Isaac Roitman é um cirurgião-dentista que nunca arrancou um dente ou fez qualquer cirurgia profissionalmente. E não tem vergonha disso. “Toda família judia quer ver o filho doutor, preferencialmente, médico. Para fazer a vontade dos meus pais, fiz vestibular para medicina, mas tomei pau. Decidi fazer vestibular para odontologia, que é um doutor também, né?! Passei, mas fui estudar sem nenhuma vocação para mexer na boca de alguém”, conta. De fato, ele se tornou doutor, só que anos depois. Doutor em microbiologia, chefe de departamento, decano, professor emérito da Universidade de Brasília (UnB). Um dos mais respeitados nomes da instituição candanga, que completa 55 anos em 21 de abril.
Roitman nasceu em 1939, em Santos (SP), onde morou até completar os estudos secundários. Cursou odontologia na Pontifícia Universidade Católica de Campinas (SP), de 1959 a 1962. Durante esse período, ele se interessou pela microbiologia. “Um professor me encantou.” Tanto, que decidiu dedicar a vida ao estudo do tema. Em 1963, mudou-se para a capital carioca, para fazer o curso anual de especialização em microbiologia no Instituto de Microbiologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Foi convidado a fazer doutorado no Laboratório de Fisiologia Microbiana. Conquistou o título de doutor em 1967. A partir de então, casado, fez vários estágios no exterior para acumular conhecimento.
Nesse ínterim, Roitman deu início à carreira profissional, em 1964, na UFRJ. Depois, tornou-se professor-assistente — cargo que ocupou até 1969 — e professor adjunto da mesma universidade, de 1969 a 1974. Apesar de todas as belezas sedutoras do Rio, ele estava insatisfeito com a vida que levava na cidade. “Morava longe da universidade. Perdia muito tempo no trânsito. E, quando via, de dentro do meu Fusca, todo suado, aquelas mulheres bonitas indo para a praia enquanto eu ia para o trabalho, eu me sentia muito mal”, conta, bem-humorado. À época, passou em um concurso para professor em Londrina, no Paraná, e recebeu convite para dar aulas na recém-criada Unicamp. Mas uma terceira opção o atraiu mais.
Novo desafio
Professores da UnB queriam retomar os ideais de Darcy Ribeiro, o criador da universidade, que pretendia romper com o modelo de ensino superior vigente no país. O golpe militar de 1964, porém, interrompeu o plano. Darcy foi expulso da UnB, assim como outros professores e alunos que o regime ditatorial tinha como inimigos. “Disseram que eu poderia implantar o Laboratório de Microbiologia e ainda trazer a minha equipe do Rio de Janeiro, incluindo a minha mulher (Celina), também professora”, recorda. Roitman ingressou na UnB em 1972, como professor adjunto visitante. Assim permaneceu até 1974, quando ainda trabalhava na UFRJ. “Naquele ano, tive que me decidir. Não aguentava mais o ritmo. Fiquei com a UnB”, conta. Já como professor titular, ganhou aumento salarial e o direito a morar em um apartamento na Colina, o bairro dos professores, no câmpus Darcy Ribeiro.
Além do laboratório, Roitman ajudou a criar o primeiro curso de biologia molecular do país. “Era isso que me movia. O espírito de inovar, fazer uma universidade diferente, recuperar o sonho de Darcy. Estávamos semeando esse ambiente”, frisa o professor. Ainda na UnB, ocupou o cargo de diretor do Centro de Estudos Avançados Multidisciplinares (1986) e de decano de pesquisa e pós-graduação (1985-1989). Mas, por medo de uma alardeada reforma na Previdência Social, Roitman decidiu interromper o trabalho no laboratório e se aposentar como professor titular, em 1995. Mas não parou de pesquisar, experimentar, enfrentar desafios.
Reencontro com Darcy
A convite de Darcy Ribeiro, assumiu a direção do Centro de Biociências e Biotecnologia da Universidade Estadual do Norte Fluminense. “O Darcy queria fazer lá o que havia sonhado para a UnB. E me disse que eu tinha total liberdade. Chegou a dizer: ‘Roitman, vá lá e faça o que quiser. Não siga nenhuma lei do MEC. Deixa que eu me acerto com eles”, lembra. Ele permaneceu na função em 1995 e em 1996, até receber novo convite. Dessa vez, para assumir várias chefias na Universidade de Mogi das Cruzes, onde, de 1997 a 2012, foi diretor de pesquisa e pós-graduação, pró-reitor acadêmico e reitor. Nesse período, exerceu outras funções, trabalhando e morando no interior de São Paulo e em Brasília.
Em sua carreira, o professor Roitman também participou ativamente de várias sociedades científicas. Entre outros, integrou o Conselho da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), tendo coordenado o Grupo de Trabalho de Educação da entidade (2008-2012). Presidiu a Sociedade Brasileira de Protozoologia (1993-1994) e foi vice-presidente da entidade (1995-1997). Ainda fez parte da Comissão Internacional de Protozoologia (1994-1997). Em 1994, foi indicado como coordenador do comitê biomédico do Conselho de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).