quinta-feira, 18 de julho de 2013

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Magos da arte de narrar
Alexandre Dumas e seu filho, que fazem aniversário nesta semana, deixaram um rico legado na ficção e no teatro. CORREIO BSB 18.07



 Athos, Porthos e Aramis: As aventuras dos três mosqueteiros, escritas no século 19, compõem uma das principais obras de Alexandre Dumas     
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Na próxima semana, se estivessem vivos, Alexandre Dumas e seu filho, que têm o mesmo nome, estariam completando respectivamente 211, na quarta, 24, e 189 anos, no sábado, 27. Em comum, além do nome, os dois escritores franceses deixaram um legado na literatura mundial.

 Alexandre Dumas pai é um dos autores mais importantes do século 19, conhecido por romances históricos, como Os Três mosqueteiros (1844) e O conde de Monte Cristo (1844), o escritor começou criando peças de teatro, trabalho no qual foi bem-sucedido, principalmente com Henrique III e Sua Corte (1829), um dos seus principais triunfos no teatro romântico.

 Assim, Dumas conseguiu estabilidade financeira para se sustentar como escritor e, a partir daí, passou a se dedicar aos romances. A professora de literatura francesa da Universidade de Brasília (UnB) Cláudia Falluh Balduíno Ferreira  explica que o fato de Alexandre Dumas levar o contexto histórico vivido pela França na época aos palcos é o que fascina o espectador. “Alexandre Dumas pai tinha o dom do teatro, de fazer reviver a cena com toda a sua exuberância. Os episódios da história da França passam a ser cenas dos dramas que ele compõe. Então, a característica mais interessante é a ação e também o fato de ele buscar personagens que simplesmente fascinam por estarem vivendo o que a França estava passando naquele momento,” afirma Cláudia Ferreira.

Ficção dramática
 De acordo com a professora do Departamento de Teoria Literária e Literaturas da Universidade de Brasília (UnB), Junia Barreto, uma característica que marca tanto a obra teatral quanto a obra ficcional de Dumas pai é a identificação com o espectador e com o leitor. “Ele é um amante do gênero do melodrama. Apesar de haver uma série de inverosimilhanças dentro das peças, as intrigas são tão complexas que elas impõem um ritmo muito grande para o leitor ou para o espectador dentro do que vai acontecer. Dumas se idenfitica menos como autor e mais como espectador ou como leitor então. Com isso, ele se aproxima do espectador e do leitor. Os personagens do Dumas têm uma profundidade particular. Ele é invulnerável, consegue se sair bem de todas as situações, punir os criminosos (uma coisa que é meio improvável). Então,  o leitor se identifica,” explica Junia Barreto.

 Se Alexandre Dumas pai foi do teatro ao romance, seu herdeiro seguiu o caminho oposto. Alexandre Dumas filho iniciou sua carreira publicando poemas em jornais, mas foi o romance autobiográfico (baseado no relacionamento que teve com a prostituta Marie Duplessis) A Dama das Camélias (1848) que o tornou conhecido. Com o sucesso da obra, Alexandre Dumas filho escreveu outros romances e, posteriormente, adaptou A Dama das Camélias para o teatro. Dumas filho se rendeu à carreira de dramaturgo. De acordo com Junia Barreto, “Alexandre Dumas filho conseguiu resistir à queda do teatro quando este entrou em crise”. A Dama das Camélias, inclusive, foi a inspiração para a ópera La Travitta, de Giuseppe Verdi. Em 1874, Alexandre Dumas filho ingressou na Academia Francesa de Letras.

Tanto Alexandre Dumas pai como Alexandre Dumas filho foram segregados pelos preconceitos da sociedade francesa do século 19. O pai, por ser mulato, neto de uma escrava haitiana, enfrentava a discriminação racial da época. “Ele tenta superar o preconceito. Existe uma certa punição dos vilões de uma forma exemplar. Como no Conde de Monte Cristo em que o personagem principal foi enclausurado por muitos anos. Mas depois ele sai, descobre um tesouro, se torna riquíssimo e se vinga dos que o puniram. A maior ‘vingança’ de Dumas (pai) é ele ter sido esse escritor altamente fecundo, pelo fato de alcançar sucesso ainda em vida. Ele calou a boca dos que tinham preconceito devido às origens dele,” acrescenta Cláudia Ferreira.

 Já o filho sofreu por ser herdeiro ilegítimo e muitas vezes ser chamado de bastardo. Além disso, a partir do momento em que foi reconhecido pelo pai e passou a viver com ele, Alexandre Dumas filho padeceu por não conviver mais com sua mãe. O preconceito sofrido e o conflito enfrentado o fizeram criar em 1858 a peça O filho natural, em que expôs a teoria de que se alguém engravidasse uma mulher teria a obrigação de legitimar seu filho e se casar com a mulher. “Dumas filho sofreu com uma vida precária que era a que mãe podia lhe dar. Quando se tornou adolescente, foi viver com o pai, que tinha uma vida enlouquecida,” ressalta Junia Barreto.

Literatura brasileira
Em pleno romantismo, durante o século 19, Alexandre Dumas pai foi amplamente lido pelo escritores românticos brasileiros. Um dos autores mais influenciado por Alexandre Dumas pai foi Machado de Assis. “Machado de Assis cita Dumas (pai) até mesmo dentro da sua obra. Há um conto do Machado que tem um narrador que está lendo dentro do conto capítulos de Os três mosqueteiros e ele usa o que acontece em Os três mosqueteiros dentro do próprio conto. Então a semelhança no início é total,”comenta Junia Barreto. A professora destaca ainda que Henry III e Sua corte fez muito sucesso em Paris e logo os escritores brasileiros queriam ler a peça.

Alexandre Dumas pai: dom para levar a história ao teatro   
Alexandre Dumas pai: dom para levar a história ao teatro

Alexandre Dumas Pai
“Há favores tão grandes que só podem ser pagos com a ingratidão”

“O fardo do casamento é tão pesado que precisa de dois para carregá-lo, às vezes, de três”

Alexandre Dumas filho: habilidade para conceber tramas envolventes       
Alexandre Dumas filho: habilidade para conceber tramas envolventes

Alexandre Dumas Filho
“É mais fácil ser bom para toda a gente do que para alguém”

“Tudo o que pode substituir-se com facilidade pode ser abandonado mais facilmente ainda”


Alguns clássicos

           

Os três mosqueteiros
Publicado na França, em 1844, o livro tem autoria de Alexandre Dumas pai. Para Cláudia Ferreira, o que a história apresenta de mais marcante é o heroísmo. “A questão da fraternidade entre os amigos, o que une os três e a questão do contexto francês da época de luta. Os protagonistas da história encarnavam o ideal da liberdade, o ideal da nação francesa, e as pessoas queriam ver os seus líderes.”

           

O conde de Monte Cristo
O romance escrito por Alexandre Dumas pai foi publicado em 1844, na França. Cláudia Ferreira afirma que nessa obra há semelhanças entre o preconceito enfrentado pelo autor e pelo protagonista. “O autor sai de uma condição inicial de ter uma origem obscura, estranha, que equivale ao momento em que o personagem está preso. No momento em que encontra o tesouro, que ele sai da prisão, equivale ao instante da glória e do apogeu do autor.”

           

A dama das camélias
A obra mais famosa de Alexandre Dumas filho foi publicada em 1848, na França. “Uma característica interessante é o papel da mulher. A mulher é colocada como um ser quase etéreo, ela se envolve carnalmente nas paixões, e não é somente aquela heroína romântica que vive sempre num pedestal, protegida de todos os males. No livro, ela vive a paixão, mas infelizmente sucumbe à doença e ele fica sozinho,” explica Cláudia Ferreira.



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