sexta-feira, 25 de abril de 2014
Manchetes do Edu
O saneamento básico nas eleições (O POPULAR GO
25/04)
Por Washington Novaes é jornalista
À medida em que se
aproxima o início das campanhas para as eleições deste ano, cabe perguntar: e
quem vai tratar de um dos mais graves problemas nacionais, calamitoso mesmo, e
do qual a maior parte da administração pública e dos candidatos costuma fugir
como o diabo da cruz – a extrema precariedade do saneamento básico no País? E
fugir porque se disseminou a convicção de que obras debaixo da terra (redes de
esgotos, redes de água) ninguém vê, não rendem votos; e das estações de
tratamento de esgotos ninguém chega perto, nem quer vê-las nas proximidades,
por causa dos odores e das aparências.
Essa resistência de
administradores e candidatos está registrada num texto do próprio presidente da
Associação Brasileira de Empresas Estaduais de Saneamento, Roberto C. Tavares
(22/3), a propósito do Dia Mundial da Água. Diz ele que, além disso, notícias
sobre o tema só surgem quando se rompe alguma adutora, quando falta água ou
algum repórter se depara com esgotos a céu aberto. E para completar os dramas
da carência de saneamento, afirma, sobram-nos problemas nas áreas de
planejamento urbano, na favelização de áreas nas cidades, no crescimento
desordenado, na burocracia que impede financiamentos. Por isso, diz ele, a
responsabilidade acaba ficando apenas nas mãos das operadoras do sistema –
empresas estaduais, municipais ou privadas.
O Instituto Trata
Brasil, que informa sobre o setor, dá-lhe razão (O Estado de S. Paulo, 23/3),
acrescentando que “o ritmo das soluções vem diminuindo” – tanto que “o país é
um dos que menos expandiram as redes nos últimos 12 anos”, cerca de 4,1% ao ano
nesta década, contra 4,6% na anterior. E entre 200 países no mundo, “o Brasil é
um dos que menos expandiram redes de esgotos no período. Tuvalu e Samoa tiveram
índices equivalentes ao brasileiro; Egito e Síria, convulsionados por conflitos
civis, estão à frente”.
Na verdade, o governo
federal garantira que até 2024 todas as pessoas no Brasil contariam em suas
residências com redes de água e de esgotos; mas já no ano passado, segundo
aquele jornal, estendera o prazo para 2033. E o Instituto Trata Brasil garante
que no passo atual, só chegaremos a essa universalização em 2050; para cumprir
o prazo prometido precisaríamos dobrar a atual taxa de investimentos anuais no
setor, que está entre R$ 8 bilhões e R$ 9 bilhões. A própria ONU chega a
comentar em relatório as discrepâncias nacionais, uma vez que a cidade de
Sorocaba (SP), por exemplo, tem 93,6% da população atendidos, enquanto Macapá,
capital do Amapá, tem 8%; 52% dos nossos municípios não contam com coleta
regular de esgotos e dos que são coletados apenas 38% são tratados (o resto é
despejado sem tratamento em cursos de água). Não é acaso, assim, que a Agência
Nacional de Água diga que todas as bacias hidrográficas, da Bahia ao extremo
Sul, estão em “situação crítica” – e os esgotos são a principal causa da
poluição.
Como se fará? Estudo
do Banco Mundial lembra que o investimento total em serviços naturais precisará
chegar a 260 bilhões de dólares. Outros estudos apontam que, se não o fizermos,
as doenças veiculadas pela água continuarão respondendo por altas taxas de
internação de crianças em hospitais e de mortes por doenças gastrointestinais;
pela perda de dias de trabalho por quase 16 milhões de pessoas a cada ano.
Mas a situação varia
de região para região. A média no saneamento básico é de 21,6% da população
beneficiados na Região Norte e 89,3% no Sudeste; 48,8% no Centro-Oeste, 49,9%
no Nordeste e 66,8% no Sul. O panorama, entretanto, é muito mais complicado
quando se analisa separadamente a área da coleta de esgotos, pois 37% dos
domicílios não são beneficiados, da mesma forma que 8% deles (8 milhões de
pessoas) não recebem água tratada, levada pelos 519 mil quilômetros de redes.
Em Goiás, diz a empresa
de saneamento (18/8/13), as perdas de água nas redes são as menores do País,
31,6% do total, contra uma média brasileira de 38,8%. Goiânia é apontada para o
primeiro lugar em redução de perdas, que chegam a 23,5%. Para o Instituto já
mencionado, a capital goiana tem 99,6% da água tratada, 76,4% dos esgotos
coletados.
Mas há uma polêmica
ainda em andamento: o Estado tem anunciado sua intenção de delegar o saneamento
em várias cidades – Aparecida, Trindade e áreas do Sudoeste – a empresas
privadas. E parte do pessoal do setor entende que não é o melhor caminho,
poderia encarecer o custo dos serviços. É preciso que se discuta mais o tema,
que a população se informe, opine. E que nas campanhas eleitorais saneamento
seja uma questão central.
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