Para Revista do Brasil – REVISTA CAROS AMIGOS JULHO/2017
segunda-feira, 10 de julho de 2017
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A
nova classe do setor de serviços e a uberização da força de trabalho
Por Marcio Pochmann
Para Revista do Brasil – REVISTA CAROS AMIGOS JULHO/2017
Para Revista do Brasil – REVISTA CAROS AMIGOS JULHO/2017
O colapso no padrão de financiamento
da economia nacional logo no início da década de 1980, com a crise da dívida
externa, levou à adoção de programas de ajustes macroeconômicos que até hoje
inviabilizam a retomada plena do crescimento econômico sustentado. No cenário
aberto da semi-estagnação que prevaleceu, com fortes e rápidas oscilações nas
atividades econômicas, o país terminou por romper com a fase de estruturação da
classe trabalhadora vigente durante a dominância da sociedade urbana e
industrial.
Desde os anos 1990, com a adoção do
receituário neoliberal, o precoce movimento da desindustrialização da economia
nacional se generalizou acompanhado do surgimento de uma nova classe
trabalhadora de serviços. Isso porque se passou a assistir a expansão
considerável do setor terciário, especialmente no âmbito dos pequenos
empreendimentos no Brasil, portador de um inédito e crescente precariado de
dimensão nacional.
Atualmente, quase 80% dos postos de
trabalho existentes pertencem ao setor terciário da economia. E de cada três
ocupações abertas no segmento privado não agrícola duas são provenientes dos
negócios com até 10 trabalhadores.
Nessa nova classe trabalhadora de
serviços em expansão prevalece elevada heterogeneidade, sobretudo nos pequenos
empreendimentos que reúnem desde atividades associadas à estratégia de
sobrevivência às ocupações tecnologicamente avançadas, com vínculos às grandes
empresas nacionais e internacionais.
Por conta disso, o curso da nova
classe trabalhadora de serviços assenta-se majoritariamente nas ocupações
inseguras e amparadas por baixa remuneração. A realização de reformas
neoliberais, em sua segunda versão a partir do governo Temer, liquida com a
regulação fordista, desconstituindo o que restava das tradicionais classes
médias assalariadas e dos trabalhadores industriais.
Em seu lugar termina por consolidar a
geração do novo precariado, portador de intensa polarização social que se
expressa pelo espontaneismo de lutas e agressividade das lutas. Cada vez mais,
a nova classe trabalhadora de serviços torna-se exposta aos experimentos
do uberismo na organização e remuneração da força de trabalho, o que
faz com que a regularidade do assalariamento formal e a garantia dos direitos
sociais e trabalhistas tendam a se reduzir drasticamente.
Nessa toada, avançam, por exemplo, os
contratos de zero hora, cujo trabalho intermitente permanece ativo aguardando
demanda do uso da força de trabalho advinda a qualquer momento. O esfacelamento
nas organizações de representação dos interesses do mundo do trabalho
(associações, sindicatos e partidos) transcorre mediado pela intensificação do
grau de exploração do trabalho.
Como os direitos sociais e
trabalhistas passam crescentemente a ser tratados pelos empregadores e suas
máquinas de agitação e propaganda como fundamentalmente custo, a contratação
direta, sem direitos sociais e trabalhistas libera à competição individual no
interior da classe trabalhadora em favor dos patrões.
Os sindicatos ficam de fora da
negociação coletiva e com restrição maior ao acesso à regulação pública do
trabalho (direitos sociais e trabalhistas), o esvaziamento da organização se
generaliza pela fragmentação da própria base social e territorial. Mesmo assim,
permanecem ainda formas de lutas herdadas da fase de predomínio do novo
sindicalismo, com a hierarquia e a estruturação das negociações coletivas de
trabalho.
Por conta disso, as greves gerais do
ano de 2017 no Brasil não deixaram de expressar certo padrão híbrido de
organização e lutas dos trabalhadores, compatível inclusive com as jornadas de
mobilização que em 2013 seguiram o processo de "propagação viral" de
protestos, conforme também registrado em outros países.
Marcio Pochmann é professor do
Instituto de Economia e pesquisador do Centro de Estudos Sindicais e de
Economia do Trabalho, ambos da Universidade Estadual de Campinas.
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