sexta-feira, 17 de abril de 2015
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Guimarães
Rosa
Bomba!!! Esta coluna conseguiu uma entrevista
mediúnica exclusiva com Guimarães Rosa, o autor de Grande Sertão: Veredas. Fiat
lux, mestre (tradução livre: dá uma luz, mestre!).
Qual a importância da
palavra em nossa vida?
Toda ação principia mesmo é por uma palavra
pensada.
Por que o senhor escreveu
que viver é perigoso?
Porque ainda não se sabe. Porque aprender-a-viver é
que é viver, mesmo. Vivemos, de modo incorrigível, distraídos das coisas mais
importantes.
E como saber o que é mais importante?
O mais difícil não é um ser bom e proceder honesto;
dificultoso, mesmo, é um saber definido o que quer, e ter o poder de ir até o
rabo da palabra.
A vida que vivemos aqui tem
relação com outras vidas, como
proclama o espiritismo?
Só estamos vivendo os futuros antanhos. Eu me
alembro das coisas antes delas acontecerem.
O senhor acredita que a morte de uma pessoa também
está determinada?
Morte e amor têm paragens demarcadas. A morte de
cada um já está em edital.
Então, valemos do amor.
O que é amar?
Amar não é verbo; é luz lembrada. Amor vem de amor.
O amor é que é o destino verdadeiro.
E o ódio e a raiva, o que são?
Quando se curte raiva de alguém, é a mesma coisa
que se autorizar que essa própria pessoa passe durante o tempo governando a
ideia e o sentir da gente.
Um amigo meu disse que só
conhecia um homem que entendia
de mulheres: estava no hospício...
Mulher tira ideia é do corpo.
A alegria é algo importante na vida?
A tristeza é o aboio de chamar o demônio. O que a
vida quer da gente é coragem. O que Deus quer é ver a gente aprendendo a ser
capaz de ficar alegre a mais, no meio da alegria, e inda mais alegres ainda no
meio da tristeza! Só assim de repente, na horinha em que se quer, de propósito
— por coragem.
O senhor acredita em uma
comunicação com os mortos
como fazem os espíritas?
Ficar calado é que é falar nos mortos. Ninguém pode
me impedir de rezar; pode algum? O existir da alma é a reza.
Será que Deus não é uma mentira
que a gente inventa para aguentar
o tranco da vida?
Como não haver Deus? Estremeço. Com Deus existindo,
tudo dá esperança: sempre um milagre é possível, o mundo se resolve. Mas, se
não tem Deus, há de a gente perdid ficar perdida no vai-vem, e a vida é
burra... Tendo Deus, é menos grave se descuidar um pouquinho, pois, no fim, dá
certo. Mas, se não tem Deus, então, a gente não tem licença de coisa nenhuma.
Mas não seria mistificação
apostar no milagre?
Viver sem milagres seria lúgubre maldição. Tudo,
aliás, é a ponta de um mistério. Inclusive, os fatos. Ou a ausência deles.
Mestre, como o senhor
aprendeu tanto e tem tanto
a ensinar?
Mestre não é quem sempre ensina, mas quem, de
repente, aprende.
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