George Etheredge/The New York Times
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FOLHA SP ILUSTRADA -
26/06/2017
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terça-feira, 27 de junho de 2017
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Crise
democrática é fruto da indústria cultural, diz escritor Amós Oz
Hitler e Stálin não esperavam, é
claro, mas deram um presente à humanidade: o medo do fanatismo e da violência.
Por mais de 50 anos, o mundo viveu com tal medo. Agora, a data de validade
desse "presente" chegou.
Quem diz é Amós Oz,
uma das principais vozes da literatura israelense. Contundente analista político,
ele fala nesta segunda-feira (26), em São Paulo, no ciclo de conferências
Fronteiras do Pensamento.
O autor, que neste ano chegou à
final do Man Booker International Prize, um dos principais prêmios literários
do mundo, também lança no país "Mais de uma Luz", volume com três
ensaios. Em um deles, Oz revê e amplia "Como
Curar um Fanático", um de seus textos clássicos.
"Há muitas diferenças [desde a
publicação do texto original]. Vivemos uma crise muito profunda do sistema
democrático. As características que alguém precisa ter para ser eleito são
quase o oposto daquelas necessárias para se liderar uma nação", diz o
autor israelense.
O problema, argumenta, é que a
política misturou-se às concepções da indústria do entretenimento. Esse seria o
motivo da ascensão de candidatos extremistas –eles são os "mais
divertidos", diz Oz.
"Há uma geração inteira de
jovens, no mundo todo, que veem mais programas satíricos na TV do que o
noticiário. E esse é o único contato direto deles com a política."
O escritor vê, no século 21, uma
confirmação do pensamento do filósofo alemão Theodor Adorno (1903-1969), que
via na indústria cultural uma ameaça à democracia.
"Em certo sentido, ele foi um
profeta. Adorno viu crises que só se materializaram agora", afirma Oz.
O resultado, então, seria o
crescimento do fanatismo –forma de pensamento dedicada não só a exterminar o
outro fisicamente, mas em matar a diferença entre pessoas.
Para ele, a série de manifestações
que começaram com a Primavera Árabe e se espalharam pelo mundo –gerando a
crença no surgimento de uma nova democracia, em especial nos países árabes– foi
interpretada de forma errada:
"Não houve Primavera Árabe. Foi
um inverno islâmico. Muitos achavam que ia se repetir no mundo árabe o que
houve nos países do bloco socialista. A história não se repete. Nesses locais,
há um tipo de opressão totalmente diferente."
Mas de onde surge o fanatismo? Para
Oz, quanto mais complexas se tornam os dilemas da sociedade, mais haverá quem
queira respostas fáceis. O fanático, nesse sentido, é aquele que oferece a
redenção em duas frases.
Por isso, afirma, a curiosidade e a
imaginação podem ser um antídoto: as duas, afinal, alimentam-se da diferença
entre os humanos.
"É uma infantilização da raça
humana. Adultos sofrem lavagem cerebral da indústria cultural para virar
criancinhas, porque as criancinhas são melhores consumidores."
Seria a hora de uma literatura
política, então?
"Não escrevo ficção para enviar
mensagens ideológicas. Seria um desperdício. Quando quero fazer isso, por
exemplo, escrevo um artigo dizendo para o governo [israelense] ir para o diabo
que o carregue. Mas eles leem e, por algum motivo que não entendo, não
vão."
MAIS DE UMA LUZ
AUTOR Amos Oz
TRADUÇÃO Paulo Geiger
EDITORA Companhia das
Letras
QUANTO R$ 34,90 (136
págs.)
FRONTEIRAS DO PENSAMENTO
QUANDO Nesta segunda
(26), 20h30, no Teatro Santander, Av. Pres. Juscelino Kubitschek, 2041, tel.
(11) 4003-1022
QUANTO R$ 2.886, na
plateia, e R$ 1.688, no balcão. Os valores se referem ao pacote completo para
oito conferências, mas os ingressos estão esgotados. É possível entrar em uma
lista de espera, ligando para o tel. (11) 4020-2050 (não são vendidos ingressos
para conferências individuais).
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