quinta-feira, 5 de julho de 2012


Proposta de 10% do PIB  
Aumento de gastos para educação pode "quebrar" Estado, diz Mantega .  Uol notícias 04.07
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“Nosso meio é podre e eu tenho nojo”, diz Jorge sobre o mercado da música sertaneja
O mercado nosso é podre, podre. Onde já se viu essa competição que acontece hoje entre duplas, entre escritórios? Nossas carreiras não são um jogo, ninguém tá competindo, ninguém vai ser campeão no fim do ano se fizer mais pontos.Uol Notícias  04.07.12
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Liminar do STJ garante registro de candidaturas para eleições de 2012. WWW.stj.jus.br
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Sistema STJ-Push se atualiza para atender melhor ao usuário
O Sistema STJ-Push, responsável pelo envio, por e-mail, de informações sobre o andamento de processos que tramitam no Superior Tribunal de Justiça, tem uma nova versão. WWW.stj.jus.br
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Ministro Luiz Fux convoca audiência pública sobre regulamentação de TV por assinatura.  WWW.stf.jus.br  04/07
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Nova revista de jurisprudência está disponível na Livraria do Supremo WWW.stf.jus.br  04/07
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STF divulga na internet salários de ministros e servidores. WWW.stf.jus.br 03/07
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Leitura na prisão
Presos podem reduzir até 48 dias
de pena por ano com leitura de livros.  WWW.conjur.com.br
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Risco nas eleições
Falta de jurisprudência sobre Ficha Limpa preocupa.  WWW.conjur.com.br
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A Europa nordestina
O Globo - 05/07/2012

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o debate econômico sobre a solução para a crise mundial, sobretudo na Europa, causa espanto a surpresa com a falência do receituário da austeridade fiscal. Foram necessários quatro anos para o mainstream da economia global dar sinais de convencimento do fracasso daquelas medidas. Surpresa porque, em 2001, os países da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) haviam feito um diagnóstico preciso dos desafios para o crescimento de suas economias nas décadas seguintes diante do inexorável envelhecimento de suas populações. O relatório "Envelhecimento e políticas de emprego", com estudo detalhado da situação demográfica e do mercado de trabalho de 21 países, foi publicado à época em vários idiomas. Um trabalho de fôlego e, certamente, muito caro. No entanto, por incrível que pareça, ao estourar a bolha financeira, tudo o que está escrito ali foi ignorado pelos países-autores ao enfrentarem a crise. Talvez valha aqui um alerta em meio às discussões de êxito - ou não - da Rio+20, já que exemplos como este colocam em xeque o modelo adotado pelos organismos multilaterais para encontrar soluções para os problemas do planeta.
Bastava uma leitura nessa espécie de "documento final" para se perceber que seria impossível garantir uma retomada da economia, sobretudo em situação de crise, com os desafios suscitados pela dinâmica da demografia. O foco do estudo da OCDE era o mercado de trabalho para os indivíduos com mais de 50 anos - idade na qual a taxa de empregabilidade começa a baixar em todos os países estudados. Considerava-se impossível obter a sustentabilidade da economia e o equilíbrio das contas públicas sem a adoção de incentivos para esse segmento populacional no mercado de trabalho europeu.

O estudo denunciava uma idade média baixa de aposentadoria. Mas destaca-se que os trabalhadores com mais de 50 anos na Espanha, por exemplo, registravam uma empregabilidade dez pontos percentuais abaixo da média da OCDE. O mesmo problema enfrentavam França, Portugal e Itália. Ou seja, quem se aposenta se aposenta cedo, mas muitos nunca atendem às regras de elegibilidade para o benefício devido ao desemprego. As medidas em busca de um equilíbrio, de acordo com os pesquisadores, deveriam ser um processo de longo prazo. Jamais adotadas de forma imediatista. Campanhas de comunicação, aposentadoria flexível, redução da jornada, estímulo fiscal às empresas para empregarem também os cinquentenários eram algumas das recomendações da OCDE. Era fundamental evitar a ideia de aumento da vulnerabilidade na velhice.

A história explica a cautela. A Europa constituiu-se promissora naqueles anos denominados por Jean Fourastié como "gloriosos" (1946-1975) devido ao Estado previdenciário. Ele garantiu a pujança econômica no pós-guerra. Foi, inclusive, como alerta o historiador Tony Judt muito além da previdência invadindo a área dos subsídios. Pode-se discuti-lo ou atacá-lo ("Estado babá"), mas em nenhuma hipótese, ao adotar políticas, deve-se ignorá-lo. Foi esse o pecado das medidas de austeridade . Pior: desprezou-se o fato de o Estado previdenciário, no século XXI, sustentar uma Europa muito mais grisalha e que transferia esses recursos para o custeio da mão de obra futura.

A Alemanha, um dos três países mais envelhecidos do planeta, encontrou soluções inovadoras para seu desafio demográfico - como um sistema educacional dirigido à produtividade - mas optou por impor receitas clássicas, agora, incompatíveis com a demografia de seus vizinhos. Sem chance de sucesso. O envelhecimento da população fez da Europa uma espécie de Nordeste brasileiro, onde em mais de 70% das cidades o repasse da Previdência é maior do que o percentual a que fazem jus no Fundo de Participação de Estados e Municípios. Seria impossível imaginar o corte desses recursos de uma hora para outra como solução para qualquer crise. Ao contrário, o que deu músculos para o mercado interno brasileiro foi a política de aumento do salário mínimo com reflexo direto na renda daquela população.

Ao ameaçar a desconstrução da Europa nordestina, o receituário da austeridade ignorou a demografia e acabou por agudizar uma característica típica do segmento idoso: a baixíssima propensão ao consumo.


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Os sindicatos fantasmas
O Estado de S. Paulo - 05/07/2012

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O Ministério do Trabalho, agora com novos dirigentes, quer acabar com a farra da criação de sindicatos no Brasil. Sabe-se que, nesses últimos três anos, surgiram mais de 700 novos sindicatos no País, e a maioria não tem representatividade sobre os trabalhadores. São os chamados sindicatos fantasmas que, desde a época do ditador Vargas, sempre existiram no sistema de representação profissional.

Mas a proliferação do reconhecimento oficial de sindicatos sem nenhuma representação se dá em dois momentos marcantes e bem distintos, embora ambos com intuitos semelhantes: dar apoio às teses governistas. O primeiro momento foi durante os governos populistas que antecederam os acontecimentos de 1964. Naquela época, a oficialização de muitos dos sindicatos fantasmas pelo Ministério do Trabalho ocorria por razões preponderantemente político-ideológicas.

Nossa estrutura sindical oficial é vertical, formada por sindicatos, federações, estas quase sempre estaduais, e confederações nacionais. A forma de eleição dos dirigentes das federações e das confederações era o meio utilizado pelo Estado para conseguir manter, na direção dessas entidades máximas do sindicalismo, lideranças favoráveis ao governo.

Para eleger uma diretoria de uma federação ou de uma confederação, por exemplo, um sindicato que representasse uma categoria profissional de 10 mil trabalhadores e possuísse 300 associados teria o mesmo peso nos votos para eleger diretores das federações e, consequentemente, por meio destas, das confederações que um sindicato de uma categoria profissional de 50 mil trabalhadores e 5 mil associados.

Dessa forma, como o reconhecimento dos sindicatos dependia exclusivamente do Ministério do Trabalho, os governantes não só facilitavam a criação de pequenos sindicatos situacionistas, como também controlavam com facilidade estes sindicatos, devido, principalmente, à sua pouca combatividade. Tal quadro facilitava a vitória dos dirigentes sindicais favoráveis ao governo nos pleitos para as entidades máximas dos órgãos de representação profissional.

Esse modelo com o qual o Estado dirigia o funcionamento da organização sindical nos seus três planos - sindicatos, federações e confederações sindicais - foi utilizado, com veemência, tanto pelos adeptos de ideologias de direita quanto pelos de esquerda.

O segundo momento marcante de proliferação do reconhecimento oficial de sindicatos sem nenhuma representação ocorreu nesses anos recentes. Parece que estamos revivendo, nesse aspecto, o contexto sindical dos anos pré 1964. Só que agora, o reconhecimento oficial dos sindicatos sem nenhuma representatividade acontece por interesses preponderantemente financeiros de pseudolíderes, em busca do seu quinhão do bolo dos famigerados tributos sindicais.

Mas cumpre assinalar que quem concede a oficialização dos sindicatos é ainda o Ministério do Trabalho. Portanto, o reconhecimento de sindicatos fantasmas não é uma via de mão única. Há, por um lado, o interesse financeiro desses dirigentes sem representatividade, mas, por outro, há o interesse de quem oficializa o sindicato. Ou seja, quem recebe a oficialização geralmente tenderá a ser um aliado do governo, tanto nos pleitos para eleger as diretorias das federações e das confederações sindicais quanto para fortalecer, em termos de número de sindicatos filiados, essa ou aquela central sindical.

Assim, a boa intenção de acabar com a criação de sindicatos fantasmas, mediante a definição de regras mais objetivas e comissões com representantes de empregados, empregadores e governo, seria válida se tivéssemos um outro tipo de estrutura sindical. Tentar pôr fim a isso, mantendo a unicidade sindical e as suas contribuições financeiras, é uma luta em vão. Os sindicatos fantasmas são inerentes ao arcaico modelo de representação profissional existente no País. Embora "fantasmas", existem nessa trama sindical e fazem parte dela de verdade.

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O sistema econômico para o desenvolvimento
Coluna Econômica - 05/07  Blog: www.luisnassif.com.br
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Apesar de todos os avanços da economia, da econometria em particular, ainda é tarefa inglória relacionar todas as variáveis que conduzem ao crescimento de uma economia.

No caso brasileiro, na maioria das vezes economistas de planilha limitam-se a correlacionar juros e nível de atividade e, a partir daí, tirar conclusões enganosamente simplificadoras sobre realidades que são fundamentalmente complexas.

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Comparem-se esses modelos com o estudo publicado em meu blog, de autoria do engenheiro Joaquim Aragão (http://migre.me/9LeS6).

Ele parte do princípio correto de que crescimento é um processo circular-espiralar multifásico – ou seja, é composto por subsistemas que se influenciam mutuamente, onde entram dimensões como o fator tempo e o fator espacial.

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Em geral, os economistas dividem-se entre os que acham que a demanda é propulsora do desenvolvimento; e o segundo grupo que atribui à poupança e ao investimento o motor do crescimento – as escolas da “demand economics” e da “supply economics”.

Aragão constata que sem uma visão sistêmica, sem a coordenação de setores, ocorre a dispersão das ações e a perda de eficácia dos instrumentos fiscais e monetários.

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O protagonista principal da política econômica é o setor empresarial. Mas visto como um amplo espectro de classes empresariais, e não um grupo limitado de atores econômicos politicamente dominantes.

A importância do Estado volta a ser reconhecida, diz ele. Mas seu papel essencial deve ser do Estado orquestrador, que vá além do Estado provedor e do Estado regulador.

Cabe ao novo Estado a) a construção e consertação entre os diversos atores; b) a capacitação e informação dos atores; c) a definição da estratégia de desenvolvimento econômico e social. Além da provisão estatal de bens e serviços e garantidor da ordem social.

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Um dos pontos centrais do papel do Estado é o da sustentabilidade fiscal. Ainda hoje, esse controle é feito de forma agregada e grosseira (embora minorado pelo PAC). Há a necessidade de análise de impactos econômicos e fiscais dos diversos tipos de apoio do Estado à economia, como ferramenta incorporada à cultura de gestão fiscal.

Finalmente as famílias tendo papel fundamental. A teoria econômica convencional só a vê como fonte de consumo ou força de trabalho. Mas tem que ser fortalecido seu papel de educadora, gestora de projetos profissionais e empresariais, além de rede de suporte social em momentos de crise.

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No desenho das políticas econômicas, Aragão coloca como ponto central os projetos. É essencial, diz ele, que os agentes governamentais busquem os potenciais de crescimento nos diversos cantos do país. Há muito potencial em regiões afastadas, que não tem sido considerado nas recentes medidas anticíclicas do governo federal.

E aí se entra na questão espacial: “Para que as políticas de incentivo sejam definidas de acordo com os potenciais locais, é indispensável, pois, que elas sejam definidas em função de um planejamento territorial, nacional, regional e local, hoje ainda ausente no Brasil, a despeito de diversas tentativas de retomada”.

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País carece de lei para serviços ambientais
O Estado de S. Paulo - 04/07/2012

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Pesquisa identifica 28 iniciativas legislativas em 8 Estados para regular o pagamento de incentivos a quem preserva o ambiente; falta padronizá-las


O Brasil está relativamente bem servido de iniciativas estaduais de pagamento por serviços ambientais (PSA), mas carece de uma lei federal que dê segurança jurídica e padronização técnica a essas iniciativas. Essa é a mensagem de um estudo realizado pelo Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon) e pelo Centro de Estudos em Sustentabilidade da Fundação Getúlio Vargas (GVces), com um levantamento de todas as leis já vigentes ou em processo de elaboração sobre PSA no Brasil (veja aqui a íntegra do estudo "Marco Regulatório sobre Pagamento por Serviços Ambientais no Brasil"). Olhando especificamente para serviços ambientais relacionados a florestas (como conservação da biodiversidade, armazenamento de carbono, proteção de nascentes e produção de chuvas), os pesquisadores identificaram 28 iniciativas legislativas, sendo 8 federais e 20 estaduais, distribuídas por oito Estados.

"É muito positivo ver tantos Estados com projetos nessa área", diz o coordenador do Programa de Política e Economia Ambiental do GVces, Guarany Osório. "Mas a ausência de um marco federal causa uma certa insegurança."

Das oito iniciativas federais, apenas duas são leis – a do Fundo Nacional sobre Mudança do Clima e a do Programa Bolsa Verde –, acompanhadas de seus respectivos decretos. As outras quatro são projetos de lei – entre eles, apenas um que trata de PSA de forma mais abrangente, o PL 792/2007, que criaria a Política Nacional de Pagamento por Serviços Ambientais.

Segundo a pesquisadora Priscilla Santos, do Imazon, é essencial que as discussões sobre leis federais "dialoguem" com aquilo que já está acontecendo nos Estados. Tanto no sentido de incorporar boas experiências quanto de evitar erros e corrigir eventuais deficiências, sem criar conflitos de poderes.

Especialmente considerando que as iniciativas estaduais são bastante variadas em escopo e formatação. "As abordagens são diferentes porque as realidades são diferentes", diz Priscilla. "Não há fórmula única, mas deve haver critérios mínimos a serem respeitados." Por exemplo, com relação a fontes orçamentárias, salvaguardas socioambientais e critérios técnicos de validação e verificação dos projetos.

Exemplo paulista. Várias das iniciativas de PSA estaduais estão ligadas a políticas de clima e conservação florestal. São Paulo, por exemplo, não tem uma política específica de PSA, mas inclui o pagamento por serviços ambientais como um dos instrumentos de ação da Política Estadual de Mudanças Climáticas (PEMC), de 2009.

O primeiro projeto criado pela Secretaria Estadual do Meio Ambiente (Sema) nessa área é o Mina D"Água, lançado em 2011, que prevê o pagamento pela conservação de nascentes importantes para o abastecimento público. Segundo Helena Carrascosa, assessora técnica da Sema, o Estado está trabalhando com 21 prefeituras, várias das quais já estão assinando contratos com proprietários de terras interessados no benefício.

Mais de R$ 3 milhões estão reservados para o projeto, oriundos do Fundo Estadual de Prevenção e Controle da Poluição (Fecop). O valor que cada proprietário poderá receber varia de R$ 75 a R$ 300 por nascente/ano, dependendo da importância e do estado de conservação da nascente. "Não estamos pagando pela água produzida", explica Carrascosa. "Estamos pagando pelo serviço de manter a nascente funcionando."

O valor é pequeno, reconhece ela, mas pode ser maior do que o recebido pelo arrendamento de um hectare para pastagem de gado, por exemplo.

Outro projeto que está sendo desenvolvido envolve pagamento pelos serviços ambientais de Reservas Particulares do Patrimônio Natural (RPPNs), que são áreas protegidas de caráter privado, criadas de maneira voluntária. Cada proprietário poderá receber entre R$190 e R$ 300 por hectare/ano, com base na identificação de ameaças à RPPN e na elaboração de um plano de ação para evitá-las.

A ideia é que o projeto ajude na conservação das reservas existentes e sirva de incentivo econômico para a criação de mais RPPNs, segundo a diretora adjunta da Fundação Florestal, Wanda Maldonado. O primeiro edital, o valor de R$ 4,1 milhões, deverá ser lançado até outubro.

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Demografia ajuda educação
Valor Econômico - 04/07/2012
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Além de demagógica, a decisão da Câmara dos Deputados de aumentar para 10% do Produto Interno Bruto (PIB) os gastos públicos com educação ignorou as transformações demográficas em curso no país. Com o envelhecimento da população, o número de pessoas em idade escolar está diminuindo. Apenas entre 2009 e 2011 houve queda de 1,8 milhão de matrículas na rede pública do ensino fundamental. Há mais de uma explicação para essa redução. A mudança demográfica é uma delas.

O economista Jorge Arbache, professor da Universidade de Brasília (UnB), acredita que a diminuição da população de crianças e jovens em razão da transformação demográfica facilitará a tarefa de melhorar a educação brasileira nos próximos anos. "Em 2010, havia 47,1 milhões de pessoas em idade escolar, mas, em 2020, haverá 41,5 milhões, uma redução de 5,6 milhões", diz ele.

Arbache faz um cálculo revelador. Nos últimos oito anos, a economia brasileira cresceu, em média, 4,3% ao ano. Neste momento, por causa da crise mundial, está crescendo bem abaixo disso, mas a tendência dos próximos anos é voltar a avançar numa velocidade mais próxima do chamado PIB potencial. Se isso ocorrer e se o setor público (União, Estados e municípios) mantiver o atual nível de gasto com educação - 5,08% do PIB em 2011-, será possível aumentar o investimento por aluno em 45% entre 2010 e 2020, já descontada a inflação.

Envelhecimento da população e expansão do PIB ajudam educação

"Juntas, economia e demografia farão os investimentos públicos em educação por aluno saltarem de 20% para 25% do PIB per capita no mesmo período, taxa elevada para padrões internacionais", observa o professor da UnB. "É óbvio que quem conhece o Brasil e tem algum bom senso apoia a substancial melhoria da qualidade da educação, mas acho que o caminho sugerido [o aumento puro e simples do gasto para 10% do PIB, uma espécie de número mágico] poderá trazer mais problemas que soluções."

O Brasil vem elevando já há algum tempo o dispêndio do Estado com educação. É só lembrar que em 2003 o gasto era equivalente a 3,9% do PIB. Em 2007, a educação pública já consumia 4,3% do PIB; em 2009 chegou a 4,7% do PIB e, no ano passado, a 5% do PIB.

O aumento dos investimentos certamente contribuiu para dois ganhos importantes nesse período: a universalização do ensino básico e a melhora dos salários dos professores. O que não acompanhou o ritmo de mudanças foi a qualidade do ensino, apontada de forma unânime por especialistas, à direita e à esquerda do espectro político, como o calcanhar de Aquiles da educação no Brasil.

A elevação do gasto público com educação para 10% do PIB, no espaço de dez anos, foi aprovado no âmbito do Plano Nacional de Educação (PNE), que está em discussão no Congresso Nacional. O Ministério da Educação estima que, para viabilizar esse aumento de despesa, o governo teria que retirar R$ 85 bilhões do orçamento anual de outros ministérios da área social.

Tirar esse dinheiro de outras rubricas obrigaria o governo certamente a sacrificar programas sociais de combate à miséria bem-sucedidos, como o Bolsa Família. Inviabilizaria também o financiamento de orçamentos importantes, como o da previdência e assistência social.

Jorge Arbache chama a atenção para o fato de que o envelhecimento da população obrigará o governo a destinar mais recursos, nas próximas décadas, à saúde pública e ao pagamento de aposentadorias e pensões. "Já em 2026, a população em idade escolar, na faixa etária de 4 a 17 anos, será ultrapassada pela população acima de 60 anos", diz o economista.

É preciso considerar, portanto, que a fixação de um percentual elevado e irrealista de PIB para gastos com educação "tende a conflitar com as necessidades fiscais futuras decorrentes do contínuo aumento da população de idosos". O problema da previdência, como se sabe, já é de difícil solução mesmo antes do envelhecimento previsto para a população brasileira nos próximos anos. A previdência, principalmente a do setor público, já é bastante deficitária - o rombo anual de ambas soma R$ 100 bilhões.

A ideia de que simplesmente jogar dinheiro do helicóptero vai melhorar a educação no Brasil é um grande equívoco. Especialistas afirmam que o problema não está na falta de recursos. O país já desembolsa nessa área o equivalente ao gasto médio realizado por países desenvolvidos. É possível discutir prioridades - por exemplo: o Brasil destina mais recursos, por aluno, ao ensino superior do que ao fundamental, o oposto do que fazem nações bem-sucedidas em formação educacional, como a Coreia do Sul -, mas está claro que a deficiência não é de caráter financeiro.

Arbache acha que o governo deveria definir o orçamento público para a educação de acordo com os recursos necessários para atingir metas educacionais, "política essa que teria que vir acompanhada do aperfeiçoamento da gestão do sistema educacional". "Num primeiro momento, será preciso elevar significativamente a parcela do PIB destinada à educação, mas, numa fase seguinte, quando as metas forem sendo alcançadas, o orçamento da educação poderá se estabilizar e até diminuir, como ocorreu décadas atrás nos tigres asiáticos, que promoveram grandes avanços na educação."

"A educação deve ser prioridade de política pública, mas a alocação de recursos para a área deve ser compatível com a realidade demográfica do país. Do contrário, podem ser criados compromissos e pressões fiscais futuras com efeitos deletérios para o crescimento econômico sustentável", insiste Arbache.

O economista observa que, embora os investimentos públicos em educação por aluno já estejam crescendo, o Brasil precisa aproveitar as condições econômicas e demográficas favoráveis deste momento para fortalecer ainda mais o orçamento dessa área nos próximos anos, com o propósito de diminuir o hiato que separa a educação pública brasileira "daquela necessária para fomentar o crescimento econômico e alavancar a competitividade internacional da nossa economia".
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"É preciso reformar o setor público"
Correio Braziliense - 04/07/2012

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Um dos pais do Plano Real, o economista Edmar Bacha lamenta que o governo não tenha dado continuidade às reformas, essenciais para o país crescer de forma sustentável

Primeiro brasileiro a concluir o doutorado em economia na prestigiosa Universidade Yale, o economista Edmar Bacha é considerado um dos pais do Plano Real, lançado em 1994, no governo Itamar Franco. Bacha coordenou o Departamento de Economia da Pontifícia Universidade Católica do Rio (PUC-Rio), de onde saiu a equipe que desenvolveu o programa. "Desde 1982, discutíamos alternativas para a estabilização. Em 1993, estávamos prontos para colocar as ideias em prática", conta.

Bacha ganhou notoriedade ao escrever, nos anos 1970, a fábula da "Belíndia", em que dizia que o regime militar estava criando um país dividido entre os que moravam em condições similares às da Bélgica e aqueles que tinham padrão de vida da Índia. Nos anos 1980, no governo José Sarney (1985-1990), participou do Plano Cruzado e presidiu o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Com Fernando Henrique Cardoso, comandou o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) por cerca de um ano. Atualmente, integra o think thank fluminense Casa das Garças.

Para Bacha, um dos erros na execução do Plano Real foi o país não ter dado continuidade às reformas necessárias. Entre os acertos, destaca o fato de o país ter se livrado do estigma de que nada aqui dava certo. Ele recorda a histórica frase "Le Brésil n"est pas un pays sérieux", atribuída ao ex-presidente francês Charles de Gaulle (1959-1969): "Nenhum candidato a De Gaulle pode hoje dizer que o Brasil não é um país sério", afirma. A seguir a entrevista concedida ao Correio:

O Plano Real chega à maioridade. Mas, apesar dos avanços dos
últimos 18 anos, o Brasil ainda não consegue crescer de modo
sustentável sem enfrentar o fantasma da inflação. Onde o país falhou?
É uma falha relativa. Comparado com nosso próprio passado, não há falha alguma. Comparado com o resto do mundo depois de 2008, também não há qualquer falha. Falhamos ao não realizar plenamente o potencial de crescimento do país. Faltou determinação de continuar as reformas econômicas, a partir da crise do mensalão, em 2005. Sem reformas, a produtividade estancou e o investimento não cresceu.

É possível pensar em um Plano Real II, agora com o intuito de fazer
as reformas abandonadas e ampliar a infraestrutura? O que é preciso
para obter a unidade que levou ao Real em julho de 1994?
Pensar é possível e desejável. O que falta é a decisão política. Em 1994, havia a consciência de que, ou estabilizávamos a economia ou cairíamos num buraco sem fim. Agora falta o consenso de que é preciso reformar o setor público para termos crescimento sustentável. Mas já há um começo, tanto na comissão comandada por Gerdau (Jorge Gerdau Johannpeter, presidente do Comitê de Gestão e Competitividade da Presidência), quanto na recente comissão parlamentar para a reforma do setor público.

A que o senhor atribui o sucesso do real? Por que o país
fracassou tantas vezes até conseguir derrotar a hiperinflação?
Foi um aprendizado penoso. Os militares resolveram conviver com a inflação e aperfeiçoaram a indexação. Aí houve a crise da dívida externa. Depois os percalços da redemocratização, culminando com o trauma do Plano Collor. Naquela altura, ninguém aguentava mais a superinflação. Na PUC-Rio, vínhamos desde 1982 discutindo alternativas para a estabilização. Em 1993, estávamos prontos para colocar as ideias em prática. Então, Itamar Franco nomeou Fernando Henrique como ministro plenipotenciário e o resto foi história.

Se o Plano Real fosse elaborado hoje, o que teria de diferente?
Haveria um processo total de desindexação da economia?
Em vez do câmbio fixo já se adotaria logo o sistema de taxas flutuantes?
O projeto original previa a desindexação total. Mas a negociação no Congresso exigiu a manutenção de alguma indexação residual. Além disso, o ajuste fiscal foi menos forte do que o necessário, pois não foi possível aprovar as reformas constitucionais. Tudo o que se conseguiu foi o Fundo Social de Emergência (hoje chamado de Desvinculação das Receitas da União). Com isso, o câmbio teve que fazer o papel de âncora, ao lado nas altas taxas de juros. Se fôssemos começar de novo, seria preciso mudar a história, fazendo a revisão constitucional em 1995 e não em 1993. Com um reforma constitucional, seria possível adotar mais cedo o regime de câmbio flutuante e baixar as taxas de juros.

Nos últimos anos, o crescimento do Brasil foi baseado no consumo das famílias.
Esse modelo está esgotado? Por que ainda resistimos tanto a adotar um choque de investimentos? As taxas de juros estão no  menor patamar da história, mas as empresas se recusam a ampliar a produção.
Não sei se é inteiramente verdadeira essa afirmação. A taxa de investimento em preços constantes aumentou continuamente de 2005 até 2011 (exceto em 2009, por causa da crise externa). O Brasil ainda investe pouco, mas muito mais do que investia em 2005. Agora, há uma crise séria na economia mundial que desalenta o setor privado. Por outro lado, o investimento público está paralisado. E há uma enorme resistência no governo a fazer o óbvio: transferir para o setor privado a responsabilidade por investimentos que não consegue fazer na infraestrutura — em portos, aeroportos, estradas, energia, etc. É preciso é superar essa paralisia e oferecer alternativas de investimento para o setor privado.

O Brasil enfrentou muitas crises internacionais ao longo de quase duas décadas.
Caiu de joelhos na maioria das vezes por causa da fragilidade das contas externas.
Com o mundo em recessão, os preços das commodities tendem a desabar. Há riscos
de uma nova tempestade no balanço de pagamentos?
O volume de reservas internacionais é suficiente para enfrentar problemas que possam se manifestar na área externa. Também não há perspectiva de o preço das commodities desabar. Afinal, a limitação dos recursos naturais é o problema central do planeta quando se olha o futuro.

Como o senhor avalia a política macroeconômica do
governo Dilma? Ela está sendo bem conduzida?
Quais são os principais pontos positivos e negativos?
De positivo, estar aproveitando a crise mundial para reduzir os juros. De negativo, não conseguir superar a paralisia de investimentos em infraestrutura.

O governo adotou um viés intervencionista na economia. Essa presença maior do
Estado no setor produtivo pode pôr a perder conquistas do Real?
Tão ruim como o intervencionismo é o protecionismo. Com isso estão tentando evitar o processo schumpeteriano de criação destrutiva, que é a base da prosperidade no capitalismo. Com essa política absurda de conteúdo nacional, continuaremos a produzir carroças e não vamos chegar ao pré-sal.

O Brasil ganhou voz no mundo e hoje é ator influente na política global.
Em que a estabilidade econômica contribuiu para isso? Essa relevância veio para ficar?
O Plano Real só tem 18 anos. Daqui a 32 anos poderemos fazer essa avaliação, se a estabilidade interna, que é a base da relevância externa, veio para ficar. Mas nenhum candidato a De Gaulle vai poder hoje dizer que o Brasil não é um país sério, como disse o general francês na década de 1960. Mérito da redemocratização, do real e da continuidade de políticas econômicas e sociais desde então.

Qual é maior legado do Plano Real e o que ainda precisa ser feito para aperfeiçoá-lo?
O maior mérito é ter mudado a cara do Brasil. Antes, éramos uma nau sem rumo, hoje somos uma economia emergente. Para aperfeiçoar, é preciso voltar às reformas.

quarta-feira, 4 de julho de 2012


Ruy Castro
Faz crescer. FOLHA SP 02.07.12
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RIO DE JANEIRO - Minha neta Isabel, que fez 14 anos outro dia, está mais alta do que eu. Aliás, todo mundo da sua geração já está mais alto do que da minha. Ou que da geração anterior. Veja o vôlei: todos os atuais jogadores, rapazes e moças, são 20 cm mais altos do que seus treinadores, e estes, não faz muito, também eram atletas. Ou o futebol: até há pouco, só os goleiros tinham 1,90 m -de repente, há galalaus em todas as posições.

Os brasileirinhos que têm hoje até 30 anos -nascidos de 1982 para cá- cresceram muito acima da nossa média histórica. Estranhamente, é uma geração alimentada a cheeseburger, frango frito, cachorro quente, miojo e pizza -símbolos da "junk food" que os nutricionistas mais condenam.

A não ser que cheetos, fandangos, pringles e outras iguarias ricas em corantes, conservantes e gorduras trans, em vez de engordar, façam crescer. Ou os sanduíches com três andares de picanha processada, mais uma tonelada de batata frita, tudo melado com ketchup. Ou os 200 tipos de chocolates sólidos e líquidos, que nos tornam os campeões mundiais nessa categoria. Os jovens comem isso dia e noite e, contra toda a lógica, não param de crescer.

Será também pelas porções tamanho jumbo? Uma ida ao cinema exige hoje o consumo de um saco de pipoca puxada na manteiga, que sustentaria uma família no Sudão por uma semana, e de um copo de 700 ml de Coca-Cola contendo 12 colheres, das de sopa, de açúcar. Somando os biscoitos, balas e pastilhas que eles também devoram durante o filme, o incrível é que metade da plateia não desenvolva diabetes antes do fim da sessão.

Sem falar que essa é uma geração que, empanturrada, passa o dia diante da TV ou do computador, e cuja principal atividade física envolve um controle remoto ou um mouse. Por que crescem tanto, para mim é um mistério.

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A luta para recuperar o crescimento.  Coluna Econômica de Luis Nassif - 29/06
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Responsável pelo fim das linhas do INSS, o ex-Ministro da Previdência Nelson Machado ironiza os modelos de gestão, pacotes fechados oferecidos a empresas públicas ou privadas e à administração pública.

O modelo é interessante de se conhecer, diz ele. Mas deve ser encarado como uma caixa de ferramentas que se abre e se usa o necessário. Para cada situação, um conjunto de ferramentas.

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Na coluna de ontem mostrei os passos iniciaisda reforma da Previdência.

Houve uma reunião inicial com gerentes de todo o país para buscar soluções para as filas.

Constatou-se que o primeiro passo seria organizar previamente os horários de atendimento. Haveria uma seletividade, em função da necessidade do seguro. E - principalmente - a resolutilidade. Isto é, a solução para o caso deveria ser dada no primeiro atendimento.

O padrão da administração pública é receber o pedido, carimbar, colocar na pasta e passar para frente. A solução imediata do problema exigiu muito treinamento e capacitação.

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No passado recente, foram feitas várias tentativas de modernização, como a consolidação dos bancos de dados de Pis-Pasep e outras formas de registro profissional dos segurados. Mas a legislação impedia o seu uso como prova de tempo de trabalho.

Na gestão Pimental - anterior a Machado - a lei foi alterada permitindo eliminar o chamado saquinho de papel (a montanha de comprovantes de vínculos trabalhistas que acompanhava cada processo). Com o computador ligado, o atendente tinha condição de aprovar o pedido de aposentadoria na hora, consultando o histórico do beneficiário.

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Reordenou-se a lógica das consultas. No caso de aposentadoria por acidente de trabalho, por exemplo, o segurado previsava ir à agência marcar a perícia. Uma segunda ida, para fazer a perícia. Uma terceira ida para ter alta.

O agendamento passou a ser feito por canais de atendimento à distância. Montou-se uma estrutura de agendamento por telefone (37%), Internet (25%) e agência (6%).

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Para cada caso - quebra de perna, braço etc. - o médico já dava um prazo padrão para restabelecimento do segurado. Ao final do prazo, a alta era automática. Só voltava ao perito o segurado que precisasse de mais tempo de recuperação.

Em 2005 houve 900 mil perícias médicas, 500 mil por terceirizados. Em setembro começaram a entrar os concursados. A média das perícias caiu para 500 mil.

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Outro ponto de desafio foi o combate ao desperdício e à fraude. Havia a mística de que 50% dos benefícios da Previdência eram fraudados - beneficiários fantasmas, falecidos etc. Houve algumas tentativas de censo, mas que esbarraram em problemas de planejamento.

Para preparar o novo censo, montou-se um plano inicial e Machado conversou antecipadamente com presidentes do STF, do Senado e Câmara, do TCU, com o Procurador Geral da República e com as principais redações de jornais.

Deixou claro que bastaria uma matéria sensacionalista com alguma idosa com dificuldades de se recadastrar para derrubar o trabalho.

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Conseguiu-se adesão geral. Ao final do recadastramento, as fraudes não chegavam a 2,5% - mas um valor considerável, de R$ 1,5 bilhão, levando-se em conta o tamanho do orçamento do órgão.

Hoje em dia o recadastramento é automático, através das próprias agências bancárias.


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A vitória do Bolsa Família.   Coluna Econômica de Luis Nassif - 02/07/2012

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Se houve um vitorioso na Conferência Rio+20 foram as políticas de transferência de rendas do país e, entre elas, especificamente o Bolsa Família.

A agenda da pobreza acabou indo para o centro do documento final da conferência. E em todo lugar em que se discutia o tema, a experiência brasileira era apontada como a mais bem sucedida, em vários aspectos: efetividade (não gera dependência), os beneficiários trabalham, há o emponderamento das mulheres, melhor frequência escolar e desempenho das crianças.

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Hoje em dia, há pelos menos duas delegações internacionais por semana visitando o MDS (Ministério do Desenvolvimento Social), segundo informa a Ministra Tereza Canepllo, para saber mais detalhes da experiência.

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Com 9 anos de vida e 13,5 milhões de famílias atendidas, com riqueza de séries históricas, estatísticas e avaliações, o BF conseguiu desmentir várias lendas urbanas:.

Lenda 1 – o BF criará preguiçosos acomodados.

Os levantamentos comprovam que maioria absoluta dos adultos beneficiados trabalha na formalidade e na informalidade.

Lenda 2 – as beneficiárias tratarão de ter mais filhos para receber mais auxílio.

O último censo comprovou redução geral da natalidade no país, mais ainda no nordeste, mais ainda entre os beneficiários do BF.

Lenda 3 – um mero assistencialismo sem desdobramentos.

Nos estudos com gestantes, as que recebem BF frequentam em 50% a mais o pré-natal; as crianças nascem com mais peso e altura; houve redução da mortalidade materna e infantil. Há maior frequência das crianças às escolas.

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Agora, através do programa Brasil Carinhoso, se entra no foco do foco, as famílias mais miseráveis com crianças de 0 a 6 anos. No total, 2,7 milhões de crianças.

Em 9 anos, atendendo 13,5 milhões de família, o BF consegue uma avaliação refinada e de segurança para todos os parceiros.

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Com Brasil Carinhoso pretende-se chegar a 2,7 milhões de crianças, em famílias pobres com filhos entre 0 e 6 anos de idade.

A grande preocupação da presidente, explica Tereza Campello, é que essas crianças não podem esperar: qualquer impacto da pobreza sobre sua formação, qualquer problema nutricional as afetará por toda a vida

Essas famílias representam 40% dos extremamente pobres do país. Primeiro, se levantará sua renda atual. O Brasil Carinhoso complementará até atingir R$ 70,00 per capita por mês.

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Hoje em dia, não há um técnico de renome que tenha ressalvas maiores ao Bolsa Família. As críticas estão concentradas em colunistas sem conhecimento maior de metodologia de políticas sociais, de estatísticas.

No início do governo Lula, havia duas vertentes de discussão sobre políticas sociais. Uma, a do universalismo inconsequente, a do distributivismo sem metodologia – cujo representante maior era Frei Betto e seu Fome Zero. A outra, um modelo metodologicamente sofisticado,, tem como figura central (na parte de focalização) o economista Ricardo Paes de Barros.

Prevaleceu um misto do modelo, com as estatísticas sendo utilizadas para focalizar melhor os benefícios. Foi esse modelo que acabou consagrando universalmente o BF.

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CARLOS HEITOR CONY
Um mistério na Redação. FOLHA SP 03.07.12
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RIO DE JANEIRO - Até hoje não entendi. Vou contar o caso porque tenho pelo menos três testemunhas vivas e em atividade profissional para confirmar o que se passou naquele 14 de março de 1985, na Redação da "Manchete": Roberto Muggiati, José Esmeraldo Gonçalves e J.A. de Barros.FOLHA SP 03.07.12

Íamos lançar uma nova revista para substituir a "Fatos&Fotos". Uma equipe já estava em Brasília para cobrir a posse de Tancredo Neves na Presidência da República. O Mauro Salles, na véspera, me transmitira o convite para almoçar com Tancredo e mais cinco jornalistas. Respondi que não podia, precisava editar o primeiro número da nova revista.

Pouco depois do almoço, mais ou menos às 15h, recebi um telefonema, voz de mulher. Falando baixinho, ela me informou que haveria um imprevisto no dia seguinte. Tancredo não tomaria posse. Não podia entrar em detalhes.

Não tive outras informações, mas desconfiei que o aviso recebido era de pessoa comprometida pessoalmente com Tancredo. Chamei o Esmeraldo e o Barros, respectivamente, diretor de Redação e diretor de arte. Disse que ia mudar a pauta do nosso primeiro número, porque Tancredo não tomaria posse. Avisei também ao Mugiatti que estava fechando o número especial da "Manchete" com pauta parecida.

Dez minutos depois, Adolpho Bloch, que já estava em Brasília com o Alexandre Garcia e uma numerosa equipe, telefonou. Exaltado, me chamou de maluco, onde já se vira? Tudo estava pronto para a posse. Passou o telefone para o Alexandre, que chefiava nossa sucursal.

Ele garantiu que tudo estava tranquilo, não haveria nenhum golpe contra a posse de Tancredo, que eu estava, como sempre, mal informado.

Meia-noite, mais ou menos, Adolpho me ligou: que desse a capa com o Sarney.
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Greve nas federais já atinge os hospitais universitários do país
Consultas eletivas e alguns tipos de exame são cancelados por falta de técnicos. FOLHA SP 03.07.12

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O atendimento dos hospitais universitários -referência no serviço do SUS (Sistema Único de Saúde)- começa a ser afetado pelas paralisações por todo o país.

A greve nacional dos professores das universidades federais já dura um mês e meio e atinge 95% das escolas, segundo a organização. O governo diz não ter balanço da paralisação.

Em paralelo, acontece a greve dos servidores técnico-administrativos das federais, iniciada no último dia 11 de junho.

A categoria, que abrange técnicos em enfermagem, assistentes administrativos, auxiliares de laboratório, motoristas e dezenas de outros profissionais, reivindica recomposição salarial de 22% e piso de três salários mínimos, entre outros pontos.

HOSPITAIS

A adesão dos servidores à greve varia de acordo com a universidade, mas é suficiente para causar transtornos em alguns hospitais.

No Hospital de Clínicas da UFPR (Universidade Federal do Paraná), por exemplo, cerca de 70% do atendimento está comprometido.

Na semana passada, o hospital suspendeu todas as consultas eletivas (cerca de 1.400 por dia, muitas agendadas com meses de antecedência) devido à falta de técnicos nos laboratórios, que estão sem funcionar há pelo menos duas semanas.

Não estão sendo feitos exames laboratoriais, como de sangue e urina, de imagem (ultrassom, raios-X e tomografia) e endoscopias digestivas.

Só foi preservado o atendimento a pacientes internados (o HC tem 510 leitos) e em tratamento quimioterápico, além dos atendimentos de urgência e emergência -que, ainda assim, foram afetados.

Nas UTIs, por exemplo, 4 dos 14 leitos estão inutilizados, por falta de pessoal. Metade dos dez leitos do pronto-atendimento também foram bloqueados pela direção.

A estimativa é que entre 10 mil e 15 mil pessoas tenham deixado de ser atendidas desde o início da greve.

Procurada, a assessoria de imprensa do hospital informou que nenhum diretor poderia dar entrevista sobre o assunto.

Em Minas Gerais, no Hospital das Clínicas da UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais), cerca de 25% do atendimento ambulatorial e hospitalar foi comprometido.

De acordo com a direção do hospital, todas as consultas e exames já agendados estão sendo realizados.

As restrições são apenas para novas consultas e exames -mas testes que apenas o Hospital de Clínicas realiza na rede pública não foram interrompidos. No total, 140 mil exames são feitos todo mês no hospital.

No ano passado, os servidores técnico-administrativos das universidades federais ficaram cerca de cem dias em greve em todo o país, mas não houve negociação com o governo federal.

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Inéditos de Paulo Mendes Campos serão lançados em livro na Flip
Carta e poema escritos para o amigo Otto Lara Resende estão reunidos em nova publicação
Textos foram escritos quando autor tinha 19 anos e havia acabado de chegar ao Rio, atraído por Pablo Neruda. FOLHA SP 03.07.12

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Poucos dias após chegar ao Rio, em agosto de 1945, atraído pela presença do poeta chileno Pablo Neruda (1904-1973) na cidade, o mineiro Paulo Mendes Campos, então com 23 anos, escreveu a seu amigo Otto Lara Resende, movido pelo impacto da mudança de Belo Horizonte.

Àquela altura desempregado, morando de favor na casa de Fernando Sabino e ainda distante da publicação de seu primeiro livro ("A Palavra Escrita", de 1951), o poeta e cronista sentia-se exilado, perdido, temeroso quanto ao que viria.

"O coração pesa e se refugia silencioso entre possibilidades e apreensões. Dir-se-ia um coração cansado. Entretanto, meu velho, esse é um valente coração", escreveu o autor na primeira das nove páginas manuscritas de "Carta a Otto ou Um Coração em Agosto".

A correspondência entre os dois escritores, encerrada com um poema inédito de Paulo Mendes Campos, chega agora ao público em livro publicado pelo IMS (Instituto Moreira Salles) que será lançado na Flip (Festa Literária Internacional de Paraty), que começa amanhã.

"Não é uma carta tradicional, com a informalidade que marcava a correspondência entre eles. É um desabafo no mês da chegada dele ao Rio, com clara intenção literária", diz Elvia Bezerra, coordenadora de literatura do IMS e responsável pela edição.

O próprio Campos faz menção jocosa a suas intenções literárias no trecho mais informal da carta, que introduz o poema inédito em homenagem ao "irmão triste e terno":

"Otto, mermãozinho, às 6 horas parnasianas de uma tarde carioca me canso de 'literatura' e resolvo fazer literatura. Mas não sei. Então, escreverei um poema. E escrevo pra você."

ACERVO ABERTO

A publicação de "Carta a Otto" também marca a abertura de parte do acervo de Paulo Mendes Campos, doado ao IMS no início do ano passado.

Por ora, estão acessíveis 53 cadernos com poemas, manuscritos, reflexões e estudos. Há ainda 180 itens de correspondência e 360 fotografias que não foram catalogados nem liberados.

A quantidade de material inédito e sua relevância ainda precisam ser determinadas pelos estudiosos da obra do mineiro.

Nos cadernos a que a Folha teve acesso exclusivo, estão desde textos escritos em livros escolares -como o inédito "Fugindo de Casa", escrito aos 11 anos, relatando a experiência do título- até rascunhos de poemas mais maduros, como a "Cantiga para Mario Quintana".

Há também listas de obras "traduzidas" e "traduzíveis" -de autores como T.S. Eliot, Rimbaud e Apollinaire-, aforismos e "epígrafes possíveis", além de reflexões que mostram a permanência do mesmo estado de espírito que se nota na carta a Otto:

"O que leva o escritor a encontrar a palavra certa é o exercício da leitura certa; o que leva o escritor a encontrar a palavra tocante é o exercício das aflições."

CARTA A OTTO OU UM CORAÇÃO EM AGOSTO
AUTOR Paulo Mendes Campos
EDITORA IMS
QUANTO R$ 19,50 (40 págs.)
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Orquestras jovens brilham em festival
Músicos adolescentes são destaque no fim de semana de abertura da 43ª edição de evento de Campos do Jordão
O pianista russo Dmitry Mayboroda, de 18 anos, exibiu o seu talento; apresentação da Osesp abriu a programação. FOLHA SP 03.07.12
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A abertura foi da Osesp, mas o brilho todo ficou para as orquestras jovens no primeiro final de semana da 43ª edição do Festival Internacional de Inverno de Campos do Jordão.

A bem da verdade, o bom nível da Orquestra Experimental de Repertório, que tocou no domingo à tarde, não chega a surpreender.

Além de ter gente experiente em postos estratégicos, a orquestra é fruto de mais de duas décadas de dedicação do maestro Jamil Maluf, que regeu de cor a abertura da ópera "Fosca", de Carlos Gomes, e as "Variações Enigma", de Edward Elgar.

Ele também acompanha com grande sensibilidade o jovem prodígio russo do piano Dmitry Mayboroda, com 18 anos de puro talento, na "Rapsódia sobre um tema de Paganini", de Rachmaninov.

O assombro veio mais cedo, no concerto matinal do domingo, da Orquestra Jovem do Estado de São Paulo, que, sob regência de Claudio Cruz, executou a "Sinfonia Inacabada", de Schubert, e a oitava sinfonia de Dvorák.

A Estadualzinha, como é carinhosamente apelidada, foi reformulada há não mais do que seis meses. E o resultado impressiona.

Batalhando contra instrumentos precários e a acústica ingrata do Auditório Cláudio Santoro, seus musicistas imberbes, dentre os quais não há nenhum marmanjo, realizaram verdadeiras façanhas de sonoridade, musicalidade e fraseado.

A primeira edição do festival sob direção da Fundação Osesp foi aberta pela própria orquestra, no sábado, repetindo o programa feito na Sala São Paulo: a "Missa Solene", de Beethoven, sob a batuta de Thomas Dausgaard.

Ele e a orquestra tiveram o desempenho questionado na semana anterior, pelo programa com a terceira e a quarta sinfonias de Brahms.

Desta vez, porém, conseguiram "limpar a barra", em uma leitura vigorosa da partitura de Beethoven, com a colaboração de uma bem-vinda "joint venture" do Coro da Osesp e do Coral Paulistano, além de um quarteto equilibrado de vozes solistas (Susanne Bernhard, soprano, Ingebor Danz, meio-soprano, Donald Litaker, tenor, e Klemens Sander, barítono). (IRINEU FRANCO PERPETUO)

FESTIVAL INTERNACIONAL DE INVERNO DE CAMPOS DO JORDÃO
QUANDO até 29/7
CONFIRA a programação em www.festivalcamposdojordao.org.br

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Brasil perde 9 posições em ranking de inovação. 
País é 58º da lista de países mais inovadores, atrás de Portugal, Chile e África do Sul; crédito, ambiente de negócios e educação são entraves. O Estado de S. Paulo - 03/07/2012
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O Brasil desabou no ranking dos países mais inovadores do mundo. Uma classificação publicada hoje pela Organização Mundial de Propriedade Intelectual e pelo instituto Insead, considerada como a mais completa temperatura do grau de inovação no mundo, aponta que o Brasil ocupa apenas a 58.ª posição no ranking, uma queda de nove posições em relação a 2011.

Países como Portugal, Sérvia, Romênia, África do Sul e Bulgária estão melhores colocados que o Brasil. Os principais obstáculos no País: a qualidade do ensino superior e as condições para investir em ciência. O ranking é liderado pela Suíça, seguido pela Suécia, Cingapura e Finlândia. Os Estados Unidos estão na décima colocação.

O levantamento revela que o Brasil foi o país que mais caiu no ranking entre os Brics, sigla que agrupa China, Índia, Rússia e Brasil. Para os especialistas, o bloco todo precisa corrigir obstáculos institucionais para fomentar a inovação. China e Índia são citados como exemplos de países que conseguiram transformar bolsões de tecnologia em ganhos mais generalizados para a economia.

Mas, quanto ao Brasil, o levantamento revela que o País não é líder em inovação nem mesmo na América Latina. O Chile está na 39.ª posição. Já o restante da região está bem abaixo. Na 58.ª posição, a situação do Brasil não é cômoda. "Particularmente preocupante é a posição do Brasil no que se refere ao ambiente para negócios (127.ª posição de 141 países analisados), a educação superior (115.º lugar), condições de crédito e comércio (108.º lugar)", alertou o estudo.

O levantamento ainda indica que o peso das importações no PIB brasileiro é o menor do mundo. Em 2010, as importações representavam apenas 12% do PIB, o menor índice entre 141 países avaliados. O Brasil também tem uma baixa taxa de pesquisas publicadas em revistas científicas em comparação a seu PIB. O Brasil tem uma produção menor que Fiji, Irã ou Zimbábue, levando em conta o tamanho das economias.

Exportação. Com apenas 14% de suas exportações com valor agregado de alta tecnologia, o Brasil ocupa a 49.ª posição entre os países com uma pauta de exportação mais avançada. Tunísia, Indonésia e Casaquistão estão em melhor posição. Outra constatação é de que empresas raramente contribuem com a inovação no Brasil, com menos de 5% das patentes registradas. Hoje, 24% das patentes são registradas por universidades.

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