terça-feira, 16 de julho de 2013
Manchetes do Edu
A crise da administração pública
JOSÉ MATIAS-PEREIRA, Professor e pesquisador do
programa de pós-graduação em contabilidade da UnB, doutor em ciência política
pela Universidade. Complutense, de
Madri, e pós-doutor em administração pela Universidade de São Paulo, é
economista e advogado. CORREIO BSB 16.07
.
Os dados sobre a economia e a política no Brasil
não são nada animadores. Os indicadores divulgados pelo Banco Central e IBGE
revelam que o país vem apresentando sinais de desaceleração no processo de
crescimento, persistência da inflação e perspectivas de elevação do nível de
desemprego. O baixo nível de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) deverá
ficar próximo de 2% em 2013. Diante desses dados, torna-se possível indagar: o
modelo de gestão pública brasileiro contribui para agravar esse cenário?
Observa-se que a gestão pública vem se deteriorando
de forma gradativa nas últimas décadas. Assim, a situação em que o Brasil se
encontra, tanto em termos da baixa qualidade na oferta de serviços públicos,
baixo nível de transparência e corrupção na administração pública não é fato
novo. A variável nova nesse cenário é a determinação da população de exigir
mudanças drásticas na governança pública. A intensificação das vozes das
multidões nas ruas veio acompanhada por uma acentuada queda na aprovação dos
governantes pela população.
Nesse contexto, é bastante sintomática a agenda da
reunião ministerial realizada pela presidente Dilma Rousseff em 1º de julho, na
Granja do Torto. Nela se pediu empenho da equipe para melhorar a produtividade
e a qualidade dos serviços prestados à população. Tratou-se de desdobramento do
encontro que teve com governadores, prefeitos de capitais e políticos, no qual
ela propôs os cinco pactos nacionais: por responsabilidade fiscal, reforma
política, saúde, transporte e educação.
Essa era uma crise anunciada, conforme evidenciado
em diversos estudos acadêmicos apontando para o esgotamento do modelo de
administração pública no país. Constata-se que, apesar dos esforços para
superar o modelo burocrático e implementar o gerencial no país desde meados da
década de 1990, o formato patrimonialista de gestão vem sendo intensamente
retroalimentado na última década, com o crescente aumento da máquina
governamental nos três níveis de governo. Pior: sem critérios técnicos,
agravado pelo descaso com os recursos públicos (criação de ministérios,
secretarias, empresas estatais, aumentos salariais etc.), a negociação de apoio
político e a entrega de ministérios e órgãos estratégicos para partidos, com
distribuição de cargos de elevado nível hierárquico para afiliados, sem levar
em consideração a competência. Esse processo de retroalimentação do
patrimonialismo, além de afetar o desempenho da administração pública, na
medida em que facilita desvios e a corrupção, se apresenta uma ameaça real à
governança e à democracia no país.
Diante dessa, realidade faz-se necessário alertar
que não é possível mudar a situação de deterioração do funcionamento da
administração pública no Brasil nos níveis federal, estaduais e municipais de
forma rápida e com consistência. A solução desse complexo e amplo problema
somente vai ocorrer a longo prazo. Não é possível mudar a qualidade da educação
no país, sem ter professores preparados, bem remunerados e motivados para
ensinar. Isso exige tempo e meios adequados para a efetivação. Os mesmos
critérios valem para áreas como saúde e segurança pública.
A alteração para melhor dessa realidade exigirá
determinação política e muita ação dos atores envolvidos. O sucesso dependerá
do perfil dos futuros governantes e políticos eleitos em 2014. É importante que
os eleitores estejam conscientes de que a mudança para modernizar a gestão
pública no Brasil terá que ser feita por meio de profunda reforma da
administração pública. Para isso, terá que contar, além de um excelente suporte
em termos de infraestrutura e tecnologia, com gestores e servidores preparados e
estimulados, conduzidos por governantes e políticos competentes e éticos, e,
acima de tudo, comprometidos com as mudanças que a sociedade brasileira exige e
merece.
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