terça-feira, 25 de setembro de 2012


QUEM BLOQUEIA MESMO?

Terra a vista! Este grito vindo das caravelas de Cabral pode ser entendido de duas formas distintas: a primeira, no sentido de enxergar o continente, de avistar a terra a ser conquistada, e a segunda, em transformar a terra, que era um bem comum , em mercadoria, em propriedade privada.  Por: » JOSÉ CARLOS DA SILVA LIMA - Historiador e agente pastoral da CPT. Artigo publicado no jornal gazeta em 16 de setembro de 2012
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Procurar entender a questão agrária sem relacioná-la ao sentido da colonização portuguesa é um equívoco que pode resultar numa analise débil e parcial que explica apenas as consequências do conflito, sem aprofundar as suas causas.

Em torno da terra foi criada uma ideologia de poder. A premissa de que terra e poder andam lado a lado gerou a seguinte máxima: “quem tem terra tem poder”.

Logo, se fez necessário criar mecanismos políticos e jurídicos que perpetuem essa lógica, impedindo aos que vivem à margem do poder (terra) de conquistarem um pedaço de terra (poder).

A ideologia criou uma pseudo naturalidade nesta situação moldada na Colônia e atualíssima que é a detenção de grandes extensões de terras nas mãos de poucos grupos familiares, no caso de Alagoas, cerca de 20 famílias detêm as terras.

O arcabouço montado não consegue garantir que em determinado momentos esta couraça seja violada pelos marginais do sistema, assim aconteceu na experiência do Quilombo dos Palmares por liberdade e território e, na Guerra dos Cabanos, ocorrida no Litoral Norte de Alagoas.

Esses levantes organizados explicitam o conflito e questionam o modelo político e de produção.

O movimento que se desloca da margem ao centro, logo é tratado como um risco à ordem, sendo reprimido com violência. A vida humana perde espaço para as cercas de arame, os canaviais e a criação bovina.

Neste contexto histórico e conflituoso encontramos o sem-terra – resultado da política agrária.

Quando organizado em movimentos, torna-se sujeito e recusa permanecer à margem.

As estratégias para conquistar a terra passam pelas ocupações dos imóveis rurais, por marchas, romarias, caminhadas, ocupações de órgãos governamentais, jejuns, audiências, feiras agroecológicas e bloqueios de rodovias.

As ocupações de imóveis rurais e os bloqueios das rodovias são estratégias de enfrentamento que denunciam a morosidade dos governos em realizar a reforma agrária e as péssimas condições em que vivem as famílias acampadas e assentadas.

Sem respostas concretas para resolver a questão agrária, o Estado e os fazendeiros apelam para o direito de propriedade e o de ir e vir. Transformam uma reivindicação justa em crime, e as causas em consequências.

A estratégia dos bloqueios não é exclusividade dos movimentos sociais do campo; as comunidades ameaçadas utilizam desta ação para denunciar a violência no trânsito, o transporte que não atende às necessidades, as escolas fechadas, os assassinatos, as prisões ilegais...
Os bloqueios atormentam os governos e as autoridades porque denunciam as suas políticas que negam o conflito e se recusam a sanar a dívida social no campo e na cidade.

Quem bloqueia mesmo?

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A Defesa de José Genoino

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Em sermão proferido na Capela Real de Lisboa em dia 14 de março de 1655, entoou Padre Antonio Vieira: "Três dedos com uma pena na mão é o ofício mais arriscado que tem o governo humano. Quantos delitos se enfeitam com uma penada? Quantos merecimentos se apagam com uma risca? Quantas famas se escurecem com um borrão?"
José Genoino não cometeu crime algum.
Já na histórica sessão plenária do Supremo Tribunal Federal encerrada em 29 de agosto de 2007, os ministros, tendo tomado conhecimento das diversas acusações lançadas contra Genoino, dentre elas peculato, decidiram acolher exclusivamente as imputações de formação de quadrilha e corrupção ativa em proveito de deputados do PP e PTB.
Além da manifestação do então ministro Eros Grau, que repelia todas as acusações, os ministros Celso de Mello e Gilmar Mendes, inclusive com a aquiescência do ilustre relator, ressaltaram a absoluta fragilidade dos indícios em desfavor de Genoino. Indícios que, embora suficientes à instauração do processo, deveriam necessariamente ser robustecidos no curso da ação para autorizar uma condenação.
Pois bem. Finda a longa e rica instrução, o coeficiente de vazios sobre Genoino permanece inalterado. Rigorosamente nada foi produzido em seu desfavor nas mais de 40 mil páginas do processo! Ao contrário, restou vigorosamente comprovado não ter ele participado de qualquer acerto de caráter financeiro com partidos integrantes da base aliada.
José Genoino, como presidente do partido que acabara de assumir o Executivo federal, esmerou-se em cuidar das relações do PT com suas bases, com os movimentos sociais e com sua bancada e a dos aliados no Congresso Nacional, sempre a serviço do governo Lula e da agremiação política que representava.
Já o contrato de empréstimo bancário celebrado com o Banco Rural --no qual, por determinação estatutária, consta a assinatura de Genoino na qualidade de avalista-- foi, como mostra categoricamente a prova dos autos, negociado e ajustado pelo tesoureiro do partido.
Importante sublinhar, nesta ordem de ideias, que referido contrato foi devidamente registrado na contabilidade do PT, foi declarado ao TSE na prestação de contas do partido, foi cobrado ao PT pelas instituições financeiras. E, ao longo de cinco anos, essa dívida foi quitada.
Bem por isso, Genoino não está sendo julgado por ter, como avalista, praticado falsidade ideológica. Aliás, nenhuma conduta criminosa lhe foi imputada em relação ao contrato e ao aval nele firmado.
Seria injusto pleitear a condenação de Genoino por formação de quadrilha pela suposta compra de votos, quando não há qualquer indicativo de que tenha incorrido nesta conduta. Efetivamente, inexistem quaisquer informações sobre o que teria dado, a quem, quando, onde e nem, principalmente, a troco de quê.
Por derradeiro, igualmente injusto seria valer-se do depoimento do único personagem que tentou, mesmo que de forma superficial e imprecisa, incriminar Genoino: Roberto Jefferson, que o acusa sem acusar, diz e se contradiz, numa hora o envolve e noutra o exclui. Tudo conforme o palco e a plateia.
O STF, em sua segunda histórica manifestação sobre a questão, há de reconhecer que aqueles parcos indícios que ampararam o início da ação penal foram cabalmente infirmados no curso do processo, e agora, em seu encerramento, conduzirão à absolvição de José Genoino, na medida do correto, jurídico e, acima de tudo, justo.
LUIZ FERNANDO PACHECO, 38, é advogado e defende José Genoino Neto na ação penal 470

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‘Eu nunca joguei a toalha na minha vida’
À espera de sua sentença, o ex-presidente do PT José Genoino ainda tem esperança de ser absolvido pelo Supremo Tribunal Federal no processo do mensalão. http://www.estadao.com.br/noticias/nacional,eu-nunca-joguei-a-toalha-na-minha-vida-afirma-jose-genoino,932994,0.htm
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 "Eu não joguei a toalha. Nunca joguei a toalha na minha vida", diz Genoino, obrigado a parar de fumar depois do cateterismo feito na terça-feira, 18, no Instituto do Coração (Incor).
O exame das artérias coronárias foi considerado normal para a idade de Genoino, que tem 66 anos e é fumante há mais de 40. Mesmo assim, ele ainda terá de tomar medicamento para pressão alta por muito tempo. Os amigos do político que foi um dos mais expressivos deputados federais do PT e hoje é assessor do Ministério da Defesa estão preocupados com o seu destino, mas ele garante que não entregou os pontos.
"Sou inocente e não cometi nenhum crime. Fui só presidente do PT", afirma Genoino. Na Ação Penal 470, nome técnico do processo do mensalão, a Procuradoria-Geral da República sustenta que o mensalão foi abastecido com R$ 55 milhões, que se somaram a R$ 74 milhões desviados da Visanet, fundo que tinha dinheiro público e era controlado pelo Banco do Brasil.
O empresário Marcos Valério , acusado de ser o pivô financeiro do esquema de compra de votos no Congresso, no governo Lula, disse que fez empréstimos nos bancos Rural e BMG e os repassou ao PT. Para a procuradoria, os empréstimos foram fajutos e Genoino virou réu por corrupção ativa e formação de quadrilha.
"Eu nunca cuidei das finanças do PT e apresentei contraprova. Meu patrimônio é o mesmo há 30 anos. Confio na Justiça", afirma Genoino. Com uma das pernas imobilizada por causa do cateterismo, o ex-presidente do PT passou a quarta-feira, 19, reunido com a família. Recebeu visitas e muitos telefonemas, entre eles o da presidente Dilma Rousseff. Ela torce por sua absolvição, mas não fala sobre o julgamento para não parecer que está interferindo em outro poder.
Ex-guerrilheiro, Genoino está relendo Mata!, do jornalista Leonencio Nossa, repórter do Estado. O livro trata dos movimentos guerrilheiros na região do Araguaia nos últimos 200 anos e conta como foi a prisão de Genoino, em abril de 1972. "Fui para a guerrilha do Araguaia, coloquei minha vida em risco e fiquei cinco anos preso. As únicas coisas que tenho na vida são sonhos, ideias e causas", diz ele.
Para o ex-presidente do PT, a crise política que atingiu o governo Lula e dizimou a cúpula do partido, em 2005, foi como o Ato Institucional n.º 5 (AI-5), de 1968, que marcou o período mais duro da ditadura militar (1964-1985).
Deputado por 24 anos, Genoino não foi reeleito em 2010, mas é suplente. Pode entrar na vaga de João Paulo Cunha – condenado por corrupção passiva, lavagem de dinheiro e peculato –, caso seja absolvido pelo Supremo e o colega perca o mandato na Câmara. Hoje, porém, garante que só está preocupado com a saúde e com sua defesa.
"Estou de cabeça erguida. Não vou me deixar abater", insiste. Além de Mata!, Genoino está lendo Vida e Destino, de Vassili Grossman, que retrata um tempo de horror e de esperança, nos anos da Segunda Guerra Mundial.
Aos amigos que o visitam, ele repete que não pode aceitar a denúncia de corrupção ativa e formação de quadrilha. Os argumentos de Genoino são os mesmos desde que ocupou o plenário da Câmara, em 2007, para se defender. "Participei, sim, de acordos políticos e alianças eleitorais, mas jamais recebi benefício pessoal nem ofereci qualquer vantagem a ninguém", insiste o homem que só aceitou dirigir o PT, de 2003 a 2005, a pedido do ex-presidente Lula.

terça-feira, 18 de setembro de 2012


Joia do cerrado
Pesquisa realizada na UnB confirma que a castanha do baru, fruto comum no Centro-Oeste, contém substâncias capazes de combater inflamações e fortalecer o sistema imunológico. O consumo diário de 50g da amêndoa torrada já provoca efeitos positivos à saúde CORREIO BSB 18.09.12


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Sumaru, barujó, castanha-de-burro, coco-feijão, cumbary, meriparagé, castanha-de-ferro. São inúmeros os nomes dados ao baru, fruto típico do Centro-Oeste que costuma aparecer nas matas do cerrado em dezembro. Também são incontáveis as propriedades medicinais atribuídas pela sabedoria popular à fruta e à sua castanha, que costumam ser transformadas em um óleo que poderia ser usado no tratamento de diversas enfermidades. Atraída pelas místicas propriedades do vegetal, uma cientista de alimentos escolheu a leguminosa como objeto de sua pesquisa de doutorado na Universidade de Brasília (UnB). O resultado foi surpreendente.

Autora do estudo, publicado na revista especializada Food Research International-Elsevier, Miriam Rejane Bonilla Lemos demonstrou que a castanha do baru tem um alto potencial antioxidante, uma arma poderosa contra processos inflamatórios e doenças crônicas e degenerativas. Os fitoquímicos presentes na leguminosa, aponta a pesquisa, controlam os radicais livres que causam problemas como a hipertensão e a artrite, além de doenças como o câncer e o diabetes. “Os radicais livres são moléculas instáveis que, quando atingem o DNA, vão produzir doenças. A célula afetada pode produzir um câncer, atingir proteínas ou afetar o metabolismo”, explica a pesquisadora.

De acordo com a especialista em ciência de alimentos, em diversos aspectos, a leguminosa tem mais possibilidades medicinais do que alimentos semelhantes, como o pistache, a macadâmia ou o amendoim. A amêndoa também é rica em ômegas 3, 6 e 9, e tem alta taxa de ácidos graxos insaturados. O grande trunfo do baru, porém, está em seus oito compostos fenólicos: as substâncias, como a catequina e os ácidos gálico e elágico, têm poderes anti-inflamatórios e antivirais, e estão presentes em peso na semente do fruto. A ingestão diária de 50g da amêndoa torrada com a casca é suficiente para causar efeitos positivos na saúde (mas é necessário lembrar que essa porção também tem 250kcal).

A variação e a riqueza de compostos bioativos, aponta Lemos, são resultado do mecanismo de defesa do baru. Como o fruto cresce no ambiente rígido do cerrado, ele desenvolveu uma composição que o faz resistir a lesões e à falta de água por longos períodos de tempo. Essa resistência às condições adversas também deu ao núcleo do baru uma grande quantidade de antocianinas e tocoferóis, que evitam a produção de radicais livres e melhoram a circulação sanguínea. Essas características reforçam a crença popular, que já associava o baru ao tratamento do reumatismo e à regulação do período menstrual.
           
O consumo da castanha ajuda a fortalecer o organismo, mas é preciso lembrar que o produto é bastante calórico: 50g contêm 250kcal

Aprofundamento
O estudo foi inspirado por um experimento realizado anteriormente na UnB com a mesma castanha. Nesse estudo, ratos de laboratório foram induzidos ao estresse oxidativo e parte deles teve o baru misturado à alimentação por 17 dias. As cobaias que ingeriram a castanha tiveram o fígado, o baço e outros órgãos protegidos dos danos oxidativos causados pelo sulfato ferroso que tomaram. “Foram estudados 11 frutos do cerrado, entre eles o ingá, a guariroba e a mangaba. Mas vi que tinha algo de diferente no baru. Já vimos que ele tinha coisas muito boas, como tanino, zinco e fósforo, mas as pesquisas geralmente paravam aí”, justifica Miriam Lemos.

A então doutoranda adquiriu amostras da amêndoa de Goiás, Mato Grosso e Minas Gerais, e analisou o alimento na Universidade Federal de Pelotas (UFPel). Mesmo sabendo dos benefícios que a leguminosa havia causado aos ratos, a equipe gaúcha se espantou com o que encontrou. “Os resultados foram muito interessantes, demonstrando alto conteúdo de alguns compostos bioativos na amêndoa. O conteúdo de gordura no baru também é muito expressivo, incluindo alto conteúdo em ácido oleico, os quais são benéficos em termos nutricionais”, avalia Rui Carlos Zambiazi, professor da UFPel e co-orientador do projeto.

A professora de ciências da saúde Egle Machado havia orientado o estudo com ratos em conjunto com a professora Sandra Arruda, do Departamento de Nutrição da UnB, e também decidiu acompanhar Miriam Lemos em sua pesquisa aprofundada. “Foi muito bom encontrar compostos com reconhecida atividade biológica na amêndoa do baru. Na literatura científica, têm sido reportadas as atividades anti-inflamatória, anticancerígena, antimicrobiana e antioxidante dos compostos fenólicos. Porém, estudos adicionais são necessários para que possamos afirmar qual dos compostos encontrados na castanha é o mais bioativo”, avalia a especialista.
           
Os resultados indicam que o baru pode ser um auxiliar no combate ao envelhecimento precoce, ao câncer e até aos efeitos do vírus HIV


Preservação
Para a professora, estudos que envolvem frutos ricos em nutrientes, como o baru, podem ser tão beneficiais para a natureza quanto para as pessoas que consomem esses alimentos. O conhecimento e a valorização do cerrado poderia estimular a preservação ambiental e a produção de alimentos típicos dessa vegetação. “Nossa capital foi transferida para uma região em que o cerrado impera e, apesar de passados 50 anos, pouco ou quase nada conhecemos dos frutos produzidos nesse bioma. Agregar valor nutricional e até farmacológico aos alimentos da flora nativa estimula seu cultivo e preservação, acrescentando alternativas para o desenvolvimento sustentável da região”, estima.

Em sua pesquisa de pós-doutorado, também na UnB, Miriam deve continuar examinando as propriedades farmacológicas do baru. Ela vai colocar à prova os fitoquímicos da castanha no tratamento contra enfermidades como o envelhecimento precoce, o câncer e o vírus HIV. 

Para saber mais

Produto ultiuso

O baru amadurece na época da seca e serve de alimento para diversos animais do cerrado. Assim como o núcleo, também podem ser aproveitados a polpa e o endocarpo, que correspondem a 95% do fruto, muito usado na alimentação do gado na estiagem. Além de Goiás, São Paulo, Minas Gerais e Mato Grosso, o baru também é encontrado no Paraguai e em cercanias do complexo do Pantanal. A árvore pode alcançar até 25m e produzir 150kg de frutos numa única estação. A amêndoa é consumida torrada como aperitivos ou usada em receitas similares às do amendoim, como paçocas e bolos. A semente também é matéria-prima de bebidas alcoólicas e tem o óleo extraído para fins medicinais ou para aplicações industriais, como lubrificante de equipamentos.

terça-feira, 11 de setembro de 2012


O efeito coletivo da arte
Segundo pesquisa, os apreciadores de manifestações artísticas tendem a ser mais altruístas e tolerantes. A preocupação com o próximo costuma aumentar com a idade, mas é preciso ser provocada, assim como o interesse pelo belo, ainda na infância. www.correioweb.com.br 11.09
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Admirar a arte deixa estudantes mais altruístas, engajados civicamente e socialmente tolerantes. A prova concreta dessa afirmação vem de uma escola pública em Annapolis, nos Estados Unidos. Lá, professores procuram estimular os alunos a apreciarem pinturas, peças, danças e músicas de uma forma diferente. O novo olhar tem efeitos estatísticos. Desde 2009, há uma redução das suspensões — a queda chegou a 23% — e um aumento nas habilidades dos estudantes na leitura de textos e nos exercícios de matemática.

O programa de arte visual e performática integrado ao currículo não segue uma linha tradicional. Há uma conexão com outras disciplinas. Na aula de ciência, por exemplo, estudantes elaboram coreografias para demonstrar a rotação e a revolução dos planetas. Na de matemática, aprendem a resolver problemas examinando a composição de um dos mais famosos quadros de Andy Warhol, o Campbell’s soup cans.

No Brasil, há projetos parecidos. A professora de artes e coordenadora da educação infantil e primeiro ano do ensino fundamental do Marista, Luciana Santos, afirma que a arte dentro do campo escolar é conhecimento. “Temos um esforço para realizar trabalhos na escola que potencializam certas ações na criança. Com isso, ela tem mais conexão com a sensibilidade, o que melhora os aspectos emocionais”, diz. “Antes, a sociedade via que a arte era simplesmente pintar e desenhar. Esse contexto chegou à educação, mas está mudando. A arte, na verdade, vem do fazer, do criar e do contextualizar.”

Um estudo desenvolvido por pesquisadores da Universidade de Illionois em Chicago (UIC), nos Estados Unidos, indica o mesmo sentido. A pesquisa teve a participação de 2.765 adultos selecionados aleatoriamente em exposições, apresentações de dança, de música e de teatro. “Mesmo depois de controlarmos o estudo por idade, raça e educação, descobrimos que a participação em artes até mesmo como audiência pode trazer engajamento cívico, tolerância e altruísmo”, afirma Kelly LeRoux, principal investigadora do estudo e professora assistente de administração pública da UIC.

O comportamento altruísta foi mensurado por meio de perguntas que questionavam situações do tipo carregar algo para um estranho, doar sangue, dar direções a alguém perdido e devolver o troco errado ao caixa. “Se alguns políticos estão preocupados com um declínio na vida da comunidade, a arte não pode ser deixada de lado, já que ela promove atividades de cidadania”, diz LeRoux. “Nossas descobertas positivas podem fortalecer o suporte governamental para esse setor”, acredita.
           
Damiana vai ao hospital conversar com pacientes e pintar retratos de alguns deles

Caráter
Damiana Tenorio Leoi, aposentada, 63 anos, se interessa por arte desde pequena, mas passou a dar mais atenção a ela nos últimos 10 anos, depois de se aposentar. “Quando trabalho com arte, pintura, crochê, fico mais leve e feliz. Passo o tempo feliz. O belo faz bem à alma. Ficamos com um coração mais leve, brando e bonito”, comenta.
Voluntária do Hospital Universitário de Brasília (HUB), ela leva o amor à arte e as transformações causadas por ela aos pacientes. “Fazemos esse trabalho para que as horas sejam menos difíceis, falamos que vai melhorar, apresentamos textos e pintamos as moças”, conta. “Saio de lá feliz porque muitas pessoas ficam tão tristes tomando aquela injeção. Você tenta, por meio da conversa, fazer com que o doente não veja as horas passando. Todo artista é uma criança.”

Professora de pintura de Damiana, a pintora Schirley Indig pondera que o altruísmo é algo que nasce com a pessoa: “A pintura não tem o poder de modificar o caráter de ninguém. Já encontrei pessoas que pintavam muito bem e apreciavam a arte, mas não tinham caráter nem possibilidade de mudar o modo de ser”. De acordo com Schirley, esse poder transformador da arte sobre uma pessoa só seria eficaz se, desde cedo, ela fosse estimulada a apreciar as atividades artísticas. “Se você deixa uma criança chegar à adolescência sem informações, dificilmente mudará o caráter dela. O caráter dos seres humanos é formado por diversos elementos: amor, carinho, assistência, respeito e também a arte.”

Entra aí, então, a importância da escola e dos pais em despertar o interesse pelas manifestações artísticas nos pequenos. Mariana Medeiros, 18 anos, pinta desde mais jovem e faz aulas de pintura. “No vestibular, minha primeira opção é arquitetura, a outra é teoria crítica e história da arte”, conta. Amiga de Mariana, Camila Zacarias, 17 anos, é criada em um ambiente no qual é costume frequentar museus e ir a exposições. “Eu gosto de ver as obras e observar as pessoas fazendo. Mas gosto mais da parte de colagem e de desenho propriamente dito”, conta. Estudantes do Sigma, as amigas participaram recentemente da Semana de Artes Modernas da instituição.

Paralelo ao trabalho desenvolvido na escola, as duas vão, uma vez por mês, a uma creche para desenvolver um trabalho voluntário com crianças. Mariana conta que, ao fazer arte, você passa a pensar no outro. “É preciso que a pessoa que está observando entenda e sinta o que você quer passar. Isso acontece quando se faz uma música, um desenho, uma apresentação teatral, um texto. E acaba nos incentivando a olhar mais para o próximo.”
           
Camila e Mariana fazem arte desde pequenas. Para elas, isso as ajuda a entender o próximo

Sofrimento
A pesquisa de LeRoux indica que o engajamento social entre os apreciadores da arte costuma aumentar quando eles vão ficando mais velhos. O servidor público Marcus Vinicius Marques, 51 anos, foi apresentado ao teatro ainda pequeno e voltou a praticá-lo quando completou 40, quando já estava envolvido em projetos voluntários. “Uma pessoa que mexe com artes tem que ser altruísta porque lida com os sentimentos e as emoções dos outros. A arte pode minimizar um sofrimento, estimula a pensarmos no outro. Um trabalho desenvolvido com uma pessoa que está no leito do hospital traz uma visão diferente para nós do teatro”, acredita.

 A boa vontade de Marcus Vinicius beneficia moradores do Distrito Federal e do Entorno. “Já participei de ONGs e realizei trabalhos em grupos pequenos e individuais. Distribuí alimentos, calçados, gêneros de primeira necessidade, fiz projetos com crianças carentes, visitas a idosos, a pessoas que moram debaixo de pontes”, lista.

Felipe Berquó, estudante de mestrado de 23 anos, uniu o útil ao agradável quando se viu em uma situação estressante. “Saí do meu emprego no ano passado e quis mudar de vida, fazer uma coisa que não fosse só minha. Eu conheci a Abrace e eles me indicaram para participar do projeto Sinfonia da Saúde do Hospital da Criança de Brasília.” No projeto, ele realiza apresentações musicais para entreter as crianças com câncer, seus familiares e os funcionários da instituição. “Eu utilizava a música para relaxar. Quando estava estressado, pegava o violão e tocava. Tocar no hospital me ajuda, assim como ajuda eles”, garante.
           

Uma pessoa que mexe com artes tem que ser altruísta porque lida com os sentimentos e as emoções do outro. A arte pode minimizar um sofrimento”
Marcus Vinicius Marques, servidor público e ator


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Cinema de muitos
Para driblar as dificuldades no Distrito Federal, diretores, criadores e empresas unem-se em coletivos de produção. Correio destaca cinco grupos de realizadores. www.correioweb.com.br 11.09

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Essencialmente, o cinema é uma arte feita em equipe. No Brasil, alguns realizadores têm estendido essa premissa para além da criação de um filme, unindo forças em torno de grupos de profissionais cinematográficos. Em outros estados brasileiros, esses coletivos de cinema têm sido responsáveis pelo aparecimento de experiências importantes de linguagem, caso do laboratório empreendido pelos mineiros da Teia. No Ceará, o Alumbramento (Estrada para Ythaca, Os monstros) encarou narrativas feitas com muito pouco dinheiro. No DF, a reunião de esforços assume diferentes identidades e modos de produção. O Correio rastreou algumas dessas ações.


           
Lema social
A principal característica do coletivo Muruá é o envolvimento com ativismo social. Formado há cinco anos, o grupo de quatro integrantes é guiado por um lema: “É possível conciliar nossas ideologias com o trabalho que a gente desempenha. É a comunicação como ferramenta de transformação”, declara Alan Schvarsberg, um dos participantes. Não existem hierarquias no trabalho do grupo. As decisões em torno da administração dos serviços são feitas de forma coletiva. “Não agregamos pessoas de fora do coletivo sem o desenvolvimento da proposta horizontal. Trabalhamos com ativismo social. Nossa visão é de profissional independente. Não temos funcionários. Não tem essa coisa de empresa. É um coletivo”, descreve Antônio Francisco.

Muruá
» Ditadura da especulação (co-produção), de José Furtado
» Brasília, rizoma da cultura popular (documentário em produção), de Alan Schvarsberg
» Maio, nosso maio (animação), de Farid Abdelnour
» Roda mundo, de Antônio Francisco
» Rua Cinema Nosso (mostra de cinema)


           
Força dupla
No dia da entrevista com os integrantes dos coletivos Projeto Nome e Kinólatras, o foyer da Sala Villa-Lobos ganhou ares de grande evento, tamanha era a quantidade de integrantes dos grupos. Os dois coletivos funcionam como vasos comunicantes interligados por projetos audiovisuais. Além de completarem rodízio em uma produção ou outra, os participantes também se revezam entre as funções de uma mesma produção. Sem patrocínio, as criações do Projeto Nome são bancadas por mensalidade pagas por cada um. “Nós nos reunimos uma vez por mês no Espaço Cultural da 508 Sul e recolhemos as contribuições. É a única parte burocrática do grupo”, explica Rodrigo Huagha. No caso dos Kinólatras, as atividades não são agendadas. “Nós nos organizamos de forma bem orgânica, não tem periodicidade. Temos uma ideia e vamos conversar”, explica o cineasta Gustavo Serrate.

Projeto Nome e Kinólatras
» Infrator, de Gustavo Serrate e Rodrigo Huagha
» Bastar, de Gustavo Serrate
» Kinólatras (2012), de Gustavo Serrate, Rodrigo Huagha e Tiago Belotti
» Sinuca, pôquer e algumas joias para barba (longa-metragem), de Erdman Correia
» Projeto nome (longa-metragem), direção coletiva


           
Casa de criação
A sede do coletivo Caza Filmes não é uma residência, mas uma sala comercial de um shopping center no Lago Norte. No dia a dia, trabalham os cineastas Viça Saraiva e Érico Cazarré, mas a sede acolhe projetos audiovisuais de diversos realizadores em sistema de parceria. Não raro, os criadores se revezam para desempenhar outras funções nos filmes tocados pelo coletivo. “Quem traz um filme para cá tem de estar disposto a falar e a ouvir. Alguns projetos ficaram diferentes ao longo do tempo, mas dificilmente saem do mesmo tamanho”, filosofa Cazarré. O ator Juliano Cazarré, no ar como o Adauto, de Avenida Brasil, enxerga, no coletivo, a possibilidade de trabalhar com os irmãos, Érico e Marieta. Ao lado do primeiro, ele dirigiu e atuou no curta Véi enquanto finaliza a animação Roza, com a irmã. “Sempre tive esse sonho de trabalhar com a família. Acabei trilhando um caminho sozinho, mas sempre achei que daria para conciliar trabalhos com eles”, declarou.

Caza Filmes
» A arte de andar pelas ruas de Brasília, de Rafaela Camelo
» Expedição Abrolhos, de Érico Cazarré e Márcio Miranda
» Elemento de fixação, de Murilo Seabra
» Véi, dos irmãos Cazarré
» A caroneira, de Otávio Chamorro e Tiago Vaz
» Zé do Pedal, acima da terra e abaixo do céu, de Viça Saraiva e Márcio Garapa
» O menino e o mendigo, de Renata Diniz (pré-produção)
» Atrás do muro, Murilo Seabra (em finalização)


           
Ceilândia livre
O coletivo de cinema de Ceilândia nasceu da completa falta de representação da cidade de 400 mil habitantes no audiovisual. A gestão dessa história de resistência, no entanto, é bastante relaxada. “Partimos da premissa de que cada um pode fazer o que quer. O coletivo é um ponto convergente, um catalisador. Existe liberdade para assinar como coletivo ou individualmente”, descreve o cineasta Adirley Queiróz (foto), um dos membros mais ativos. “As discussões agregam muito. Não teria tanta invenção no universo que eu quero representar sem o coletivo”, reconhece Queiróz. Atualmente, os integrantes estudam a inclusão da produção de material crítico de cinema escrito por seus integrantes.

Ceicine
» Rap, o canto da Ceilândia, de Adirley Queiroz
» Dias de greve, de Adirley Queiroz
» Fora de campo, de Adirley Queiroz e Thiago Mendonça
» A cidade é uma só?, de Adirley Queiroz


           
Célula produtora
A Casa 30 é a reunião de cinco empresas: TMTA Comunicação, Pavirada Filmes, Start Filmes, Quartinho Direções Artísticas e Menina dos Olhos. Pela sede do grupo, uma casa de dois andares de número 30, localizada na Asa Norte, circulam pelo menos 21 pessoas diariamente entre sócios, funcionários e estagiários. O maior cômodo abriga uma área de trabalho em comum e as subdivisões entre as empresas preenchem o espaço. “Casa 30 é um selo da reunião das empresas. Um guarda-chuva para projetos audiovisuais, publicidade, design e direção artísticas ”, explica um dos sócios, Cléber Machado. A parte administrativa é tocada como em um condomínio. “Toda primeira segunda-feira do mês nos reunimos para discutir as questões administrativas e os próximos projetos”, explica Maíra Carvalho, uma das sócias responsável pelo núcleo Quartinho. A última investida da Casa foi a inclusão de um núcleo educativo (Menina dos Olhos) e a realização do Curso de Cinema para Crianças.

Casa 30
» Colher de chá, de J. Procópio
» Bibinha, a luta continua, de Adriana de Andrade
» O último cine Drive-in, de Iberê Carvalho (pré-produção)
» Maria Lenk — A essência do espírito olímpico, de Iberê Carvalho
» Lançamento do DVD Cinema para crianças, com filmes produzidos pelo coletivo;
» Festa contraplano (realizada durante o Festival de Brasília do Cinema Brasileiro)
» O fim e os meios, de Murilo Salles (coprodução)
» A turma da Camber e a fantástica história do Patinho Feio, de Denilson Félix (coprodução)



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