segunda-feira, 28 de janeiro de 2013
Buenos Aires amplia circuito cultural
Humor é resultado da reivindicação de mais de uma
década de artistas gráficos e cartunistas locais.
No tradicional bairro de San Telmo, um dos mais
antigos de Buenos Aires, na Argentina, e conhecido pelas vendas de antiguidades
e casas de tango, um moderno prédio espelhado contrasta com a arquitetura. Lá
funciona, desde setembro, o Museu de Arte Contemporânea de Buenos Aires
(Macba). VALOR ECONÔMICO 28.01
O novo espaço cultural é mais um investimento privado
nas artes, seguindo o exemplo do mais antigo e conhecido Museu de Arte Latino
Americana (Malba), do empresário do mercado financeiro e imobiliário Eduardo
Constantini, e de iniciativas recentes como a Coleção de Arte Amalia Lacroze de
Fortabat e o Faena Arts Center.
O Macba possui coleção com ênfase na arte abstrata
geométrica. O acervo foi iniciado nos anos 1980 pelo consultor do mercado
financeiro Aldo Rubino, reunindo obras de artistas como o venezuelano Carlos
Cruz-Diez, os argentinos Enio Iommi, Gyula Kosice e Raúl Lozza (1911-2008) e os
brasileiros Lothar Charoux (1912-1987), Almir da Silva Mavignier e João José
Costa da Silva.
A curadora do museu e mulher de Rubino, Constanza
Cerullo, não revela o valor gasto na obra de construção do prédio nem na
aquisição das obras, mas afirma que existe uma demanda para justificar esse
tipo de investimento. "Buenos Aires sempre foi um polo artístico
importante. O público é bastante receptivo a atividades do setor
cultural", diz.
Em apenas quatro meses, o Macba recebeu 15 mil
visitantes. No ano passado, mais de 5 milhões de pessoas visitaram os museus de
todo o país, segundo levantamento divulgado pela agência de notícias do governo
argentino, a Télam. O recordista é o Museu Nacional de Belas Artes (MNBA), de
entrada gratuita, com 1,4 milhão de visitantes.
O Macba destaca a arte abstrata geométrica
O Malba recebeu mais de 340 mil pessoas e, de acordo
com o Observatório de Turismo da Cidade de Buenos Aires, é o segundo mais
visitado por estrangeiros, atrás apenas do Museu Evita. Inaugurado em 2001,
atrai especialmente a curiosidade dos brasileiros por guardar um tesouro: o
"Abaporu", de Tarsila do Amaral (1886-1973), comprado por US$ 1,5
milhão em 1995.
Embora ainda menos conhecidos, a Coleção Fortabat e o
Faena Arts Center têm pelo menos um ponto forte para se consolidarem no roteiro
dos estrangeiros: a localização em Puerto Madero.
O bairro é uma antiga região portuária que se
converteu na maior aposta imobiliária da cidade e tem grande apelo turístico. O
primeiro abriu as portas em 2008 para exibir a coleção particular da empresária
Amalia de Fortabat, que morreu no ano passado. Já o Faena, inaugurado em 2011
num moinho centenário, é um espaço para grandes instalações, como o crochê
suspenso do brasileiro Ernesto Neto, exposto no ano passado.
O setor público também investe em novos espaços
culturais. Do governo federal, um dos destaques é o Museu do Livro e da Língua,
na Recoleta, que, embora menor, tem aspectos em comum com o Museu da Língua
Portuguesa, em São Paulo, como interatividade e acervo virtual.
"Visitamos o museu brasileiro e vimos que nosso
orçamento era muito menor. Mas nos alegra quando os brasileiros chegam aqui e
dizem que há semelhança entre os dois", diz Cecília Calandria, assessora
cultural da Biblioteca Nacional, à qual o museu é vinculado. O custo do espaço,
que mostra a história da língua escrita e falada na Argentina, foi de 12
milhões de pesos em 2011, cerca de R$ 5 milhões.
Em maiores proporções são as cifras da Prefeitura de
Buenos Aires, que tem à frente Maurício Macri, um dos principais opositores da
presidente Cristina Kirchner. Um exemplo foi o investimento de mais de 110
milhões de pesos, ou cerca de R$ 50 milhões, para transformar uma usina
elétrica do início do século passado, na Boca, em uma casa de espetáculos para
até 1.200 pessoas na sala de concertos e 400 na destinada a orquestras de
câmara.
A Usina das Artes abriu as portas em maio. Para o
vice-diretor do espaço, Gustavo Mozzi, a qualidade acústica é um destaque.
"Temos a melhor acústica depois do Teatro Colón", diz.
Ao lado da Usina, foi reinaugurado, numa nova sede em
2011, o Museu do Cinema Pablo Ducrós Hicken, depois de ficar fechado por sete
anos. "Já veio gente do México, do Uruguai para conhecer e levar o modelo
a outros países", diz a diretora Paula Didier sobre o espaço, destinado
exclusivamente à memória do cinema numa configuração de museu.
O acervo tem raridades como uma das nove câmeras dos
irmãos Lumiére existentes no mundo e uma cópia com trechos inéditos de
"Metrópolis" (1927), de Fritz Lang, além de figurinos, croquis,
roteiros originais e mais de 60 mil latas de filmes, principalmente do cinema
argentino.
Outra novidade do circuito cultural portenho é o Museu
do Humor, instalado no prédio da cervejaria Munich, dos anos 1920, em Puerto
Madero. O lugar abriu as portas no ano passado para contar a história da arte
gráfica argentina desde o século XIX.
O país tem tradição na área, com nomes de sucesso
mundial, como o cartunista Quino e a sua mais famosa criação, Mafalda. Segundo
o diretor do espaço, Hugo Maradei, a inauguração do museu é resultado de uma
reivindicação de mais de uma década de artistas gráficos e cartunistas locais.
O circuito turístico do humor se completa com o
recém-lançado Paseo de la Historieta. A ideia é instalar até o final deste ano
estátuas de 15 personagens, a partir da Mafalda, que ocupa uma esquina de San
Telmo desde 2009, seguindo pelas ruas do bairro de Montserrat até chegar ao
museu. "Para transformar os desenhos 2D em monumentos 3D contamos com a
ajuda dos próprios cartunistas", afirma Maradei.
A maioria dos investimentos se concentra na zona sul
da cidade, área mais pobre (com exceção de Puerto Madero) do que a zona norte,
onde estão bairros como Palermo e Recoleta. Uma lei municipal, aprovada em
dezembro, transforma parte da região em Distrito das Artes e prevê incentivos,
como isenção de impostos sobre faturamento por dez anos, descontos de impostos
que vão de 25% a 35% do valor dos investimentos, além de possibilidade de linha
de crédito do banco municipal.
"É uma região que convoca artistas naturalmente
e, transformada em corredor cultural, vai se desenvolver da melhor forma
possível", diz Mozzi.
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Injustiça favorece o Leão
VISãO DO CORREIO
Mais de 25 milhões de brasileiros começam a se
preparar para acertar as contas com o Leão do Imposto de Renda. Quem teve
rendimentos do trabalho ou de outras fontes acima R$ 1.637,11 por mês no ano
passado deve prestar as informações solicitadas no formulário eletrônico da
Receita Federal e, dependendo do tipo de despesas que teve, pode levar uma
mordida adicional às que o Leão já deu todos os meses no contracheque do
assalariado de classe média. É nessa hora que o contribuinte que puxar pela
memória vai descobrir armadilhas armadas contra ele. Correio Bsb 28.01
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Aparentes bondades fiscais podem esconder atos que
resultam em mais arrecadação para o governo e menos renda para o contribuinte.
O exemplo mais comum é o da retenção na fonte em valores acima do que era
realmente devido. Não falta quem comemora a devolução, que pode demorar mais de
um ano, como se fosse um benefício, quando se trata apenas de um erro que não
foi do contribuinte e que nem deveria acontecer, tendo em vista a tecnologia
disponível.
Mas o que o contribuinte vai descobrir quando preparar
a declaração é algo que tira para sempre uma pa rcela de sua renda e, nesse
caso, sem devolução. Trata-se da correção da tabela de aplicação das alíquotas
do Imposto de Renda. Esse é um golpe antigo no bolso do cidadão. A tabela de
descontos na fonte e de cálculo do tributo a pagar no ajuste anual vem sendo
corrigida abaixo da inflação há anos. Atualmente, está em vigor uma lei que
fixa em 4,5% ao ano a correção das tabelas do IR para todo o primeiro mandato
da presidente Dilma, ou seja, de 2011 a 2014.
Trata-se do percentual identificado pelo governo como
o centro da meta de inflação medida pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo
(IPCA). Ora, essa meta foi cumprida pela última vez em 2009. Em 2010, o IPCA
ficou em 5,90%; em 2011, 6,50%; e em 2012, 5,83%. Este ano, pelo menos durante
o primeiro semestre, nem o governo espera inflação de 4,5%. Ou seja, o governo
corrigiu a tabela do IR com um índice com o qual nem ele tem compromisso,
preferindo admitir como satisfatório e não como e xceção o teto de 6,50%. A
perda do contribuinte é óbvia.
Para quem pretende estimular o consumo, essa distorção
poderia ser corrigida, ainda que paulatinamente, já que, por mal antigo, o
acumulado contra o contribuinte é enorme, impagável de uma só vez: 66,4%,
segundo cálculos do Sindicato Nacional dos Auditores Fiscais da Receita Federal
(Sindifisco Nacional). Já foi pior. Logo depois do Plano Real, o governo
congelou por muito tempo a tabela do IR, a título de eliminação da memória
inflacionária. O resultado foi que o crescimento do imposto cobrado das pessoas
físicas ficou cerca de cinco vezes maior do que o dos preços e salários, entre
1996 e 2008, segundo estudo feito à época pela consultoria Ernst & Young.
Como nunca é tarde para trocar o errado pelo certo, a
presidente não terá a menor dificuldade em aprovar rapidamente uma mudança na
Lei nº 12.469/11, antes que os descontos nos contracheques do assalariado
aumente m o tamanho dessa injustiça fiscal.
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Memórias familiares vencem em Mostra de Tiradentes
Uma documentarista que busca, a partir de
entrevistas com seu pai, resgatar memórias familiares e relatos sobre a tortura
durante a ditadura militar foi a grande vencedora da 16ª Mostra de Cinema de
Tiradentes. FOLHA SP 28.01.13
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"Os Dias Com Ele", de Maria Clara Escobar,
venceu os prêmios da crítica e do júri jovem na edição deste ano do festival,
que se encerrou ontem com um público estimado de 35 mil pessoas (ao longo de
nove dias).
Metalinguístico, o filme traz o processo que a
diretora enfrentou ao tentar extrair depoimentos de seu pai, o filósofo e
dramaturgo Carlos Henrique Escobar.
Preso em 1973, ele perdeu quase toda a audição após
ser torturado --desde então, evita falar sobre o ocorrido.
-
Maria Clara parte da história do pai, de quem busca
também lembranças familiares por ter convivido pouco com ele (atualmente vive
em Portugal), para tentar resgatar parte da história da luta armada durante a
ditadura.
Para Cezar Migliorin, professor de cinema da
Universidade Federal Fluminense e mediador do debate sobre o longa, a luta dela
diante do fracasso iminente da empreitada talvez seja "grande parte da
experiência que o filme nos permite".
A ditadura foi também pano de fundo de outras três
obras exibidas em Tiradentes. Entre elas está "Dossiê Jango",
documentário de Paulo Henrique Fontenelle que venceu o prêmio do júri popular.
O longa lança suspeitas sobre as circunstâncias da morte do ex-presidente João
Goulart (1919-76), exilado após o golpe de 1964.
Entre os curtas, Gabriel Martins e Victor Furtado
venceram o prêmio da crítica com "Meu Amigo Mineiro", produzido pelo
coletivo cearense Alumbramento, e o cineasta pernambucano Gabriel Mascaro
venceu os prêmios do júri popular e do Canal Brasil com "A Onda Traz, O
Vento Leva".
Tradicional abertura do calendário anual brasileiro de
festivais de cinema, a Mostra de Tiradentes se consolidou como um espaço para
jovens cineastas e obras mais autorais e experimentais.
Neste ano, o festival ampliou o número de mostras
(para acolher realizadores independentes com filmografias mais extensas) e teve
como tema a produção cinematográfica realizada fora do eixo Rio-SP.
Curiosamente, a grande vencedora foi uma produção paulista.
Vargas Llosa faz crítica pesada ao mercado cultural
-
Gigante de pedra, o Centro de Convenções de
Cartagena, numa península na saída da cidade histórica, estava tão cheio pouco
antes da conferência de Mario Vargas Llosa que parecia que ia afundar. FOLHA SP
28.01
Herta Müller virá ao Brasil para conferência
Uma hora antes da palestra, atração maior do Hay
Festival Cartagena 2013, a fila se estendia até uma enorme escultura de dois
pescadores, do outro lado da rua.
O escritor peruano tem seu sorriso reproduzido em
painéis eletrônicos, cartazes e leques que sua editora distribuiu para combater
os 34°C do noroeste colombiano.
As portas do auditório Getsemaní são abertas e, com um
senso de urgência Fla-Flu, o público toma suas mais de 1.400 poltronas púrpuras.
Mario, como todos se referem a ele, ainda vai demorar a falar.
Antes há o senhor de gravata roxa falando sobre saídas
de emergência (são seis), a lânguida mestre de cerimônia anunciando em tom
cartorial que o Governo do Estado de Bolívar considera "o maestro Mario um
dos grandes escritores da história". E depois o governador (aplaudido) e o
prefeito (vaiadíssimo).
Joaquin Sarmiento/Reuters
O escritor Mario Vargas Llosa em Cartagena
Em Vargas Llosa penduraram uma faixa como a de
presidentes empossados e afivelaram uma comenda. Deram-lhe o título de Hóspede
de Honra e as chaves da cidade, além de três diplomas em pergaminho. Há um novo
rei nessa cidade-emblema da vida e obra do ex-amigo de Mario, don Gabriel
García Márquez.
Quando por fim ouvimos a voz encorpada do autor, ela
traz velhas lembranças do Colégio Militar Leoncio Prado, em Lima. Não à toa.
Nessas vivências forjou seu primeiro romance, "A Cidade e os
Cachorros", do qual hoje se celebram (bastante) os 50 anos.
"A literatura me levou ao colégio militar e o
colégio militar me levou à literatura", sentencia o bom frasista Vargas
Llosa, 76, acrescentando que, assustado com as veleidades poéticas pouco viris
do filho, seu pai decidiu interná-lo ali para que "se curasse".
"A estratégia deu errado. Nunca escrevi tanto
como no colégio militar. Nunca li tanto. E ler foi a coisa mais importante que
aprendi."
Já nessa época, descobriu três autores-bússola para
sua ficção: Flaubert, com a busca incansável pela palavra exata; Faulkner, que
lhe apontou como manipular vozes narrativas; e Sartre, que lhe mostrou como as
palavras promovem transformações.
TRANSFORMAÇÕES
Sobre elas, as transformações, o escritor se ocupou na
segunda parte da conferencia.
Vargas Llosa não anda contente com as mudanças. Em seu
recente "A Civilização do Espetáculo" (a ser lançado neste ano no Brasil
pela Alfaguara), trata do processo da "frivolização da cultura".
"Nas artes, a palhaçada chegou a termos
grotescos, a ponto de museus importantes pagarem centenas de milhões por um
tubarão no formol", sentencia, raivosamente.
A julgar pela fala de Vargas Llosa, o que parece
faltar na cultura é justamente formol.
"Nada gera conformismo como o entretenimento
barato. Podem dizer que a cultura se democratizou, que deixou de ser elitista,
mas é um processo que gera conformismo." Este processo, diz ele, influencia
até o sexo.
"A civilização e a cultura refinaram o ato
sexual, lhe revestiram de uma teatralidade. O erotismo é a desanimalização do
sexo. Com o desaparecimento de uma certa cultura, degrada-se o erotismo.
Estamos nos animalizando."
Antes de concluir, don Mario diz que terminou há pouco
um romance: se chamará "O Herói Discreto" e se passará no Peru
contemporâneo. "Oxalá este sobreviva 50 anos, como 'A Cidade e os
Cachorros'", concluiu o rei do Hay, para então colher minutos ininterruptos
de aplausos.
LIVRO »
Só vou de samba
O antropólogo carioca Marcos Alvito lança coletânea
de histórias divertidas sobre personagens marcantes do gênero.
Cartola é protagonista de um episódio sobre a venda
de um samba no Largo do Maracanã. CORREIO BSB 28.01
Nelson Cavaquinho é lembrado pelo famoso porre do
tempo em que era cabo da PM
Maria Rita, sucesso na voz de João Nogueira, foi
composta por Luiz Grande, autor dos sambas Suburbano feliz e Minha alegria. A
música — que dizia “Por onde andará Maria Rita?/Que andava gingando com laço de
fita” — virou hit nacional e não parava de tocar nas rádios. Luiz Grande também
era chofer de táxi e dizem que, certa vez, um passageiro pediu para aumentar o
volume quando começou a tocar Maria Rita, dizendo que adorava a música. Luiz
ficou na dele e não disse que era o “pai” da composição. Ao contar para os
amigos o episódio, explicou o porquê do silêncio: “Imagina se eu digo pro cara
que eu sou o autor da música? Ele não ia acreditar”.
Esse entre outros “causos” estão em Histórias do samba
— De João da Baiana a Zeca Pagodinho, sétimo livro do antropólogo Marcos
Alvito. “Também sou professor de história e me aproximei do mundo do samba em
1999, quando passei a dar cursos e aulas sobre o tema. Para que as lições
ficassem mais leves, contava episódios da história do samba”, diz Marcos que
decidiu fazer o livro por causa de uma paixão.
“Durante 10 anos, guardei os casos que chegavam até
mim por entrevistas e por pesquisas, quando me apaixonei pela Cabrocha de
Copacabana (nome do último capítulo do livro, que faz referência à esposa,
Licia Paranhos). No afã de conquistá-la, mandava para ela uma história por dia.
E mesmo depois de juntos, continuei escrevendo os contos, quando decidi
reuni-los em um livro.”
A escolha dos episódios que entrariam na publicação
foi rápida e, em seis meses, o autor tinha as 100 histórias, que contam
curiosos acontecimentos do mundo do samba. Uma das mais tristes e “talvez uma
das mais bonitas”, de acordo com autor, é O último samba, que abre o livro. O
capítulo narra os derradeiros momentos de Noel Rosa, ao batucar no tampo da
mesa de cabeceira a composição de despedida.
Crônicas musicais
Histórias do samba — De João da Baiana a Zeca
Pagodinho é um achado para os amantes do gênero. Os mais entendidos verão
histórias clássicas, como a de Nelson Cavaquinho, que era levado pelo cavalo
até o quartel em dias de bebedeiras mais intensas. O problema veio no dia em
que o animal se soltou e voltou sozinho para a repartição militar. Nelson foi a
pé para o serviço e não só encontrou o cavalo, como também um sargento bem
irritado.
Outro famoso mangueirense protagoniza uma cena
interessante com Noel Rosa. Cartola estava com o Poeta da Vila, no Largo do
Maracanã (Zona Norte do Rio de Janeiro), quando encontrou o cantor Francisco
Alves. Sem nenhum tostão e ávida por uma cerveja, a dupla aceitou o desafio de
Chico Viola, que propôs comprar músicas, caso fossem compostas na hora. Cartola
fez Qual foi o mal que te fiz, enquanto Noel criou Estamos esperando. “E este
samba que fiz de parceria/Depois de feito não é dele, nem é meu/Escuta que o
violão está gemendo/Tuas cordas vão dizendo/Que este samba é só teu”, escreveu
Noel no samba de duplo sentido: a letra pode soar romântica, mas também é uma
crítica à avareza de Francisco Alves.
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HISTÓRIAS DO SAMBA — DE JOÃO DA BAIANA A ZECA PAGODINHO
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Qual foi a maior dificuldade durante a pesquisa de
Histórias do samba?
Existe um mar de histórias. Talvez o maior
empecilho tenha sido encontrar a maneira certa de contar esses episódios. É
preciso buscar uma forma que respeite o que aconteceu. Sou historiador. Eu não
invento nada. Não posso fazer nem quero. É preciso encontrar um ponto que
imprima a história com leveza, veracidade e respeito. CORREIO BSB 28.01
Algum episódio foi contado exclusivamente para o
livro?
Sim. Fui a vários sambas de roda da Bahia e a
encontros com a Velha Guarda da Portela e, a partir dali, surgiram os contos,
como o Conexão Juiz de Fora. Samba-zen nasceu depois de uma roda de samba em
Santa Teresa. Como eu misturo minhas histórias com as de grandes sambistas,
essas também são inéditas.
Há planos de escrever outra publicação sobre samba?
Quero escrever mil e uma histórias sobre o samba.
Material é o que não falta. Já estou produzindo um novo livro, porém ainda sem
nome. Sambista não tem pressa.
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