FONTE: CORREIO BRAZILIENSE 08.12.15
Mulheres de cinzas
De Mia Couto. Companhia das Letras, 344 páginas.
R$ 39,90
É na história de um Moçambique colonial que Mia Couto foi buscar o material para este primeiro volume de uma trilogia sobre o último imperador a dominar o Estado de Gaza, então parte da colônia portuguesa. Conhecido como Gungunhane, o personagem histórico travou batalhas com os portugueses para tentar manter o domínio da região. No livro, a trama central é o encontro entre um sargento e uma intérprete de uma tribo rival à de Gungunhane.
Antes que seque
De Marta Barcellos. Record, 192 páginas. R$ 32
Vencedor do Prêmio Sesc de Literatura e estreia na ficção da jornalista Marta Barcellos, Antes que seque fala de mulheres, de seu papel na sociedade, das cobranças comuns, dos anseios diante da maternidade e de outros medos, receios e resignações. Em tom muitas vezes irônico, a autora carioca desfila histórias em tom de crítica diante do que é esperado pela sociedade quando se trata do universo feminino. Uma mãe que queria tanto os bebês, mas não sobrevivia sem babá, outra que não sabe o que fazer diante do ódio da filha, a dificuldade de engravidar e outras situações são as matérias-primas de Marta.
A realidade devia ser proibida
De Maria Clara Drummond.
Companhia das Letras, 106 páginas. R$ 23,90
“Um dia vou escrever um livro sobre essas pessoas”, avisa Eva, logo no início de A realidade devia ser proibida. “Essas pessoas” são exatamente o tema desta pequena narrativa, o segundo romance da carioca Maria Clara Drummond. Eva é uma jovem que cresceu entre a mãe controladora e conservadora e o pai casado com uma milionária. As pessoas sobre a qual a narradora desfia considerações para lá de críticas são jovens que, como ela, vêm de um meio privilegiado e trazem no discurso um certo desprezo por tudo que é estranho a seu mundo. Mas Eva consegue enxergar a superficialidade e a banalidade das situações, o que faz da personagem uma figura interessante e curiosa.
Um mapa todo seu
De Ana Maria Machado. Alfaguara, 224 páginas. R$ 39,90
É no cais, antes de subir no Chimborazo, que Quincas avista Zizinha pela primeira vez. “Esguia, de porte altivo”, a moça chama logo a atenção do rapaz. E começa ali uma história que se tornaria de amor e revelaria uma personagem de personalidade empreendedora e surpreendentemente influente para uma mulher naqueles últimos anos de século 19. Zizinha é, na verdade, Eufrásia Teixeira Leite, neta do barão de Itambé, herdeira milionária e empresária que, graças à fortuna da família, trocou o Brasil por Paris e fez da capital francesa a sede de uma série de negócios bem-sucedidos. Quincas é Joaquim Nabuco, com quem Eufrásia teria tido um relacionamento amoroso por mais de 10 anos. O romance histórico de Ana Maria Machado troca os nomes dos personagens, mas é de Eufrásia e Nabuco que a autora fala. Os dois se conheceram no navio que levou Eufrásia de vez para a Europa. Nabuco era, então, diplomata imerso em carreira política e defensor da abolição da escravatura. Além de ter sido presidente da Academia Brasileira de Letras e ser autora de mais de cem livros, Ana Maria carrega ainda uma lista de premiações, que incluem o Prêmio Machado de Assis (pelo conjunto da obra), o Hans Christian Andersen, o Prêmio Jabuti e o Casa de Las Américas.
Luxúria
De Fernando Bonassi. Record, 368 páginas. R$ 40
Num impulso, um metalúrgico compra uma piscina para ser instalada no quintal de casa em bairro de classe média baixa, o mesmo no qual residências foram incrementadas graças ao crédito fácil e carros foram comprados a prestação. É a prosperidade do consumo, símbolo de uma distribuição de renda que deixou para trás a educação e apostou no poder aquisitivo como caminho de reforma social. Mal sabia o metalúrgico que a crise da água se aproximava e que São Paulo logo se veria confrontada com o drama do racionamento. Fernando Bonassi é implacável. O oitavo romance do escritor paulistano natural da Mooca mergulha na ferida brasileira, assim como a fala do autor. “Esse operário representa quem luta por um prato de comida, e o que de pior nós da esquerda fizemos para o país, ao legar frustração, mais uma vez a pura e simples frustração. Uma geração de cidadãos achou que “chegara lá”, mas onde chegou de fato foi só à porta dos cartórios de protestos. Claro que houve melhora: mas foi cosmética”, lamenta. “De pessoas sem direitos, fomos guindados a condição de cidadãos devedores. E o caldo de cultura disso é a violência. Violência cotidiana, no varejo: uma Faixa de Gaza por semana, em São Paulo.” O primeiro romance de Bonassi, Um céu de estrelas, foi adaptado para o cinema por Jean-Claude Bernadet e muitas de suas peças ganharam o palco em montagens do premiado Teatro da vertigem.
O amor das sombras
De Ronaldo Correia de Brito. Alfaguara, 224 páginas. R$ 44,90
Depois de Galileia, considerado o melhor romance brasileiro de 2008 e vencedor do Prêmio São Paulo de Literatura, e Estive lá fora, publicado em 2012, Ronaldo Correia de Brito sentiu desejo de retornar aos contos que povoaram sua estreia literária em 1989. O amor das sombras reúne histórias nas quais a tragédia — iminente ou efetivada — é um fantasma constante. “As narrativas estão impregnadas de memória, esquecimento, solidão, amores frustrados, pensamentos sobre a morte e muitas sensações, sobretudo as do olfato. Um dos meus críticos anotou que a atmosfera única e as histórias dentro de histórias fazem lembrar As mil e uma noites”, avisa Brito, médico nascido há 64 anos em Saboeiro, no sertão cearense de Inhamuns. As mesmas temáticas presentes nos romances reaparecem entrelaçadas nas histórias dos personagens dos 12 contos. É uma contaminação consciente e necessária. “Eu tenho um projeto de escrita, nada do que escrevo é aleatório. Nesse projeto, tento unir os fios narrativos dos romances, contos, novelas e teatro. Até minhas crônicas e ensaios reaparecem dentro dos livros que escrevo”, diz o autor. O mesmo assassinato que pontua as narrativas de Galileia e Estive lá fora reaparece, por exemplo, no último conto de O amor das sombras.
Galveias
De José Luis Peixoto. Companhia das Letras, 272 páginas. R$ 44,90
Uma coisa “sem nome” cai do céu e se estatela em Galveias, um pequeno vilarejo do interior de Portugal cujos habitantes acabam extremamente perturbados pelo acontecido. É em torno desse misterioso fato que os encontros, desencontros e confrontos vão acontecer. Um Portugal rural no qual a tradição se vê ameaçada pela modernidade é uma das preocupações neste romance de José Luis Peixoto, um dos nomes mais importantes da literatura contemporânea portuguesa. “Desde o meu primeiro romance que tenho escrito sobre o Alentejo, assim como sobre a interioridade e a ruralidade portuguesa”, avisa o autor, que já foi finalista de prêmios como o Portugal Telecom e o francês Femina.
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