segunda-feira, 10 de novembro de 2014
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Pessoas criativas mudam-se mais vezes- VALOR 07/11
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Dafnis Prieto, baterista e compositor, um dos que
receberam o prestigioso Prêmio MacArthur em 2011, saiu de casa para atender a
uma escola de música em Santa Clara, Cuba, quando tinha apenas 10 anos. Aos 14,
ele foi morar sozinho na capital, Havana. Aos 23, Prieto mudou-se para a
Espanha. Um ano depois, para o Canadá. E aos 25, para Nova York.
Talvez o leitor ache o rapaz um talento precoce e
só, mas sua história guarda outra particularidade. Estudo recém-divulgado pela
própria Fundação MacArthur traz um dado bastante curioso. Os ganhadores do seu
prêmio têm pelo menos uma coisa em comum: eles se mudam bastante.
Dos 701 indivíduos nascidos nos Estados Unidos que
ganharam o prêmio - uma bolada de US$ 625.000 durante um período de cinco anos
-, 79% estavam morando num Estado diferente daquele onde nasceram no momento da
premiação. De acordo com dados recentes do censo americano, cerca de 30% da
população geral e 42% da população com nível superior mora fora do Estado onde
nasceu.
Para neurologista, a criatividade requer que se
veja o mundo de diferentes pontos de vista
Já cerca de 25% dos ganhadores do MacArthur são
como Prieto - nasceram fora dos Estados Unidos. E isso apesar de o prêmio só ser
dado para cidadãos americanos. O historiador Anders Winroth nasceu na Suécia e
estava dando aula na Yale University em Connecticut quando o ganhou, 2003. O
economista Raj Chetty nasceu na Índia, mas trabalhava em Massachusetts quando
foi premiado, em 2012. A física Ana Maria Rey nasceu na Colômbia, fez seu
doutorado em Maryland e estava morando em Colorado quando recebeu o MacArthur,
em 2013.
Esses dados foram publicados num estudo. Sua
autora, Cecilia A. Conrad, não chega a estabelecer conclusões entre mudança e
criatividade e na verdade questiona quem vem primeiro: "As pessoas
supercriativas mudam mais que outras ou é a mudança que torna as pessoas mais
criativas?", indaga no texto.
Prieto acha que a resposta é os dois. "Acho
que criatividade está ligada a curiosidade e coragem. Pessoas criativas estão
sempre buscando novos caminhos", diz. "Mas, no meu caso, eu também me
mudei para melhorar. Você pode criar algo mágico, mas de que serve isso se você
está num lugar onde não há ouvidos ou olhos para apreciar?"
Kenneth M. Heilman, professor do departamento de
neurologia da Universidade da Flórida e especialista em criatividade, concorda.
Ele explica que uma das razões por que pessoas criativas mudam mais é porque,
para ser criativo, você precisa ver o mundo de diferentes pontos de vista.
Além disso, comenta, as pessoas são mais criativas
quando estão relaxadas: "Frequentemente as pessoas mudam de onde estão
porque o ambiente onde vivem não é ideal ou propício à criação".
O estudo da MacArthur também menciona oportunidades
econômicas como uma das razões pelas quais as pessoas se mudam. Cientistas
tendem a se concentrar perto de universidades e áreas com empresas de
tecnologia, por exemplo, como Massachusetts e Califórnia. Artistas tendem a
gravitar por Nova York, Los Angeles e San Francisco. "Nova York é um lugar
para fazer muitas conexões e conseguir muito trabalho", confirma Prieto.
Mesmo na cidade de Nova York, Prieto mudou de
apartamento cinco vezes. E agora está considerando mudar-se para uma cidade menor,
nas redondezas. O estresse de colocar tudo dentro e fora de caixas e de
recomeçar em um novo bairro não o assustam. Para Prieto, os altos e baixos da
vida ajudam e criam potenciais para a criatividade também.
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