quarta-feira, 10 de julho de 2013
NOTÍCIAS DO EDU
Estrangeiros da Flip participam da Flupp, festival das UPPs, no RJ.
"Fiquei fascinado quando me convidaram para
vir à Festa Literária das Unidades de Polícia Pacificadora. É o melhor nome que
já vi para um festival." "É maravilhoso vir a uma área pobre e levar
algo para quem quer que se interesse, gratuitamente", disse Davis. FOLHA SP 10.07
Ainda que com certa ironia, a frase do escritor
irlandês John Banville tinha também um claro tom de contentamento por sua
participação na referida Flupp, no Rio.
Banville, que falou anteontem para um público de
cerca de 500 pessoas -a maior parte estudantes da rede municipal-, foi um dos
sete convidados internacionais da Flip que participaram da festa literária das
UPPs.
O encontro aconteceu na Penha, zona norte do Rio, e
trouxe, entre outros, a franco-iraniana Lila Azam Zanganeh, que, assim como na
Flip, conversou em português com a plateia, e a americana Lydia Davis. Ambas
falaram sobre como se tornar escritor.
"É maravilhoso vir a uma área pobre e levar
algo para quem quer que se interesse, gratuitamente", disse Davis.
Ciente da diferença entre o público da Flip e o da
Flupp, Banville disse que as dificuldades dos jovens mais pobres para obter
livros não pode servir de desculpa para não cultivar o hábito da leitura.
"Eu cresci numa cidade pequena, que não era
exatamente incentivadora da leitura. Na minha casa não havia muitos livros,
tive de descobrir o mundo da literatura por conta própria. Não é impossível,
requer entusiasmo e um pouco de trabalho. E que mal há nisso?"
A Flupp é um evento de longa duração, com três
etapas; a mais curta delas é a que aconteceu no início desta semana,
aproveitando a presença dos estrangeiros.
Entre maio e novembro acontece a Flupp Pensa, série
de oficinas literárias em 20 comunidades do Rio. Nelas são selecionados 41
autores iniciantes que terão seus textos publicados. Os escolhidos serão
anunciados no evento de encerramento, em novembro, na favela de Vigário Geral,
com a presença de autores consagrados.
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"Caubóis digitais" e inovação tiram o sono dos presidentes
Em curso de liderança, eles discutem o futuro
incerto da economia e o desafio de lidar com jovens. (…) André Odebrecht, vice-presidente da
Cassava, diz que hoje empresas precisam se reinventar constantemente. VALOR ECONÔMICO 10.07
.
André
Odebrecht, vice-presidente da Cassava, diz que hoje empresas precisam se
reinventar constantemente
Em um domingo à noite, em pleno verão europeu, 456
executivos do alto escalão se apertam em um auditório para ouvir lições sobre
competitividade internacional. No meio de gráficos e slides sobre dívidas
públicas e crise econômica, uma frase do físico Albert Einstein chama a atenção
da plateia. "Não se pode resolver os problemas com o mesmo tipo de
pensamento usado quando os criamos". Os participantes aplaudem.
A citação de Einstein poderia ser considerada lugar
comum se essa não fosse hoje a principal preocupação dos líderes de mais de 50
países reunidos para o primeiro dia do curso Orchestrating Winning Performance
(OWP), realizado anualmente pela escola de negócios suíça IMD. Liderar para um
futuro incerto, reconhecer que as soluções antigas já não funcionam para os
novos problemas e se adaptar a um mundo onde inovar é questão de sobrevivência
estão entre as prioridades de presidentes e diretores de todo o mundo.
Para o professor Stephane Garelli, diretor do
Centro de Competitividade Mundial e professor do IMD, uma das fronteiras mais
críticas que estamos cruzando agora, além da macroeconômica, é a da nova
mentalidade nos negócios. "Como escola de educação executiva, estávamos
acostumados com todos os 'players' desse mercado. De repente, tudo mudou.
Vieram novos nomes e novas atitudes. Ainda estamos nos acostumando", diz.
Garelli ressalta que "o trabalhador de ontem
tinha um martelo nas mãos, enquanto o de hoje tem um tablet". O resultado
desse processo, segundo ele, não traz somente mais automação nas fábricas, mas
uma mudança nas habilidades, no pensamento e na educação das pessoas.
O grau de preocupação em se adaptar a esse novo
cenário é tão grande que aulas com temas como "Liderança para o
futuro", "Reinventando a cultura corporativa" e o curioso
"A queda do empregador e a ascensão do poder do empregado" têm
lotação completa. Os participantes são executivos como o nigeriano Nnamdi Nwankwo,
diretor do banco africano Access Bank.
Ele acredita que desenvolvimento de pessoas é
tarefa para todos os líderes na organização. "O RH tem a função de definir
ferramentas e diretrizes, mas dentro de uma visão de negócios que é
compartilhada pelo CEO e por toda a companhia", diz. O banco comercial,
com sede em Lagos, tem aproximadamente três mil funcionários e atua em nove
países africanos e no Reino Unido. "Somos uma instituição jovem e muitos
de nossos colaboradores são recém-saídos das universidades. Um de nossos
maiores desafios hoje é engajar e mostrar para essa geração inquieta que eles
têm futuro dentro da nossa empresa", afirma.
O desafio de lidar com membros da geração Y, que já
ocupam posições de gestão nas companhias, é tema constante de debate entre os
executivos. É o caso não só de Nwankwo, mas também da CFO Ong Soo, que atua na
filial malasiana de uma multinacional de bens de consumo. "Muitos jovens
na nossa região já começam suas carreiras pensando em trabalhar em outros
mercados. Temos muitos profissionais qualificados, mas retê-los é o maior
problema", diz.
Diretora do MBA do IMD e autora de um estudo sobre
os líderes da nova geração, que chama de "caubóis digitais", a
professora Martha Maznevski diz que existe uma conexão entre as demandas que o
mundo dos negócios impõe aos executivos hoje e o perfil dos jovens
profissionais. "O panorama atual é muito mais complexo, ambíguo e veloz
que no passado. Não é mais possível traçar planos seguindo expectativas
definidas. Quem fizer isso estará perdendo oportunidades". Ela acredita
que esse pensamento já está incorporado no perfil das novas gerações.
"Enquanto os executivos seniores ainda acreditam que podem estabilizar
esse novo ambiente de negócios, para os jovens o normal é justamente a
imprevisibilidade."
Os "caubóis digitais" são uma
subcategoria dentro da chamada geração Y (nascidos a partir de 1980) que têm
grande potencial de liderança. Esses jovens acreditam em limites fluidos, além
de não verem privacidade e hierarquia da mesma forma que seus antecessores. "Ao
mesmo tempo, ao contrário do que se propaga sobre essa geração, os caubóis
digitais aceitam autoridade, desde que enxerguem nesse superior uma liderança
legítima. É preciso que ele veja sentido em obedecer", afirma.
Aos 34 anos de idade e há dois ocupando o cargo de
CEO da Vodafone Faroe Islands, do setor de telecomunicações, a executiva Gudny
Langgaard conta que tem aprendido na prática essa nova maneira de liderar.
"A relação com nossos antigos chefes era mais baseada em autoridade. Isso
não era questionado, e tornava a vida do CEO muito mais fácil."
Sua experiência como presidente, porém, exigiu que
ela desenvolvesse habilidades como a comunicação e a capacidade de inspirar
pessoas. "Aprendi isso da forma mais difícil, no momento em que subestimei
os sentimentos e as reações das pessoas às mudanças que ocorreram na empresa.
Hoje considero a capacidade de se comunicar e a sensibilidade como as
características mais valiosas de um CEO", diz.
Outro atributo fundamental nesse novo modelo de
liderança é a humildade. Gudny lembra que teve chefes que jamais admitiam seus
erros, pois achavam que isso os rebaixaria e eles perderiam autoridade perante
os funcionários. "Sinto exatamente o oposto. O gestor precisa reconhecer
seus erros. Essa é a única forma de realmente ganhar o respeito de seus
subordinados."
"Conquistar" os colaboradores e
engajá-los na cultura corporativa são desafios que estiveram no centro das
discussões do OWP. O professor de liderança e estratégia Steward Black, que
ministrou a palestra "A queda do empregador e a ascensão do poder do empregado",
explica que fatores como a mudança na oferta e demanda de talentos e no que
chama de "simetria de informações" transferiram mais poder para os
trabalhadores.
"Hoje é fácil para um profissional encontrar
informações sobre a empresa ou o mercado em que quer trabalhar. Porém, uma
companhia que quiser traçar um mapa sobre o mercado de trabalho em seu setor ou
sobre um grupo específico de talentos ainda gasta milhares de dólares com
consultorias e empresas de recrutamento", diz.
Segundo Black, um dos novos desafios para o gestor
atual é entender o propósito de seus funcionários e buscar uma conexão mais
próxima com eles, independentemente de barreiras físicas ou linguísticas.
"Uma consequência dessa transferência de poder é o fato de que o executivo
sênior passou também a desejar esse tipo de contato", diz.
O brasileiro André Odebrecht, vice-presidente da
Cassava, indústria agrocomercial com 400 funcionários e sede em Santa Catarina,
explica que a capacidade de inspirar é o que diferencia um líder de um
administrador da empresa. "O que mais valorizamos dentro da companhia é o
talento com perfil de liderança, que saiba agregar e inspirar pessoas,
independentemente de seu cargo".
O executivo, que há 24 anos comanda duas empresas
familiares, explica que precisou reinventar constantemente a companhia para se
adaptar às novas necessidades do negócio. "Há duas décadas, o resultado
financeiro guiava o desempenho da empresa. Hoje ele ainda é importante, mas
existe uma preocupação muito maior com outros stakeholders, e os funcionários
estão no centro da estratégia", diz.
Uma das consequências desse novo cenário, segundo
ele, foi a mudança de cultura organizacional. "A forma dos líderes agirem
era muito impositiva. Os funcionários não aceitam mais esse tipo de liderança.
Eles querem participar e saber o propósito do que estão fazendo, sua função
dentro dos projetos, como a empresa vai evoluir e de que maneira podem
participar disso", afirma.
Essa transformação da cultura corporativa, segundo
John Weeks, professor de liderança e comportamento organizacional, tem sido uma
preocupação constante dos altos executivos. "As empresas querem mudar
porque precisam ganhar competitividade e atratividade para um número maior de
talentos, especialmente em indústrias que não são exatamente sedutoras para as
novas gerações", diz.
Enquanto as meninas dos olhos das empresas são os
profissionais com espírito empreendedor, de liderança e que tragam ideias
inovadoras, os modelos antigos de recompensa como bons salários e estabilidade
não funcionam mais para esse tipo de perfil. "É preciso traçar uma
estratégia para a mudança, e isso não funciona sem o apoio de uma cultura
organizacional clara. Nesse ponto, o RH não pode fazer nada a não ser dar
suporte. O começo de tudo é o CEO", diz.
Essa consciência de que o CEO também precisa mudar,
porém, ainda não parece ter convencido todos os executivos. No primeiro dia do
curso "Liderando para o Futuro", o professor Preston Bottger
perguntou aos participantes quem estava ali para desenvolver mais líderes em
suas companhias. Dezenas de mãos se levantam. Já na segunda pergunta,
"quem está aqui para desenvolver a própria liderança?", poucos
voluntários levantaram a mão.
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