capital financeiro, foi impulsionada por aquilo que
Antônio Cândido chama de "platibanda liberalóide" e, agora, traz o
grande desafio de reinventar a democracia.
Em "Redes de Indignação e Esperança",
Castells segue o itinerário intelectual de sua trilogia, mas também, sobretudo,
de seu livro "Poder e Comunicação" (Ed. Fundação Calouste
Gulbenkian), embora em "A Sociedade em Rede" já antecipe, ao analisar
os fatos da Praça da Paz Celestial, na China, em 1989, o poder de mobilização
pela infovia. Outros exemplos pioneiros que Castells oferece do que ocorre hoje
é a utilização política da rede, no início da década de 1990, por grupos
fundamentalistas cristãos, milícias americanas e zapatistas mexicanos. Ele
mesmo se espanta e crava um ponto de exclamação ao fim de uma frase: "Um
debate acirrado sobre o problema dos sem-teto (com participação eletrônica dos
próprios sem-teto!) foi um dos resultados mais divulgados desse experimento no
início dos anos 1990 [nos Estados Unidos]".
Tudo que Castells registra agora é apenas a
materialização de sua teoria do fim do século passado. Mas essa seria uma forma
simplista de definir seu novo livro. Seu trabalho é resultado de ampla
investigação empírica e teórica e um diálogo com uma imensa bibliografia. Seu
objetivo é analisar o que há em comum entre todas essas experiências de revolta.
Castells aponta como causa básica para a união global dos indignados "a
humilhação provocada pelo cinismo e pela arrogância das pessoas no poder, seja
ele financeiro, político ou cultural" nas últimas décadas.
E por que só agora? Síntese: o capitalismo
informacional, depois de alterar os modos de produção e de comunicação no
século passado, transforma, de maneira irreversível, o exercício da cidadania.
O "contrapoder" sempre existiu, mas agora é exercido pelos movimentos
sociais municiados pela poderosa ferramenta da comunicação autônoma, livre do
controle dos que detêm o poder institucional. As redes sociais, vedetes dessa
nova configuração, são apenas um componente do processo comunicativo. É
preciso, na visão indignada de Castells, construir "comunidades livres no
espaço urbano, uma vez que o espaço público institucional está ocupado pelos
interesses das elites dominantes e suas redes", incluindo aí a imprensa
institucionalizada. A proximidade é condição imprescindível para a construção
da comunidade. A proximidade também é um mecanismo psicológico para a superação
do medo e explicação da violência de grupos como os Black Blocs. Castells
repete Elias Canetti, autor de "Massa e Poder" (Cia das Letras), para
quem as pessoas superam o medo quando juntas.
Em todos os países onde os movimentos prosperaram,
a violência das forças policiais despertou solidariedade e abriu caminho para
grupos defensores da luta armada. Todas as manifestações surgiram de algum fato
banal ou aparentemente ordinário mal interpretado pela imprensa e,
principalmente, por governos. Em Túnis, começou com um vendedor de frutas que
se autoimolou por fogo para recuperar sua barraca confiscada por fiscais. Aqui,
foram os 20 centavos da tarifa de ônibus. Entre as similaridades, estão as tentativas
de governos de censurar a web. Assim como a polícia do Rio de Janeiro ensaiou
impedir a transmissão de fotos do acampamento diante do prédio onde mora o
governador Sérgio Cabral, o governo do Egito arriscou cortar a internet.
Falhou. Afinal de contas, "a internet é a linha de vida da economia global
interconectada". Sete dias sem internet custaram ao Egito mais de 4% do
PIB.
Fica a recomendação do autor: jamais menosprezar o
que surge na rede e interpretar manifestações individuais como pequenas ou
insignificantes porque, em minutos, a solidariedade fecha a rede e faz de um
mínimo fato algo relevante politicamente, pois tudo é movido pela emoção. As
manifestações permanecem ativas no "espaço de fluxo" e retornam
rapidamente. O Egito, neste aspecto, é o melhor exemplo.
Castells é implacável com a imprensa e aponta seus
sucessivos erros em todos os países, igualando-se à classe política em termos
de perda de credibilidade. O primeiro manifesto divulgado pelos
"Indignados" na Espanha, lembra,"não teve o apoio de nenhum
partido político, sindicato ou associação civil e foi ignorado pela
mídia". O fato de o Jornal Nacional, da Rede Globo, ser obrigado a
explicar porque seu principal âncora estava diante de um estádio de futebol em
Fortaleza no dia da maior manifestação de rua da história do país é apenas a
repetição de um equívoco mundial.
Esse erro coletivo, porém, alimentou a tendência à
autocomunicação, vizinha da autorrepresentação. Castells cita Javier Toret,
pesquisador de tecnopolítica e criador do Indymedia sob o slogan "Não
odeie a mídia, torne-se ela". O Indymedia é um dos coletivos
internacionais similares ao Mídia Ninja, experiências baseadas no poder de a
mensagem construir o meio. A crise de representação destituiu o "formador
de opinião", o jornalista como único intermediário da notícia e sua função
de organizador das mensagens em meio ao "jornalismo de multidão". Até
mesmo o Facebook foi posto em cheque, por ser uma plataforma com proprietários.
Como a rede de Mark Zuckerberg identifica pessoas com um software de
reconhecimento facial, era acusado de ter baixa segurança, pois a empresa
poderia quebrar a privacidade dos manifestantes "caso intimada por
autoridades". Essa suspeita, a princípio, soou como radicalismo - antes do
caso Edward Snowden.
Castells ajuda a entender indagações feitas aos
movimentos. A ausência de liderança se explica porque, segundo ele, os novos
movimentos são contra a adoção de padrões da sociedade que está sendo
contestada. Hierarquia é compreendida na concepção de Sérgio Buarque de
Holanda, isto é, como sinônimo de algum privilégio. Os movimentos são marcados
também por privilegiarem "o processo", em vez do "produto"
ou "resultado" das manifestações. Por isso, são horizontais, apartidários
e raramente são programáticos (exceto contra ditaduras). São voltados para a
mudança dos valores da sociedade e propõem a democracia deliberativa direta.
Nessa ruptura, surgem, inclusive, moedas virtuais, como a do Occupy Wall
Street. A primeira consequência de tudo isso é a mudança da agenda, mas talvez
a mais relevante, no caso do Brasil, ainda esteja por vir com a alteração de
critérios para o voto. Nos outros países foi assim e Castells explica por quê:
as redes estão mudando a mente das pessoas.
"Redes de Indignação e Esperança - Movimentos
Sociais na Era da Internet"
Manuel Castells. Tradução: Carlos Alberto Medeiros.
Editora: Zahar. 276 págs., R$ 49,90
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