segunda-feira, 10 de novembro de 2014
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Pessoas criativas mudam-se mais vezes- VALOR 07/11
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Dafnis Prieto, baterista e compositor, um dos que
receberam o prestigioso Prêmio MacArthur em 2011, saiu de casa para atender a
uma escola de música em Santa Clara, Cuba, quando tinha apenas 10 anos. Aos 14,
ele foi morar sozinho na capital, Havana. Aos 23, Prieto mudou-se para a
Espanha. Um ano depois, para o Canadá. E aos 25, para Nova York.
Talvez o leitor ache o rapaz um talento precoce e
só, mas sua história guarda outra particularidade. Estudo recém-divulgado pela
própria Fundação MacArthur traz um dado bastante curioso. Os ganhadores do seu
prêmio têm pelo menos uma coisa em comum: eles se mudam bastante.
Dos 701 indivíduos nascidos nos Estados Unidos que
ganharam o prêmio - uma bolada de US$ 625.000 durante um período de cinco anos
-, 79% estavam morando num Estado diferente daquele onde nasceram no momento da
premiação. De acordo com dados recentes do censo americano, cerca de 30% da
população geral e 42% da população com nível superior mora fora do Estado onde
nasceu.
Para neurologista, a criatividade requer que se
veja o mundo de diferentes pontos de vista
Já cerca de 25% dos ganhadores do MacArthur são
como Prieto - nasceram fora dos Estados Unidos. E isso apesar de o prêmio só ser
dado para cidadãos americanos. O historiador Anders Winroth nasceu na Suécia e
estava dando aula na Yale University em Connecticut quando o ganhou, 2003. O
economista Raj Chetty nasceu na Índia, mas trabalhava em Massachusetts quando
foi premiado, em 2012. A física Ana Maria Rey nasceu na Colômbia, fez seu
doutorado em Maryland e estava morando em Colorado quando recebeu o MacArthur,
em 2013.
Esses dados foram publicados num estudo. Sua
autora, Cecilia A. Conrad, não chega a estabelecer conclusões entre mudança e
criatividade e na verdade questiona quem vem primeiro: "As pessoas
supercriativas mudam mais que outras ou é a mudança que torna as pessoas mais
criativas?", indaga no texto.
Prieto acha que a resposta é os dois. "Acho
que criatividade está ligada a curiosidade e coragem. Pessoas criativas estão
sempre buscando novos caminhos", diz. "Mas, no meu caso, eu também me
mudei para melhorar. Você pode criar algo mágico, mas de que serve isso se você
está num lugar onde não há ouvidos ou olhos para apreciar?"
Kenneth M. Heilman, professor do departamento de
neurologia da Universidade da Flórida e especialista em criatividade, concorda.
Ele explica que uma das razões por que pessoas criativas mudam mais é porque,
para ser criativo, você precisa ver o mundo de diferentes pontos de vista.
Além disso, comenta, as pessoas são mais criativas
quando estão relaxadas: "Frequentemente as pessoas mudam de onde estão
porque o ambiente onde vivem não é ideal ou propício à criação".
O estudo da MacArthur também menciona oportunidades
econômicas como uma das razões pelas quais as pessoas se mudam. Cientistas
tendem a se concentrar perto de universidades e áreas com empresas de
tecnologia, por exemplo, como Massachusetts e Califórnia. Artistas tendem a
gravitar por Nova York, Los Angeles e San Francisco. "Nova York é um lugar
para fazer muitas conexões e conseguir muito trabalho", confirma Prieto.
Mesmo na cidade de Nova York, Prieto mudou de
apartamento cinco vezes. E agora está considerando mudar-se para uma cidade menor,
nas redondezas. O estresse de colocar tudo dentro e fora de caixas e de
recomeçar em um novo bairro não o assustam. Para Prieto, os altos e baixos da
vida ajudam e criam potenciais para a criatividade também.
·
quarta-feira, 18 de junho de 2014
Manchetes do Edu
Manifesto assinado por centenas de cientistas foi
enviado a governos de todo o mundo
Da Redação
Cientistas de todo o mundo, preocupados com os perigos que os
transgênicos representam para a biodiversidade, a segurança alimentar, a saúde
humana e animal, exigem uma moratória imediata sobre este tipo de cultivo em
conformidade com o princípio da precaução.
Eles escreveram uma carta abera, assinada por 815 cientistas de 82
países, na qual se opõem aos cultivos transgênicos que intensificam o
monopólio corporativo, exacerbam as desigualdades e impedem a mudança para uma
agricultura sustentável que garanta a segurança alimentar e a saúde em todo o
mundo. Os cientistas fazem um apelo à proibição de qualquer tipo de patentes
de formas de vida e processos vivos que ameaçam a segurança alimentar e violam
os direitos humanos básicos e a dignidade. Eles também querem apoio maior
à pesquisa e ao desenvolvimento de uma agricultura não corporativa,
sustentável, que possa beneficiar as famílias de agricultores em todo o mundo.
Confira abaixo a carta:
"Nós, cientistas abaixo-assinados, pedimos a suspensão imediata de
todas as licenças ambientais para cultivos transgênicos e produtos derivados
dos mesmos, tanto comercialmente como em testes em campo aberto, durante ao
menos cinco anos; as patentes dos organismos vivos, dos processos, das
sementes, das linhas de células e genes devem ser revogadas e proibidas; e
exige-se uma pesquisa pública exaustiva sobre o futuro da agricultura e a segurança
alimentar para todos.
As patentes de formas de vida e processos vivos deveriam ser proibidas
porque ameaçam a segurança alimentar, promovem a biopirataria dos conhecimentos
indígenas e dos recursos genéticos, violam os direitos humanos básicos e a dignidade,
o compromisso da saúde, impedem a pesquisa médica e científica e são contra o
bem-estar dos animais.
Os cultivos transgênicos não oferecem benefícios para os agricultores ou
os consumidores. Em vez disso, trazem consigo muitos problemas que foram identificados
e que incluem o aumento do uso de herbicidas, o desempenho errático e baixos
rendimentos econômicos para os agricultores. Os cultivos transgênicos também
intensificam o monopólio corporativo sobre os alimentos, o que está levando os
agricultores familiares à miséria e impedindo a passagem para uma agricultura
sustentável que garanta a segurança alimentar e a saúde no mundo.
Os perigos dos transgênicos para a biodiversidade e a saúde humana e
animal são agora reconhecidos por várias fontes dentro dos Governos do Reino
Unido e dos Estados Unidos. Consequências especialmente graves se associam ao
potencial de transferência horizontal de genes. Estes incluem a difusão de
genes marcadores de resistência a antibióticos a ponto de tornarem doenças infecciosas
incuráveis, a criação de novos vírus e bactérias que causam doenças e mutações
danosas que podem provocar o câncer.
No Protocolo de Biossegurança de Cartagena negociado em Montreal em
janeiro de 2000, mais de 120 governos se comprometeram a aplicar o princípio da
precaução e garantir que as legislações de biossegurança em nível nacional e
internacional tenham prioridade sobre os acordos comerciais e financeiros da
Organização Mundial do Comércio.
Sucessivos estudos documentaram a produtividade e os benefícios sociais
e ambientais da agricultura ecológica e familiar, de baixos insumos e
completamente sustentável. Ela oferece a única forma para restaurar as terras
agrícolas degradadas pelas práticas agronômicas convencionais e possibilita a
autonomia dos pequenos agricultores familiares para combater a pobreza e a
fome.
Instamos o Congresso dos Estados Unidos a proibir os cultivos
transgênicos, já que são perigosos e contrários aos interesses da agricultura
familiar; e a apoiar a pesquisa e o desenvolvimento de métodos de agricultura
sustentável que podem realmente beneficiar as famílias de agricultores em todo
o mundo.
* * *
1. As patentes de formas de vida e de processos vivos deveriam ser
proibidas porque ameaçam a segurança alimentar, promovem a biopirataria dos
conhecimentos indígenas e os recursos genéticos, violam os direitos humanos
básicos e a dignidade, o compromisso com a saúde, impedem a pesquisa médica e
científica e são contrários ao bem-estar dos animais. (1) As formas de vida,
tais como organismos, sementes, linhas celulares e os genes, são descobertas e,
portanto, não são patenteáveis. As atuais técnicas GM, que exploram os
processos vivos, não são confiáveis; são incontroláveis e imprevisíveis e não
podem ser consideradas como invenções. Além disso, estas técnicas são
inerentemente inseguras, assim como muitos organismos e produtos transgênicos.
2. Cada vez está mais claro que os atuais cultivos transgênicos não são
nem necessários nem benéficos. São uma perigosa distração que impede a mudança
essencial para práticas agrícolas sustentáveis que podem proporcionar a
segurança alimentar e a saúde em todo o mundo.
3. Duas características simples contam para os quase 40 milhões de
hectares de cultivos transgênicos plantados em 1999 (2). A maioria (71%) é
tolerante a herbicidas de amplo espectro, desenvolvidos, por sua vez, para
serem tolerantes à sua própria marca de herbicida, ao passo que o resto é
projetado com as toxinas Bt para matar pragas de insetos. Uma estatística
baseada em 8.200 testes de campo do cultivo transgênico mais popular, a soja,
revelou que a soja transgênica rende 6,7% menos e requer duas a cinco vezes
mais herbicidas que as variedades não modificadas geneticamente. (3) Isso foi
confirmado por um estudo mais recente realizado na Universidade de Nebraska.
(4) No entanto, foram identificados outros problemas, tais como: o desempenho
errático, suscetibilidade a doenças (5), o aborto de frutas (6) e baixos
rendimentos econômicos para os agricultores. (7)
4. De acordo com o programa para a alimentação da ONU, há alimentos
suficientes para alimentar o mundo uma vez e meia. Enquanto a população cresceu
90% nos últimos 40 anos, a quantidade de alimentos per capita aumentou em 25%,
e assim mesmo um bilhão de pessoas passam fome. (8) Um novo relatório da FAO
confirma que há alimentos suficientes ou mais que suficientes para satisfazer
as demandas globais sem levar em conta qualquer melhora no rendimento
proporcionado pelos transgênicos até 2030. (9) É por conta do crescente
monopólio empresarial, que opera sob a economia globalizada, que os pobres são
cada vez mais pobres e passam mais fome. (10) Os agricultores familiares de
todo o mundo foram levados à miséria e ao suicídio e pelas mesmas razões. Entre
1993 e 1997 o número de propriedades de tamanho médio nos Estados Unidos
reduziu-se em 74.440 (11), e os agricultores recebem menos do custo médio da
produção por seus produtos. (12) A população agrícola na França e na Alemanha
diminuiu em 50% desde 1978. (13) No Reino Unido, 20.000 empregos agrícolas
sumiram no último ano, e o primeiro Ministro anunciou um pacote de ajuda de 200
milhões de libras. (14) Quatro empresas controlam 85% do comércio mundial de
cereais no final de 1999. (15) As fusões e aquisições continuam.
5. As novas patentes de sementes intensificam o monopólio empresarial
mediante a proibição dos agricultores de guardarem e replantarem as sementes, o
que a maioria dos agricultores continua a fazer no Terceiro Mundo. A fim de
proteger suas patentes, as empresas continuam desenvolvendo tecnologias
terminator para que as sementes colhidas não germinem, apesar da oposição
mundial dos agricultores e da sociedade civil em geral. (16)
6. A Christian Aid, uma importante organização de caridade que trabalha
no Terceiro Mundo, chegou à conclusão de que os cultivos transgênicos provocam
desemprego, agravam a dívida do Terceiro Mundo e são uma ameaça para os
sistemas agrícolas sustentáveis, além de prejudicar o meio ambiente. (17) Os
governos africanos condenaram a afirmação da Monsanto de que os transgênicos
são necessários para alimentar os famintos do mundo: “Nós nos opomos
firmemente... ao fato de que a imagem dos pobres e famintos dos nossos países
esteja sendo utilizada pelas grandes empresas multinacionais para desenvolver
tecnologia que não é segura nem para o meio ambiente, nem economicamente
benéfica para nós... Nós acreditamos que vai destruir a diversidade, o
conhecimento local e os sistemas agrícolas sustentáveis que nossos agricultores
desenvolveram durante milhares de anos e... minar a nossa capacidade de nos
alimentar”. (18) Uma mensagem do Movimento Camponês das Filipinas dirigida à
Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE) dos países
industrializados, declarou: “A entrada dos organismos geneticamente modificados
seguramente intensificará a falta de terras, a fome e a injustiça”. (19)
7. Uma coalizão de grupos de agricultores familiares dos Estados Unidos
divulgou uma lista completa das suas exigências, entre as quais estão a
proibição da propriedade de todas as formas de vida; a suspensão das vendas,
licenças ambientais e outras aprovações de cultivos transgênicos e dos produtos
derivados, pendentes de uma avaliação independente e exaustiva dos impactos
ambientais, da saúde e econômico-sociais; e que se obrigue as empresas a se
responsabilizarem por todos os danos e prejuízos derivados de seus cultivos
geneticamente modificados e produtos para o gado, sobre os seres humanos e o
meio ambiente. (20) Também exigem uma moratória de todas as fusões e aquisições
de empresas, do fechamento da granja, e o fim das políticas que servem aos
grandes interesses agroindustriais à custa dos agricultores familiares, dos
contribuintes e do meio ambiente. (21) Eles montaram uma ação judicial contra a
Monsanto e outras nove empresas por práticas monopólicas e por impingir os
cultivos transgênicos sobre os agricultores sem avaliações de segurança e de
impacto ambiental adequadas. (22)
8. Alguns dos perigos dos cultivos transgênicos são reconhecidos
abertamente pelos Governos do Reino Unido e dos Estados Unidos. O Ministério da
Agricultura, Pesca e Alimentação do Reino Unido admitiu que a transferência dos
cultivos transgênicos e o pólen para além dos campos plantados é inevitável
(23), e isso já deu lugar a ervas daninhas resistentes aos herbicidas. (24) Um
relatório provisório sobre os testes de campo patrocinados pelo Governo do
Reino Unido confirmou a hibridação entre propriedades adjacentes de diferentes
variedades de colza tolerante aos herbicidas modificados geneticamente, o que
deu lugar a híbridos tolerantes a múltiplos herbicidas. Além disso, a colza
transgênica e seus híbridos foram encontrados como praga nos cultivos de trigo
e cevada posteriores, que estavam sendo controlados com herbicidas
convencionais. (25) Pragas de insetos resistentes ao Bt evoluíram em resposta à
contínua presença das toxinas nas plantas transgênicas durante todo o ciclo de
cultivo e a Agência de Proteção do Meio Ambiente dos Estados Unidos está
recomendando aos agricultores para que plantem até 40% de cultivos não
geneticamente modificados com a finalidade de criar refúgios para não pragas de
insetos resistentes. (26)
9. As ameaças à diversidade biológica dos principais cultivos
transgênicos já comercializados são cada vez mais claras. Os herbicidas de
amplo espectro utilizados com os cultivos transgênicos tolerantes a herbicidas
não apenas dizimam espécies de plantas silvestres de forma indiscriminada, mas
também são tóxicos para os animais. O glufosinato provoca defeitos congênitos
em mamíferos (27) e o glifosato está ligado ao linfoma de Hodgkin. (28) Os
cultivos transgênicos Bt-toxinas matam insetos benéficos como as abelhas (29) e
os crisopídios (30) e o pólen do milho Bt é letal para as borboletas monarca
(31), assim como para os papiliônidos. (32) A Toxina Bt é exalada das raízes do
milho Bt na rizosfera, onde se une rapidamente às partículas do solo e se
converte em parte do mesmo. À medida que a toxina está presente de forma
ativada, não seletiva, espécies objetivas e não objetivas no solo se verão
afetadas (33), causando um enorme impacto sobre todas as espécies acima do
solo.
10. Os produtos resultantes dos organismos geneticamente modificados
também podem ser perigosos. Por exemplo, um lote de triptofano produzido por
microorganismos geneticamente modificados está associado a pelo menos 37 mortes
e 1.500 doenças graves. (34) Um hormônio geneticamente modificado de
crescimento bovino, que é injetado em vacas com a finalidade de aumentar a
produção de leite, não provoca apenas o sofrimento excessivo e doenças nas
vacas, mas também aumenta o IGF-1 no leite, que está vinculado ao câncer de
mama e da próstata em seres humanos. (35) É vital para o público ser protegido
de todos os produtos transgênicos e não apenas os que contêm DNA transgênico ou
proteína. Isso porque o próprio processo de modificação genética, pelo menos na
forma praticada atualmente, é inerentemente perigoso.
11. Memorandos secretos da Administração dos Alimentos e Medicamentos
dos Estados Unidos revelaram que foram ignoradas as advertências dos seus
próprios cientistas de que a engenharia genética é um novo ponto de partida e
introduz novos riscos. Além disso, o primeiro cultivo transgênico liberado para
sua comercialização – o tomate Flavr Savr – não passou nos testes toxicológicos
requeridos. (36) Desde então, nenhum teste de segurança científica abrangente
havia sido feito até que o Dr. Arpad Pusztai e seus colaboradores no Reino
Unido levantaram sérias preocupações sobre a segurança das batatas GM que eles
estavam testando. Eles chegaram à conclusão de que uma parte significativa do
efeito tóxico pode ser devido à transformação genética ou ao processo utilizado
na fabricação das plantas geneticamente modificadas ou ambos. (37)
12. A segurança dos alimentos transgênicos foi abertamente contestada
pelo professor Bevan Moseley, geneticista molecular e atual presidente do Grupo
de Trabalho sobre Novos Alimentos no Comitê Científico da União Europeia sobre
a Alimentação. (38) Ele chamou a atenção sobre os efeitos imprevistos inerentes
à tecnologia, enfatizando que a próxima geração dos alimentos geneticamente
modificados – os chamados ‘nutracêuticos’ ou ‘alimentos funcionais’, como a
vitamina A ‘enriquecida’ do arroz – ira representar riscos ainda maiores para a
saúde devido ao aumento da complexidade das construções de genes.
13. A engenharia genética introduz novos genes e novas combinações de
material genético construído em laboratório nos cultivos, no gado e nos
microorganismos. (39) As construções artificiais são derivadas do material
genético de vírus patógenos e outros parasitas genéticos, assim como bactérias
e outros organismos e incluem códigos genéticos para resistir aos antibióticos.
As construções estão projetadas para quebrar as barreiras das espécies e para
superar os mecanismos que impedem de inseri-lo em genomas de material genético
estranho. A maioria deles nunca existiu na natureza ao longo de bilhões de anos
de evolução.
14. Estes constructos são introduzidos nas células por métodos invasivos
que levam a inserção aleatória dos genes estranhos aos genomas (a totalidade de
todo o material genético de uma célula ou organismo). Isto dá lugar a efeitos
aleatórios imprevisíveis, incluindo anormalidades em animais e em toxinas e
alérgenos inesperados em cultivos alimentares.
15. Uma construção comum a praticamente todos os cultivos transgênicos
já comercializados ou submetidos a testes de campo envolve um interruptor de
gene (promotor) do vírus mosaico da couve-flor (CaMV) emendado ao gene estranho
(transgene) para torná-lo sobre-expresso de forma contínua. (40) Este promotor
CaMV está ativo em todas as plantas, em leveduras, algas e no E.coli.
Recentemente descobrimos que é ainda está ativo no ovo de anfíbio (41) e no
extrato de células humanas. (42) Ele tem uma estrutura modular e pode ser
intercambiado, em parte ou na sua totalidade, com os promotores de outros vírus
para dar aos vírus infecciosos. Ele também tem um “ponto quente de
recombinação”, assim que é propenso a romper-se e unir-se a outro material
genético. (43)
16. Por estas e outras razões, o DNA transgênico – a totalidade das
construções artificiais transferidas para o OGM – pode ser mais instável e
propenso a transferir-se novamente para espécies não relacionadas;
potencialmente, para todas as espécies que interagem com o OGM. (44)
17. A instabilidade do DNA transgênico em plantas geneticamente
modificadas é bem conhecida. (45) Genes transgênicos são, muitas vezes,
silenciados, mas a perda de parte ou da totalidade do DNA transgênico também
ocorre, inclusive nas gerações posteriores de propagação. (46) Estamos cientes
de nenhuma evidência publicada para a estabilidade a longo prazo de inserções
transgênicas em termos de estrutura ou localização no genoma da planta em
qualquer das linhas de transgênicos já comercializados ou testados em campo.
18. Os perigos potenciais da transferência horizontal de genes de GM
incluem a propagação de genes resistentes a antibióticos aos patógenos, a
geração de novos vírus e bactérias que causam a doença e as mutações devido à
inserção aleatória de DNA estranho, alguns dos quais podem provocar o câncer em
células de mamíferos. (47) A capacidade do promotor CaMV para funcionar em
todas as espécies, incluindo os seres humanos, é particularmente relevante para
os perigos potenciais da transferência horizontal de genes.
19. A possibilidade de o DNA nu ou livre ser absorvido por células de
mamíferos é explicitamente mencionado pela Administração dos Alimentos e
Medicamentos (FDA), dos Estados Unidos, em um projeto de orientação à indústria
sobre os genes marcadores de resistência a antibióticos. (48) Em seus
comentários sobre o documento da FDA, o Ministério da Agricultura, Pesca e
Alimentação do Reino Unido assinalou que o DNA transgênico pode ser transferido
não apenas por ingestão, mas pelo contato com a poeira e o pólen de plantas
transmitidas pelo ar durante o trabalho agrícola e o processamento de
alimentos. (49) Esta advertência é ainda mais significativa com o recente
relatório da Universidade de Jena, na Alemanha, segundo o qual os testes de
campo indicaram que genes transgênicos podem ser transferidos via pólen
transgênico para as bactérias e leveduras no intestino das larvas das abelhas.
(50)
20. O DNA da planta não se degrada facilmente durante a maior parte do
processamento comercial de alimentos. (51) Procedimentos como a moagem e o
trituramento de grãos deixaram o DNA em grande parte intacto, assim como o
tratamento térmico em 90deg.C. O processo da silagem mostrou pouca degradação
do DNA e um relatório especial do Ministério da Agricultura, Pesca e
Alimentação do Reino Unido desaconselha o uso de plantas geneticamente
modificadas ou de resíduos vegetais na alimentação animal.
21. A boca humana contém bactérias que se mostraram capazes de assumir e
expressar DNA nu que contém genes de resistência a antibióticos e bactérias
transformáveis similares estão presentes nas vias respiratórias. (52)
22. Verificou-se a transferência horizontal de genes marcadores de
resistência aos antibióticos de plantas GM bactérias e fungos do solo no
laboratório. (53) O monitoramento de campo revelou que o DNA da beterraba GM
persistiu no solo por até dois anos após a sua colheita. E há evidências
sugerindo que as partes do ADN transgênico podem ser transferidas
horizontalmente para as bactérias do solo. (54)
23. Pesquisas recentes na terapia de genes e vacinas de ácidos nucleicos
(DNA e RNA) deixam poucas dúvidas de que os ácidos nucleicos livres/nus podem
ser tomados, e, em alguns casos, incorporados ao genoma de todas as células de
mamíferos, incluindo os dos seres humanos. Os efeitos adversos já observados
incluem choque tóxico agudo, reações imunológicas tardias e reações
auto-imunes. (55)
24. A Associação Médica Britânica, no seu relatório provisório
(publicado em maio de 1999), pediu uma moratória por tempo indeterminado nas
libertações de OGM à espera de novas pesquisas sobre novas alergias, sobre a
disseminação de genes resistentes a antibióticos e os efeitos do DNA
transgênico.
25. No Protocolo de Biossegurança de Cartagena negociado com sucesso em
Montreal, em janeiro de 2000, mais de 130 governos concordaram em aplicar o
princípio da precaução, e em garantir que as legislações de biossegurança nos
níveis nacionais e internacionais têm precedência sobre acordos comerciais e
financeiros na OMC. Da mesma forma, os delegados da Conferência da Comissão do
Codex Alimentarius, em Chiba, no Japão, em março de 2000, concordaram em
preparar procedimentos regulamentares rigorosas para os alimentos geneticamente
modificados que incluem avaliação prévia à comercialização, monitoramento de
longo prazo dos impactos sanitários, testes de estabilidade genética, toxinas,
alérgenos e outros efeitos indesejados. (56) O Protocolo de Biossegurança de
Cartagena foi assinado por 68 governos em Nairóbi, em maio de 2000.
26. Pedimos a todos os governos para tomarem na devida conta as
evidências científicas já substanciais dos riscos reais ou supostos decorrentes
da tecnologia GM e muitos de seus produtos, e impor uma moratória imediata
sobre novas licenças ambientais, incluindo testes em campo aberto, de acordo
com o princípio da precaução, assim como dados científicos sólidos.
27. Estudos sucessivos documentaram a produtividade e a sustentabilidade
da agricultura familiar no Terceiro Mundo, bem como no Norte. (57) Evidências
do Norte e do Sul indicam que pequenas propriedades são mais produtivas, mais
eficientes e contribuem mais para o desenvolvimento econômico do que as grandes
fazendas. Os pequenos agricultores também tendem a cuidar melhor dos recursos
naturais, da conservação da biodiversidade e salvaguardar a sustentabilidade da
produção agrícola. (58) Cuba respondeu à crise econômica provocada pela ruptura
do bloco soviético em 1989 pela conversão de convencional para grande escala,
da alta monocultura de entrada para a pequena agricultura orgânica e
semi-orgânica, dobrando assim a produção de alimentos com a metade da entrada
anterior. (59)
28. As abordagens agroecológicas são uma grande promessa para a
agricultura sustentável nos países em desenvolvimento, combinando o
conhecimento agrícola local e técnicas ajustadas às condições locais com o
conhecimento científico ocidental contemporâneo. (60) Os rendimentos duplicaram
e triplicaram e continuam aumentando. Estima-se que 12,5 milhões de hectares em
todo o mundo já são cultivados com sucesso desta maneira. (61) É
ambientalmente saudável e acessível para os pequenos agricultores. Ela
recupera terras agrícolas marginalizadas pela agricultura intensiva
convencional. Ela oferece a única forma prática de recuperar as terras
agrícolas degradadas pelas práticas agrícolas convencionais. Acima de tudo, ela
capacita os pequenos agricultores familiares para combater a pobreza e a fome.
29. Pedimos a todos os governos para rejeitarem os transgênicos pela
razão de que são perigosos e contrários a um uso ecologicamente sustentável dos
recursos. Em vez disso, eles devem apoiar a pesquisa e o desenvolvimento de
métodos agrícolas sustentáveis que podem realmente beneficiar os agricultores
familiares em todo o mundo.
A carta aberta está publicada no sítio Ecocosas, 07-06-2014. A tradução
é de André Langer e é carta é assinada por 815 cientistas de 82
países, entre os quais estão:
Dr. David Bellamy, Biólogo e artista, Londres, Reino Unido;
Prof. Liebe
Cavalieri, Matemática Ecologista, Univ. Minnesota, EUA;
Dr. Thomas S. Cox,
geneticista, Departamento de Agricultura de EUA. (aposentado), Índia;
Dr.
Tewolde Egziabher, porta-voz para a Região da África, Etiópia Dr. David
Ehrenfeld, biólogo / ecólogo da Universidade de Rutgers, EUA.;
Dr.
Vladimir Zajac, Oncovirologista, Geneticista, Cancer Reseach Inst., República
Checa;
Dr. Brian Hursey, ex-oficial superior da FAO para as doenças
transmitidas por vetores, Reino Unido;
Prof. Ruth Hubbard, geneticista da
Universidade de Harvard, EUA. Prof. Jonathan King, biólogo molecular, MIT,
Cambridge, EUA.;
Prof. Gilles-Eric Seralini, Laboratoire de Biochimie y
Moleculaire, Univ. Caen, França;
Dr. David Suzuki, geneticista, David Suzuki
Foundation, Univ. Columbia Britânica, Canadá;
Dra. Vandana Shiva, física
teórica e ecologista, Índia;
Dr. George Woodwell, Diretor, Centro de Pesquisa
Woods Hole, EUA.;
Prof. Oscar B. Zamora, Agrônomo, U. de Filipinas, Los
Baños, Filipinas.
Notas:
1.
See World Scientists’ Statement, Institute of Science in Society website
2.
See Ho, M.W. and Traavik, T. (1999). Why Patents on Life Forms and Living
Processes Should be Rejected from TRIPS
– Scientific Briefing on TRIPS
Article 27.3(b). TWN Report, Penang. See also ISIS News #3 and #4
3.
James, C. (1998,1999). Global Status of Transgenic Crops, ISAAA Briefs, New
York.
4. Benbrook, C. (1999). Evidence of the Magnitude and Consequences of the
Roundup Ready Soybean Yield Drag from University-Based Varietal Trials in 1998,
Ag BioTech InfoNet Technical Paper No. 1, Idaho.
5. “Splitting Headache” Andy
Coghlan. NewScientist, News, November 20, 1999.
6. “Metabolic Disturbances in
GM cotton leading to fruit abortion and other problems”<">>';
document.write('http://www.fao.org/es/esd/at2015/toc-e.htm
10.
This is now admitted in an astonishing series of articles by Shereen El Feki in
The Economist (March 25, 2000), hitherto generally considered as a pro-business
right-wing magazine.
11. Farm and Land in Farms, Final Estimates 1993-1997,
USDA National Agricultural Statistics Service.
12. See Griffin, D. (1999).
Agricultural globalization. A threat to food security? Third World Resurgence
100/101, 38-40.
13. El Feki, S. (2000). Trust or bust, The Economist, 25 March,
2000.
14. Meikle, J. (2000). Farmers welcome £200m deal. The Guardian, 31
March, 2000.
15. Farm Aid fact sheet: The Farm Crisis Deepens, Cambridge, Mass,
1999.
16. US Department of Agriculture now holds two new patents on terminator
technology jointly with Delta and Pine. These patents were issued in 1999.
AstraZeneca are patenting similar techniques. Rafi communique, March, 2000
17.
Simms, A. (1999). Selling Suicide, farming, false promises and genetic
engineering in developing countries, Christian Aid, London.
18. “Let Nature’s
Harvest Continue” Statement from all the African delegates (except South
Africa) to FAO negotiations on the International Undertaking for Plant Genetic
Resources June, 1998.
19. Letter from Kilusang Mgbubukid ng Pilipinas to OECD,
14 Feb. 2000
20. Farmer’s Declaration on Genetic Engineering in
Agriculture, National Family Farm Coalition, USA, <">>';
document.write('http://plab.ku.dk/tcbh/PusztaiPusztai.htm>
38.
Pat Phibbs, P. (2000). Genetically modified food sales ‘dead’ In EU Until
safety certain, says consultant , The Bureau of National Affairs, Inc.,
Washington D.C. March 23, 2000.
39. See Ho, M.W. (1998,1999). Genetic
Engineering Dream or Nightmare? The Brave New World of Bad Science and Big
Business, Gateway, Gill & Macmillan, Dublin.
40. See Ho, M.W., Ryan, A.,
Cummins, J. (1999). The cauliflower mosaic viral promoter – a recipe for
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World Network, Jan. 2000, London and Penang
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57. See Pretty, J. (1995). Sustainable
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London; see also Alternative Agriculture: Report of the National Academy of
Sciences, Washington D.C., 1989.
58. Rosset, P. (1999). The Multiple Functions
and Benefits of Small Farm Agriculture In the Context of Global Trade
Negotiations, The Institute for Good and Development Policy, Policy Brief No.
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59. Mruphy, C. (1999). Cultivating Havana: Urban Agriculture and
Food Security in the Years of Crisis, Institute for Food and Development Policy,
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60. Altieri, M., Rosset, P. and Trupp, L.A.
(1998). The Potential of Agroecology to Combat Hunger in the Developing World,
Institute for Food and Development Policy Report, Oakland, California.
61.
Peter Rosset, Food First Institute."
segunda-feira, 2 de junho de 2014
Porque os empresários não gostam de Dilma
.
Coluna Econômica de Luis Nassif - 30/5/2014
O jornal "Valor Econômico" tentou entender a
razão dos empresários paulistas não gostarem de Dilma Rousseff. Entrevistou 15
deles. Não se trata de uma pesquisa científica, por refletir apenas a opinião
de quinze executivos de grandes empresas e por não informar sequer os segmentos
em que atuam. Mas é fidedigna.
Entre as críticas principais, o fato de Dilma ter deixado
de formular um projeto para o país; de ter nomeado uma equipe ministerial
medíocre; de ter centralizado as decisões tirando o poder dos Ministérios; de
ter abandonado as reformas estruturais.
***
Não se duvida de seu espírito desenvolvimentista. Tanto que
alguns deles temem que, com Aécio Neves, por exemplo, volte o padrão de FHC, de
não articular nenhum forma de política industrial. Mas a maioria demonstra
desconhecimento sobre o que pensam e o que fariam Aécio e Eduardo Campos.
***
Dilma tem, portanto, a vantagem (para esse meio) de
depender apenas dela para ganhar o jogo. É reconhecida como desenvolvimentista,
séria, patriota e bem intencionada. Mas com uma teimosia e uma insensibilidade
política tal, que gera ou desânimo ou revolta.
O último voluntarista que morou no Planalto foi Itamar
Franco. Apesar de um ser humano agradabilíssimo, um tio neurastênico e querido,
a irracionalidade de sua teimosia gerava um desânimo profundo.
***
Como as críticas contra ela não são de fundo, mas de forma,
esperar-se-ia que, mudando o estilo, Dilma pudesse ser melhor aceita. Mas o
dado mais desanimador da pesquisa é que apenas 3 dos 15 entrevistados acreditam
em um segundo governo Dilma melhor que o primeiro.
***
Esse mesmo sentimento de desânimo é compartilhado por
outros setores da sociedade e até mesmo pelos corpos técnicos do governo -
sempre dispostos a abraçar grandes causas legitimadoras. Até agora, Dilma não
deu o menor sinal de que entendeu as vulnerabilidades gerenciais de seu estilo
de governar.
Esta semana, por exemplo, assinou um conjunto de decretos
institucionalizando comissões de cidadãos para ajudar a opinar em temas ligados
às políticas sociais. Poderia ser um grande avanço para aprofundar a democracia
social.
Qual o significado desse gesto? Com toda sinceridade,
nenhum. Em momentos críticos, de desgaste, Dilma apelou recorrentemente para
encontros com empresários, sindicalistas e até líderes de movimentos sociais.
Mas foram encontros sem continuidade, como se bastasse a mera honraria de serem
recebidos pela Presidente da República para aplacar mágoas e desesperanças.
Esse método não cola mais.
Se quiser recuperar legitimidade, fazer renascer as
esperanças para um segundo mandato mais profícuo, Dilma terá que avançar muito
mais. Terá que dar mostras efetivas de que a Dilma racional conseguiu dominar a
fera teimosa que habita dentro dela. Que o voluntarismo, que a fez colocar em
xeque desde o modelo elétrico até políticas de inclusão de crianças com
deficiência, pertencerá efetivamente ao passado.
Terá que mostrar intolerância para com os auxiliares
medíocres, entender a necessidade de montar um Ministério com oficiais
generais, e não com cabos e sargentos que não sabem dizer não.
Email: luisnassif@ig.com.br
Blog: www.luisnassif.com.br
Portal: www.luisnassif.com
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CONSTITUIÇÃO E PODER
Paradoxos atuais e individualismo
sem limites pervertem a democracia
REVISTA CONSULTOR JURÍDICO 02.06, 02 de junho de 2014,
14:21h
Por Marco Aurélio Marrafon
Tempos paradoxais
Ao estudarmos as características da civilização atual,
aprendemos com Gilles Lypovetsky que os pilares da modernidade estariam
hipertrofiados, de modo que vivemos a época do hiperindividualismo, da
hiperciência e do hipermercado[1]. Contudo, de outro lado, considerável parcela
de pensadores contemporâneos defende leituras diametralmente opostas e postulam
a existência de uma crise da subjetividade e da racionalidade moderna, típicas
do que se denomina de período pós-moderno.
Assim, a filosofia e a ciência passaram a ser
caracterizadas pela complexidade e fragmentação, onde não mais subsiste uma
fundamentação metafísica clássica que dê conta do todo. Teria se instaurado um
ambiente niilista, no qual a verdade é uma metáfora do intelecto, perdendo sua
superioridade ante ao erro.
Nesse contexto, revela-se a impossibilidade de se
compreender o humano e explicar o mundo a partir de um único sistema
filosófico, de modo que as noções de provisoriedade, temporalidade e
comprometimento histórico do saber ganham força, mostrando que vivemos um
momento de crise ou de transição paradigmática, conforme terminologia
consagrada de Thomas Kuhn.
E os paradoxos multiplicam-se. Em época tão rica, propícia
para a criatividade e para a livre de produção de ideias, ou seja, para o
exercício da liberdade individual, a dissolução tecnológica da privacidade faz
com a essa liberdade sofra grande controle social. Ideias tidas como
inconvenientes são ridicularizadas. Reproduzem-se nas redes sociais mensagens e
“memes” linchando pessoas e queimando reputações. Vivemos em um país
democrático, mas professores dão aulas medindo palavras, temerosos com as
consequências de suas falas. Qualquer mal-entendido ou dissabor ofende e tem
potencial para gerar processo judicial. Dissolve-se a autorictas. Tudo é
permitido e nada é permitido. Justamente por ser tudo permitido, a ausência de
limites aniquila a liberdade do próximo.
Mundo sem limite
Na tentativa de entender esses fenômenos, os psicanalistas,
em especial Jean-Pierre Lebrun e Charles Melman, fazem o diagnóstico de que há
uma nova formação da economia psíquica, promotora de um mundo sem limite.
Na obra Um mundo sem limite — ensaio para uma clínica
psicanalítica do social, Lebrun explica que essa situação é oriunda da perda do
que se entende, em psicanálise, por figura do Pai (que não é necessariamente
pessoa física, mas antes o lugar do limite, a função da castração que, ao mesmo
tempo, institui a ordem psíquica do sujeito e fixa o desejo)[2].
Como decorrência, há um esvaziamento de autoridade que tem
proporcionado o que, segundo Melman, pode ser pensado como uma nova economia
psíquica, isto é, um modo egocêntrico de pensar, viver, trabalhar,
relacionar-se com a família e com as instituições sociais, assentado na
exibição do prazer, que é buscado a qualquer preço[3].
Ora, na leitura psicanalítica clássica, a formação do
sujeito se dá com a interdição/limite imposto pelo Outro, negatividade que gera
ausência e, ao mesmo tempo, desejo. Nesse processo, baseado no recalque, o
sujeito cresce e amadurece socialmente. Já a nova economia psíquica é
caracterizada por uma lógica que evita a subjetivação, o desprazer, abrindo o
primado das sensações sobre os limites sociais e, assim, inibe a formação para
a cidadania.
Em um mundo sem limites, qualquer forma de desprazer (ainda
que imediato, temporário e educativo) é rechaçada, pois importa o
gozo-espetáculo, o amor midiático e, para alcançá-lo, todos os meios são
permitidos, até mesmo o imbróglio, a fraude.
Nesse novo quadro, não há mais referenciais éticos que
direcionem as condutas das pessoas.
Uma democracia pervertida
No campo sociológico, o individualismo originado da perda
da subjetivação clássica gera um forte relativismo ético que se verifica no
pluralismo axiológico, multiculturalismo com grande diversidade nas
expectativas normativas e o reconhecimento geral do aumento da complexidade
sistêmica, formando um conjunto de fatores que consome a possibilidade de
tradições estáveis e impede a formação de uma imagem antropológica coerente do
homem atual[4]. Daí a resistência ao cumprimento de regras sociais básicas e o
excessivo egocentrismo de muitos que possuem grande dificuldade de lidar com o
“não”. “O céu está vazio” e “não há mais impossível”, diz Melman[5].
A partir desses pilares, a nova economia psíquica tem
levado a profundas consequências no modo de realizar a democracia. Na obra A
perversão comum — vivendo juntos sem o outro, Lebrum conclui que houve a morte
da sociedade hierárquica e, nesse contexto, o coletivo não serve mais à
castração, ao lugar do Outro. Operou-se, assim, a dissolução entre o singular e
o coletivo sem que houvesse novo substituo ao individualismo que ele
diagnostica como perverso[6].
Perverso porque, conforme suas palavras, “a perversão é uma
estrutura psíquica que visa essencialmente à satisfação. Ela se serve do outro,
sem perguntar o ponto de vista, se estar de acordo, o que quer que seja. Ela
desmente também a diferença de sexo ou de geração. Esse é o perverso doente.
Mas hoje existe essa noção de perversão que pode também designar sujeitos sem
serem doentes, mas organizados por este funcionamento. Trata-se de uma
tendência, sem que haja uma patologia” (disponível neste link).
Forma-se, assim, o neosujeito que, ante ao vazio da
existência e a ausência de limites, busca grande quantidade de sensações
intensas, aderindo de maneira incontrolável à lógica do consumo (da
ostentação?).
Essa conduta, uma vez generalizada, ocasiona a perversão
comum que solapa as possibilidades de uma democracia forte, já que, com o
esfacelamento do coletivo, prevalece o espírito de facção, a defesa irrestrita
de próprios interesses, por mais fugazes e imediatos que sejam. Eis uma das
chaves da intolerância, da indiferença com as vítimas do sistema, da
negação/encobrimento do diverso/diferente. Uma democracia em que se vive junto,
sem o outro.
Todavia, essa tensão com o outro é inevitável e
imprescindível para uma democracia saudável. Não há possibilidade eficaz de
representação legítima em uma sociedade hiperfragmentária formada por
neossujeitos, com plena dificuldade de aceitar regras.
Como consequência promove-se grave crise de legitimidade
nas instituições e torna-se bastante problemática a adequação das convicções
individuais a sistemas normativos gerais, que perdem legitimidade em função da
distância entre “ser” e “dever-ser”.
Sem referenciais éticos e limites compartilhados
socialmente, prevalece o individualismo — correto é fazer aquilo que eu
acredito que seja correto — donde a grande dificuldade da imposição de normas,
seja ela a reprovação por insuficiência no rendimento acadêmico, a proibição de
se espancar mendigos ou atear fogo em índios ou mesmo a compreensão de que
direitos fundamentais também admitem restrições e que, não é porque se tem uma
boa causa, que grupos minoritários podem fazer tudo que desejam, causando
transtorno e prejuízos a milhares de pessoas.
Daí o desafio da era contemporânea: fazer com que o sujeito
encontre seus limites e reconheça seu laço com o coletivo a partir de sua
singularidade e sem recorrer à tradicional estrutura hierárquica. É o que
Lebrun chama de uma nova responsabilidade sujeito — com os outros, sem perversão
— pois a responsabilidade apenas será eficaz se comprometida com a dimensão
coletiva e a subjetividade do próximo.
Nesse processo, penso que a reconstrução da legitimidade
normativa e o resgate da importância de se observar regras gerais é um
sofrimento que não pode ser dispensado.
[1] LIPOVESTSKY, Gilles. Os tempos hipermodernos. Trad.
Mário Vilela. 2 reimp. São Paulo: Barcarolla, 2005.
[2] LEBRUN, Jean-Pierre. Um mundo sem limite. Ensaio para
uma clínica psicanalítica do social. Trad. Sandra Regina Felgueiras. Rio de
Janeiro: Companhia de Freud Editora, 2004.
[3] MELMAN, Charles. O Homem sem gravidade: gozar a
qualquer preço - Entrevistas por Jean-Pierre Lebrun. Trad. Sandra Regina
Felgueiras. Rio de Janeiro: Companhia de Freud, 2006.
[4] VAZ, Henrique Cláudio Lima. Escritos de Filosofia II:
ética e cultura. São Paulo: Loyola, 1988. p. 169.
[5] MELMAN, Charles. Op. cit., p. 16-17.
[6] LEBRUN, Jean-Pierre. A perversão comum. Viver juntos
sem outro. Trad. Procópio Abreu. Rio de Janeiro: Companhia de Freud Editora,
2008.
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Marco Aurélio Marrafon é presidente da Academia Brasileira
de Direito Constitucional – ABDConst, Professor de Direito e Pensamento
Político na Universidade do Estado do Rio de Janeiro – UERJ e Advogado.
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