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Raduan Nassar vence o Camões

CORREIO BzB 31/05/2016

Raduan Nassar, de 80 anos, foi o 12º brasileiro a receber a honraria

Escolhido por unanimidade, o escritor paulista Raduan Nassar venceu ontem o Prêmio Camões 2016. Aos 80 anos, Nassar é o 12º escritor brasileiro a vencer o Camões. Entre os ganhadores brasileiros já estiveram Rachel de Queiroz, João Cabral de Melo Neto, Rubem Fonseca, Lygia Fagundes Telles e Ferreira Gullar. Em 2015, Nassar esteve na lista de finalistas para o Man Booker Prize ao lado de José Eduardo Agualusa. Eles foram os dois únicos representantes da língua portuguesa no prêmio inglês.

Nascido em Pindorama, no estado de São Paulo, Nassar estreou na literatura em 1975 com Lavoura arcaica, romance que trata de relações familiares e amorosas em um meio rural marcado por afetos rústicos e duros. O escritor levou mais de seis anos para concluir o romance, iniciado no mesmo momento em que começou a estudar o Alcorão. Nassar é filho de um casal de libaneses que imigrou para o Brasil no início do século 20. Três anos depois de Lavoura arcaica, em 1978, ele publica Um copo de cólera, romance que começou a ser escrito em 1970. É característica do autor trabalhar em seus textos durante longos anos antes de permitir sua publicação. Estes são os dois únicos romances de Nassar.

Em 1994, ele publicaria ainda um livro de contos, Menina a caminho. Também três anos depois viria uma reedição acrescida de alguns contos. Há quase duas décadas, Nassar decidiu se retirar da literatura e não escreveu mais nada. O anúncio do vencedor do Camões, prêmio mais importante para a literatura de língua portuguesa, foi feito ontem em Lisboa, durante uma conferência de imprensa com secretário de Estado de Cultura de Portugal, Miguel Honrado, e com o júri da 28ª edição do prêmio.

Depoimento

Impactante

"Os três únicos livros do Raduan cumprem uma função extremamente louvável na literatura brasileira contemporânea: mudar a vida dos leitores. Conheci algumas pessoas que, durante a graduação, tomaram conhecimento pela primeira vez da existência do Raduan. Eram leitores acostumados a obras ingênuas, ordinárias, capengas. E quando começaram a ler Raduan, houve, imediatamente, a sensação de estranhamento. Em seguida, sentiram o impacto da verdadeira literatura. Quando aquelas pessoas terminaram o Raduan, o simples ato de folhear uma outra obra literária, de fazer uma caminhada lá pelas três da tarde, nada mais foi como antes. Papeando com Milton Hatoum, ele um dia me disse que, para escrever, é preciso ter coragem. E que para abandonar a escrita de vez, como fez Raduan, é preciso ser ainda mais corajoso. O Prêmio Camões é o reconhecimento merecido ao lirismo do Raduan, o escritor mais corajoso da nossa história."

Alexandre Gaioto, jornalista e escritor

Os brasileiros

Ganhadores o Prêmio Camões

1990

João Cabral de Melo Neto

1993

Rachel de Queiroz

1994

Jorge Amado

1998

Antônio Cândido

2000